Capítulo XV. Viver e existir

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Youra

O desenrolar da conversa entre meus pais e mim foi como levar pedradas em meio a um palco, o qual eu performava e o desgosto da plateia era evidente. Eles não me olhavam, mas, sim, analisavam em uma destreza calculista lancinante, como se não fosse filhas deles. Não me dirigiam palavras de carinho muito menos perguntas acerca de minha vida pessoal, cuja responsabilidade era apenas ser uma boa aluna; no entanto, nem isso fizeram, somente prosseguiram com o roteiro decorado.

"Jimin não está sabendo lidar com toda a pressão.", disseram-me. Encarando de escanteio para a minha mãe, percebia que media suas palavras e as escolhia com precisão. Nas mais profundas reflexões, eu desconfiava que meu pai coagia de modo exasperado cada ação sua e Jimin era o seu favorito, porém, não significava que ele estaria livre das sentenças acerbas.

O que não foi uma surpresa para mim ao me recorrerem apenas para ser um suporte psicológico para Jimin; eles não admitiam contratar quaisquer profissionais da psicologia para manter as ideias de meu primo límpidas, pelo contrário, repudiavam as ações que poderiam levar a crer que a família Park era desestruturada.

Era um pensamento extremamente retrógrado, entretanto, por mais que os Park fossem de uma absoluta inteligência, faltavam-lhes o necessário para se tornarem humanos: empatia. Quando soube que Jimin era o prodígio da família e, logo que os holofotes foram apontados em sua direção, mais do que imediatamente carecia de um suporte.

Não foi uma decisão de Jimin iniciar logo o trabalho na empresa, porém meu pai via nele um grande potencial de comunicação e isso foi o suficiente para aumentar suas esperanças nele. Entretanto, não feito de uma genética perfeita, Jimin errava como qualquer outro ser humano e meu pai não admitia, depositando suas palavras de aborrecimento nele.

Da mesma forma que meu primo não pôde escolher seu futuro, eu também estava sujeita a receber as ordens de meus pais. Não me restava outra saída se não aceitar sem quaisquer justificativas palpáveis, eu deveria obedecê-los da forma hierárquica que se impuseram.

— Eu sei que isso é chato. — Hoseok interrompeu meus pensamentos ao se sentar em minha cama. — Mas, pense assim, Park: você vai conseguir um dinheiro e ficar um tempo em Seoul.

— E do quê adianta se não é isso o que eu quero? — Questionei-o ao girar a cadeira em sua direção.

So Ah e Hoseok estavam em casa, a pedido meu.

Assim que meus pais saíram pela manhã de casa, chamei-os e eles mais do que depressa apareceram com alguns alimentos com alto teor de carboidratos e gorduras.

Os olhos de Hoseok se reviravam na órbita.

— É óbvio: lá é onde acontece de tudo. — As pernas de So Ah estavam sobre o corpo de meu amigo e ele apertou com certa força o tornozelo dela, visivelmente animado com meu trabalho. — Você vai saber verdadeiramente como é uma noite em Seoul!

— Será que essa sua cabeça de vento só tem festa e Mi Hee? — Reclamou So Ah após puxar suas pernas, queixando-se da força imposta de Hoseok.

— Também têm as minhas mais amadas amigas. — Um sorriso galhofeiro preencheu seus lábios ao apontar para mim e para So Ah.

— Mas o que você vai fazer lá? — Minha amiga me perguntou e eu torci a boca, em um esgar.

— Só vou servir de apoio para meu primo — dei de ombros. — e receber um treinamento, o que já era o esperado. — Pausei por um momento e comprimi meus lábios em uma careta de desgosto. — Mas não queria trabalhar com isso.

Fotografia DesbotadaOnde histórias criam vida. Descubra agora