Dirigimo-nos para o lar de Francisco, um dos médiuns que iríamos recrutar para as tarefas da noite. A noite estava belíssima e o ar balsamizante trazia fluidos da natureza, transportados pela brisa suave. Arnaldo, os guardiões e eu encontrávamo-nos em frente a uma residência modesta, de aspecto agradável, onde adentramos com o máximo respeito. Os guardiões ficaram do lado de fora formando uma corrente de energia no local, para proteger o médium quando estivesse em desdobramento. Francisco ainda estava acordado, lendo um livro na sala quando chegamos. Arnaldo após aplicar-lhe um passe na região frontal, fez-se visível a ele através da vidência e comunicou-lhe o que estava acontecendo, a nossa necessidade de ajuda para caso em que estávamos envolvidos. Francisco dirigiu-se imediatamente para o quarto de dormir e após breve prece, colocou-se á disposição para o trabalho.
Arnaldo aproximou-se de Francisco e ministrou-lhe um passe magnético no córtex cerebral e outro ao longo da coluna promovendo o seu afastamento do veiculo físico. Pude notar que, ao afastar-se do corpo em desdobramento, no plano extra-físico, Francisco espírito possuía a faculdade de vidência. Registrava-nos a presença com naturalidade e com desenvoltura apresentou-se a mim, colocando-se à disposição como se estivesse acostumado a tais "saídas" conscientes. Era o fenômeno da viagem astral, como é conhecido nos meios espiritualistas.
_ Boa noite, companheiros - falou Francisco apresentando-se a mim. –Acredito que devamos nos dirigir imediatamente para a tarefa, não é mesmo? Mas peço-lhe Arnaldo, por gentileza que me dê às orientações devidas; afinal você não me avisou com antecedência. Preciso saber os detalhes sobre o caso e como posso ser útil.
Arnaldo deu um sorriso de satisfação e abraçando Francisco foi lhe colocando a par da situação.
Saímos da residência de Francisco, onde ficou de plantão um dos guardiões, para qualquer eventualidade, pois era necessário proteger o corpo do médium de qualquer investida de espíritos infelizes. Quando saímos pude ver o trabalho que foi realizado em voltada residência. Envolvendo a casa, uma coluna de energia que mais parecia uma cortina de fogo, estava formando um manto protetor que, com certeza não poderia ser rompido por entidades levianas ou espíritos maldosos. Enfrente ao portão de entrada mais duas entidades que não avistara antes estavam de guarda, auxiliando um dos guardiões que viera conosco.
Estranhei todo aquele aparato e antes que perguntasse a Arnaldo ele foi logo falando:
_ Em tarefas desta natureza principalmente quando o medianeiro estiver em desdobramento, é natural que protejamos o seu veiculo físico com os cuidados necessários, pois qualquer dano causado ao seu corpo irá repercutir no perispírito e, se a tarefa for realizada em regiões mais inferiores é de se esperar qualquer tentativa de entidades sombrias para impedir sua realização. Igualmente, o médium desdobrado deverá contar com aassistência de uma equipe consciente e responsável deste lado de cá da vida; afinal estamos no trabalho do bem e devemos nos preservar de possíveis interferências nas atividades.
Aproveitando o ensejo criado pelas elucidações de Arnaldo, desejei saber a respeito do desdobramento ou viagem astral e de como Francisco tinha consciência do que se passava deste lado.
_ Será que todos os médiuns que se desdobram tem consciência disto?
