Capítulo XXV. Relutância

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Youra

A claridade infiltrada pela cortina de tecido fino se direcionou em meus olhos, acordando-me de um profundo sonho, o qual já entremeavam teias ininteligíveis. Como se fosse acoplada à minha cama, girei meu tronco com a finalidade de me aconchegar entre a coberta. Uma réstia amarela de luz conseguiu penetrar por entre as camadas da manta e me alertou que eu deveria me levantar, portanto, impulsionei meu corpo para fora do acolchoado e instantaneamente me amaldiçoei por ter esquecido a época de inverno que cobria a cidade de Seoul.

Calçando um par de pantufas para me abrigar do gélido da madeira do chão, dirigi-me aos tropeços até a cozinha do apartamento. Tornando minha visão nítida, pude enxergar a cena cômica que se construiu: na sala equipada com um sofá de cor grená, jazia encolhido um Yoongi que tremia de frio e um semblante contorcido em um pesadelo.

Sabendo o resultado de sua estadia em meio às almofadas, que, de maneira infrutífera, o homem tentava se aquecer ao posicioná-las pela extensão de seu corpo, eu soltei uma risada baixa, inaudível, e me encaminhei novamente para meu quarto, arrastando minha coberta para aquecer Yoongi.

Com o repentino ato que lhe trouxe um peso a mais, ele piscou algumas vezes seus olhos que insistiam em permanecer fechados. Aproximei-me dele ao encaixar as almofadas em suas costas para ele se sentir mais confortável.

— So Ah o expulsou do quarto de novo? — Sussurrei e ele assentiu com a cabeça, meio sonolento.

— Ela ronca mais que o meu pai e é espaçosa demais para alguém daquele tamanho. — Seu tom rouco foi quase um processo falho em tentar decifrá-lo.

Apalpei seu ombro na tentativa de compreendê-lo e me encaminhei para a cozinha, aquecendo uma quantidade generosa de água em uma chaleira. Encostada à bancada branca, permiti-me perder mais uma vez em minhas reflexões.

Cinco anos se passaram desde minha formatura.

Em cinco anos, minha vida mudara drasticamente.

Com a aprovação de So Ah em Farmácia na mesma universidade que eu, decidimos nos acolher em um apartamento graças ao financiamento dos pais dela junto ao da minha mãe, que, curiosamente, passou a ser uma peça fundamental em minha vida nos últimos anos. A minha mudança para a capital sul coreana possibilitou a venda da nossa antiga casa e ela começou a investir no apartamento de dois quartos que encontramos próximo ao centro.

Devido à minha afinidade construída nos tempos mais insalubres, Jungkook e Yoongi se tornaram grandes amigos meus e, consequentemente, chegou a um momento em que o interesse entre So Ah e o conselheiro principal da empresa se converteu para algo recíproco e em poucas semanas eles completariam sete meses de namoro.

Em contrapartida, Hoseok se transferiu para Busan, local onde passou a cursar Engenharia Civil e, por conversas ou outras, contou-me que era o principal aluno de sua turma, havendo um grande destaque para quando passou a lecionar dança em seu tempo livre. Hoseok sempre foi uma caixa de surpresas otimista, e não me surpreendeu quando disse que ainda mantinha um relacionamento amoroso com Mi Hee, que foi admitida em uma faculdade distinta a de meu amigo, contudo, sua locação continuava em Busan.

Jimin foi promovido como presidente da empresa Park, em um discurso que trouxe um grande rebuliço por parte de meu pai, que foi pego de supetão ao ter a declaração verbal de meu primo quando chegou ao palanque do auditório empresarial com um sorriso finório modelado em seu rosto.

Gostaria de agradecer ao senhor Park por ter me proporcionado tamanha oportunidade ao me escolher para esse cargo. — Jimin dizia ao me encarar nos olhos. — Foram tempos de ensino e, acima de tudo, de medo, pois sempre foi empregado o discurso tradicional nessa empresa que, mesmo voltada à cultura, abriga as maiores intolerâncias. — Ele pigarrou e meu pai lhe direcionou um olhar estarrecido. — Afinal, eu não sou filho de Park Hyun, apenas um sobrinho. Sua filha, Park You Ra, sempre viveu em minha sombra e sempre foi ofuscada pelo simples fato de ser mulher. — Respirou profundamente e fechou os olhos ao ampliar seu sorriso sagaz. — Porém, acho que tio Hyun se arrependerá de ter me visto como um prodígio da família ao saber que em breve me casarei com meu ex-secretário, Jeon Jung Kook, e que nos encontrávamos às escondidas na sala de limpeza há cinco anos. Tenha uma boa viagem para Lyon, titio! Au revoir!

Fotografia DesbotadaOnde histórias criam vida. Descubra agora