Prólogo

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Taehyung

Um fotógrafo nunca se esquece da primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma fotografia. Ou de quando pedem para tirar uma foto de qualquer obscenidade humana. De sentir o doce veneno escorrer pelos dedos quando captura perfeitamente o momento da dor de alguém. E da vaidade consumi-lo quando seu nome aparece impresso em uma miserável revista.

Minha primeira experiência ocorreu quando Haneul Lee me elogiou para um chefe de uma revista que veio a falir anos depois, fui chamado para mostrar minhas melhores fotografias. Ele escolheu uma qualquer com seu dedo fino e longilíneo, alegando que ela estaria em uma das páginas de sua revista em alguns dias. Ganhei alguns trocados. Nada que realmente me fizesse ser um milionário ao vender minha arte, porém fiquei satisfeito quando, mais tarde, vi a cópia dela em uma das páginas, quase transparente ao ficar do lado de uma modelo já conhecida pela região. Yuhi Kuang? Não me lembrava exatamente o nome, entretanto era uma mulher de beleza inigualável e um sorriso hermético sedutor. Yuhi, todavia, não era meu padrão de mulher ideal. Não pela sua aparência, a qual era encantadora.

Para ser sincero, meu padrão de mulher sempre foi Hanuel Lee. Uma jovem de cabelos curtos e de sorriso afável com um brilho indecifrável nos olhos âmbares, algo que misturava inocência com sua expressão de esgar. Uma pele pouco mais morena e um corpo que não se aproximava ao extremo da magreza. Os ossos da face proeminentes e uma voz baixa, doce. Haneul me fez ficar apaixonado por ela ao som de suas primeiras palavras dirigidas a mim. Um simples "oh, desculpe-me por derrubar café fervente nas suas calças e parecer que você mijou". E com aquelas palavras, vi-me caído pela tentação de convidá-la a sair comigo quando ela tivesse um tempo livre.

Por incrível que pareça, Haneul aceitou logo na minha primeira tentativa. Ela exibia um sorriso beatifico enquanto anotava o número de seu celular em um pedaço de guardanapo. Se eu ainda tiver sorte, o papel ainda deve estar guardado em uma das minhas gavetas.

Eu era do tipo do cara esquisitão ao estilo de um vovô. Gostava de me ver arrumado e perfumado com uma fragrância francesa. Eu era também um típico mauricinho: apreciava com uma malícia embutida no olhar ao ver a surpresa estampada no rosto de Haneul quando a levava em restaurantes diversificados, enquanto sentia cada vez o dinheiro sumir de meus bolsos.

Alguns meses depois de ter começado meu trabalho na empresa do pai dela, que tive a curiosidade de saber em algum momento, fui bombardeado por resmungos e correções do meu chefe, ele dizia as coisas como se eu não estivesse ali. Haneul, em segredo, aproximou-se de mim e sussurrou ao pé do meu ouvido que o pai dela era legal, no entanto, às vezes explodia. Naquele mesmo dia, eu a encontrei no terraço abraçando os próprios joelhos e parecia absorta demais em seus pensamentos para me reparar na soleira da porta. Sua imagem me pareceu onírica e, portanto, tirei uma fotografia sua em silêncio.

— "Taehyung?" — ela sussurrou. Os olhos assustados me cortaram, deixei a fotografia escapar pelos meus dedos quando sua imagem sob a luz do crepúsculo era quase uma pintura de Renoir. Haneul se levantou e pegou com a ponta de seus dedos a foto, escrutinando sua imagem. — "Você me fotografou.".

Eu assenti. Mordi o lábio inferior na expectativa de que ela rasgasse a fotografia e a jogasse no chão, mandando-me embora daquele prédio. Entretanto, Haneul sorriu e depositou a foto na minha mão, fechando-a com cuidado e deixando sua mão sobre a minha.

E foi assim que começamos nosso romance efêmero.

Fotografia DesbotadaOnde histórias criam vida. Descubra agora