FASCINAÇÃO

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  Abril de 1983. O sol se as semelhava a um deus guerreiro, lançando as suas chamas que aqueciam as moradas dos mortais, como dar dos flamejantes que ameaçavam as vidas dos homens. Fazia intenso calor naquele dia, quando o senhor Erasmino se dirigia para seu escritório na avenida Paulista, que, nesse momento, regurgitava de gente, com seu trânsito infernal, desafiando a paciência daqueles que se julgavam possuidores de tal virtude. 

Desde muito cedo sentira estranhas sensações que não sabia definir, embora houvesse gastado seu precioso fosfato na tentativa inútil de encontrar explicação para os entimento esquisito, para as impressões que tentavam dominá-lo. Nunca se sentira desta forma e confessava a si mesmo que algo incomodava sobremaneira. 

Quando sua mãe o aconselhou a rezar antes de sair, acabou ignorando-a, pois a velha, acostumada com certas posturas místicas, não fazia lá seu gênero. A pobre mãe tentara de todas as formas convencer o filho desnaturado a se deter um pouco para conversar, para trocarem algumas impressões. Ele recusou terminantemente, alegando a escassez de tempo, em vista das atividades profissionais. 

A cabeça parecia rodopiar com a sensação de tontura que o dominava aos poucos. Eram impressões novas, diferentes daquelas consideradas normais até então. Parecia pressentir vultos em torno de si, mas, não conseguindo precisar exatamente o que acontecia, tentou mudar de pensamento, em vão. Começou a suspeitar que estava ficando louco ou, pelo menos, sofrendo de algum problema neurológico, tais os sintomas que detectava em si. 

Já fazia algum tempo que não conseguia dormir direito, parecia acometido de pesadelos e passava a noite acordado, sendo obrigado, pela manhã, a tomar algum medicamento, para conseguir trabalhar direito. 

Sintomas de melancolia aliados a depressão sucediam-se o completavam-se para estabelecer o clima psíquico adequado para a sintonia com mentes desequilibradas. 

Erasmino foi-se desgastando psicologicamente pelo incomodo que sofria. Procurou médicos e psicólogos, gastando muito dinheiro em tentativas que se provaram inúteis em seu caso particular. 

Aos poucos foi-se achando perseguido pelos colegas de trabalho. Em todos via adversários gratuitos que, segundo suas suspeitas, o espreitavam para tentar de alguma forma e por motivo ignorado se livrar dele, tomar o seu lugar no emprego ou intervir em sua vida. 

A psicose foi a tal ponto que mesmo em relação aos familiares pensou sofrer perseguição. Não adiantavam os conselhos da mãe, e as sessões com o psicólogo já haviam terminado, sem se obter algum resultado mais definido. 

Seguindo o conselho de "amigos", começou a freqüentar lugares de suspeita moral, entediando-se com as aventuras sexuais, que, de pronto, tornaram sua vida um tormento ainda maior. Foi justamente a partir de tais aventuras que a problemática começou apiorar. 

_ Erasmino! Erasmino! 

Eram sussurros. A princípio distantes e depois mais constantes, em casa, no trabalho ou nas tentativas de diversão. 

A noite parecia ouvir vozes que chamavam pelo seu nome. O desespero aumentou quando, determinado dia, ao levantar-se, deparou com um vulto de homem prostrado à entrada de seu quarto. A visão se apresentava aos seus olhos estupefatos como sendo de um senhor idoso, todo envolto em roupas esfarrapadas e apresentando os dentes podres, em estranho sorriso emoldurando o rosto. Percebeu ainda, antes de desmaiar, o mau cheiro que exalava da estranha aparição, causando-lhe intenso mal-estar. 

Entre imagens de pesadelo e da realidade, pôde perceber-se em ambiente diferente de onde se encontrava o seu corpo físico. Parecia algo familiar. Não era tão desagradável na aparência, aquele lugar. As impressões estranhas que sentia vinham de algo que pairava no ambiente, talvez da atmosfera local. 

TAMBORES DE ANGOLAWhere stories live. Discover now