Sorrindo Arnaldo falou:
_ Podemos afirmar que nem todos se igualam no que concerne à manifestação do fenômeno mediúnico. A consciência deste lado de cá não é possibilidade de todos. Como Allan kardec escreveu em O Livro dos Médiuns, a mediunidade é orgânica. Podemos entender isto da seguinte forma: quando o espírito reencarna com determinada tarefa a desempenhar com relação à mediunidade, o seu perispírito passa a ser submetido a uma natural elevação da freqüência vibratória e por conseguinte, o próprio corpo físico, que reflete as vibrações perispirituais também é elaborado com vista às tarefas que desempenhara no futuro, no que se refere à mediunidade com Jesus. Dessa forma podemos entender que aquele que é preparado para trabalhar tendo inconsciência do fenômeno, dificilmente poderá modificar essas disposições, pois seu organismo foi preparado para tal. Igualmente aquele que foi preparado vibratoriamente para ter a consciência deste lado da vida, quando desdobrado, haverá de manifestar esta consciência no momento propicio quando seus mentores julgarem necessário, pois traz impressas em seu perispírito as vibrações necessárias que o habilitarão á consciência nas regiões espirituais. Mas isso tudo ainda é relativo, pois o homem atual ainda se conserva despreparado para certas tarefas e muitas vezes, estar consciente poderá dar ensejo a dificuldades maiores, devido 'a falta de preparo de muitos que se candidatam ao serviço. No caso de Francisco, é um velho conhecido nosso de tarefas semelhantes; procura estudar sempre e conservar-se ocupado em tarefas nobres e elevadas. Isto facilita-nos o trabalho, mas não quer dizer que quando ele retornar ao corpo denso irá lembrar-se de tudo, não! Não há necessidade disto. É bastante que desempenhe as suas tarefas com amor e dedicação. A maioria das pessoas hoje em dia aguarda obter experiências com viagens astrais para se convencerem de que a vida continua além da matéria.
Esperam com isso poder fazer viagens mirabolantes a mundos diferentes, criando uma expectativa que possivelmente nunca irá se concretizar. Querem fazer viagens fora do corpo, mas isso acontece todas as noites quando dormem e mesmo que pudessem realizar tal feito conscientemente, de que adiantaria? Ainda não aprenderam a realizar a viagem para dentro de si mesmos, para se conhecerem; a viagem do auto descobrimento, como é da proposta do Espiritismo. Precisam aprender a fazer a viagem da vida, de suas vidas com dignidade e equilíbrio; do contrario continuarão perdidos sem se conhecerem e sem conhecerem as leis da vida. Há muita conversa em torno disto e o bom mesmo seria que quem quisesse conhecer mais sobre o assunto se reportasse aos escritos de Allan Kardec. O que hoje se imagina mais atualizado a respeito dessas e outras coisas referentes às questões do espírito não passa de adaptação do que dizem os escritos de Kardec. Apenas trocaram os nomes para dar sabor de novidade. O problema humano segue sendo sempre o mesmo.
_ Mas como trocaram o nome? – aventurei-me
_ Basta observar, Ângelo. Ao fenômeno mediúnico tão conhecido e explicado pela Doutrina Espírita, os autores modernos apenas para se dizerem diferentes, deram o nome de "channeling" e aos médiuns denominaram canais. Aos espíritos deram o nome de consciências extrafisicas; o termo "encarnado" foi substituído em alguns casos por "intrafisicos". O fenômeno de desdobramento tão conhecido desde épocas remotas e classificado por Allan Kardec, hoje recebe vários apelidos, como projeção da consciência, bilocação da consciência, viagem astral e outros nomes estranhos que o homem não cansa de criar, tentando passar a idéia de que são coisas diferentes, pois o seu orgulho não lhes deixa admitir que a universalidade do fenômeno e seus desdobramentos no psiquismo humano de há muito foram catalogados pela Doutrina Espírita e se encontram atualíssimos em o Livro dos Médiuns, que constitui o mais moderno tratado de ciências psíquicas da humanidade. Mudam apenas os nomes, mas o fenômeno continua sendo o mesmo.
Entendi o exposto e fiquei imaginando como o homem complica as coisas de tal modo que passa a ser vítima de si mesmo, emaranhando-se em conceitos tão confusos que ele mesmo não sabe como sair deles.
A conversa estava mesmo interessante, mas a nossa equipe, acrescida da presença de Francisco, dirigiu-se ao lar de Otávio, outro médium que Arnaldo conhecia e que poderia ser-nos útil na tarefa. O procedimento se realizou da mesma maneira, com a formação de um campo de força em torno da residência do companheiro encarnado enquanto o outro guardião se colocava de prontidão para a proteção do corpo físico de Otávio que desdobrado, vinha para o nosso lado auxiliar nas tarefas da noite.
Dirigimo-nos todos para a tenda, onde nos aguardavam os amigos espirituais Euzália e Anselmo com o espírito de Erasmino desdobrado pelo sono físico.
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