Capítulo XXVI. Nosso céu

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Taehyung

O projeto de John Coleman foi intitulado como "Sob a singularidade" e, ultrapassando qualquer margem do comum, ele conseguiu tornar o trabalho de três fotógrafos uma peça fundamental na história da fotografia. Organizando, editando e credenciando cada nome e direcionando ao mundo virtual, John conseguiu ser um pilar na ascensão de cada membro convocado. Há dois anos, convocações para viagens e propostas se fizeram abundantes em minha agenda.

Revigorado pela adrenalina ao capturar com precisão o momento correto do pousar de uma águia-dourada no antebraço de seu tutor sobre planícies do Quirguistão e do Cazaquistão, ou de sentir a dor de uma bailarina russa ao se despedir de suas sapatilhas de ponta após a última apresentação antes de se aposentar, eu me sentia vivo.

Nos últimos cinco anos, pude respirar os mais divergentes ares ao redor do mundo ao aceitar todas as propostas plausíveis. Beirando os trinta e um anos, conquistei um espaço dentro do mundo fotográfico que jamais imaginei após a morte de Haneul.

Contudo, preenchendo o espaço vazio de minha profissão, que há um tempo havia abandonado, ainda existia a melancolia por ter perdido o contato de Youra, que me ligara em uma noite conturbada, e terminou sem exigir quaisquer esclarecimentos meus. Durante longos meses, vi-me mergulhado em meus próprios pensamentos que me aprisionaram e que nunca deixaram a imagem donzel de Youra desaparecer de minhas lembranças. Assim, segui pelos anos, intercalando minha mente ao passado que me trazia um sentimento nostálgico e bom, e ao presente, cujo dever era fotografar com maestria cada ação julgada como a melhor.

Por entre fotografias e memórias, segui minha rotina inconstante até me encontrar novamente em Seoul, palco principal de meu primeiro trabalho e de meu primeiro amor. Entretanto, parte de minha cabeça se dirigia em uma curiosidade quase estarrecedora ao me perguntar por incontáveis vezes o que Youra estaria fazendo atualmente.

Lembrava-me em uma clareza absoluta quando ela me contou que passara na universidade desejada com o curso que veio subitamente à sua mente. Rindo de como exclamava em uma animação quase infantil, possibilitei-me confessar algo que há muito tempo passeava com frequência em minha mente:

Sabe, a forma como você admira o céu já dizia muito sobre o que escolheria. — Anunciei. — Inclusive, seus adesivos de estrelas nunca me enganaram.

Por que nunca me contou? — Mesmo sem vê-la, poderia presumir que um sorriso amplo adornava seu rosto.

Você está olhando para o céu? — Perguntei repentinamente e Youra se silenciou.

Estou. — Respondeu. — Como é a aparência dele aí em...

Vancouver. — Corrigi-a. — Aqui é frio, então parece uma porcelana prestes a quebrar devido à baixa temperatura. Sem nuvens e um vento gelado está quase me fazendo congelar aqui nas ruas. E o seu céu, Youra?

É de madrugada. Está escuro, nuvens carregadas de chuva falam que eu devo me recolher imediatamente para o meu quarto e me abrigar nos meus cobertores.

— Senhor Kim? — Uma voz adenoide me chamou e eu levantei meu olhar.

Como se acordasse de um profundo sono, analisei cada detalhe ao meu redor ao tentar me relembrar o porquê de me encontrar em uma cafeteria. Um copo de café latte jazia em minha frente enquanto eu me encostava na cadeira de madeira e tinha alguns de meus materiais expostos em uma mesa redonda e pequena. Uma mulher de aparências sutis me encarava esperando uma resposta minha, com um tablet acomodado em sua frente, anotava minhas palavras.

Fotografia DesbotadaOnde histórias criam vida. Descubra agora