Capítulo XIII. Hesitação

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Youra

Taehyung e eu passamos a noite em claro. O medo de Jae Hwa em voltar à minha casa ainda reverberava em meu interior, mesmo que Taehyung me confortasse me dizendo que ele não iria mais. Entretanto, o pensamento se anuviava quando, cansados de ficarmos sentados, decidimos nos deitar na cama e ficar admirando o céu noturno.

Não era necessário trocar nenhuma palavra, o conforto do silêncio fizera tanto a mim quanto a Taehyung uma música sem instrumento. Seus dedos traçavam linhas invisíveis em meus braços e rosto, demorando o carinho em meu cabelo, que o alisava com o indicador.

O sentimento que transcorria entre nós dois era recíproco e descobri quando suas palavras de alento mostraram sua dor mais do que ele queria. Nós, de certa maneira, desaprendemos o que era amor e eu esperava que pudéssemos redefini-lo em nossas palavras.

Com as horas mantendo nosso contato constante, descobri mais peças de Taehyung do que poderia imaginar. Sua singularidade não estava apenas na fotografia, mas, também, na sua falta de palavras que revelava seus verdadeiros sentimentos. Eu aprendia mais sobre ele em seu silêncio do que em suas palavras.

Em um momento na madrugada, eu me mexi sob seu contato, fazendo-o despertar de bucólicas meditações.

Você disse que parou de fotografar — comecei a dizer e mantendo seu antebraço como uma alavanca, Taehyung apoiou seu peso sobre ele, encarando-me por cima na cama. —, então, por que você queria consertar sua câmera fotográfica naquele dia?

Seus olhos ébanos desviaram dos meus e mirou longamente o despontar da manhã no horizonte. Em um simples sussurro, soube que havia uma ínfima parte que ele preferiu ocultar: — Ela era a minha preferida.

Ao passo de que um lado diáfano e acolhedor de Taehyung estava submergindo, era perceptível a incerteza que percorria em seu corpo. Das palavras mais sinceras e baixas até seus movimentos, os quais, por vezes, hesitava em tocar em minha pele. Como se eu passasse a imagem de Haneul, ele me encarava diretamente em meus olhos, procurando traços distintos dos dela.

Depois daquele dia em que fomos à praia, nunca houve mais a menção do nome de sua falecida esposa, muito menos algum fragmento de seu passado. Falando em palavras silenciosas, Taehyung me mostrou o quanto queria guardar seu passado excruciante em um canto esquecido de sua mente. E, eu, entendia-o perfeitamente. Assim como determinados assuntos para ele eram inconversáveis, falar sobre meus pais trazia um gosto ácido na superfície de minha língua e uma comichão desconfortável.

Meu despertador estava prestes a soar e, mais do que imediatamente o silenciei. Por mais que eu estivesse sem sono algum a esse horário, era de meu conhecimento que, assim que eu pisasse nos limites do colégio, uma onda de sonolência me afogaria.

Por entre dichotes, afastei gentilmente o braço de Taehyung de minha cintura. Ele havia adormecido apenas minutos atrás, enquanto nós traçávamos uma conversa inusitada, cujo objetivo era distanciar a imagem de Jae Hwa aparecendo em minha casa, obrigando-me a despertar de supetão. Em certos momentos, Taehyung queria trazer à tona o assunto, contudo, eu o evitava o máximo que conseguia.

E era assim que eu lidava com meus medos e demônios. Simplesmente agia como se eles não estivessem me perseguindo.

Lembrando-me de minha prova de hoje, soltei os maiores xingamentos de meu repertório. Por conta do acontecimento de ontem, eu havia estudado muito pouco e só não precisava ir bem. Necessitava. Por puro orgulho e ego.

Sentindo-me inquieta, Taehyung abriu os olhos vagarosamente enquanto acompanhava com o olhar modorrento. Levou uma das mãos na região ocular e passou levemente a palma sobre as pálpebras, tentando a todo custo se despertar.

Fotografia DesbotadaOnde histórias criam vida. Descubra agora