Capítulo V. Transcorrido

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Youra

— Haneul? — Taehyung repetiu o nome.

Os olhos dele se anuviaram por lágrimas e ele ameaçou andar alguns passos em minha direção, no entanto me precipitei em um medo aparente e segurei-o pelos braços, evitando que seus pés descalços pisassem no piso repleto por cacos de vidro.

Passeei com os olhos em seu corpo, a procura de algum ferimento, e, em suas mãos, a fotografia da mulher que antes estava pendurada na parede balançava levemente. Solícita mais do que normal, retirei o papel de suas mãos e coloquei na bancada da cozinha.

— Taehyung, é a Youra. — Inspecionei cada detalhe de sua fisionomia. Exceto pelo machucado de sua boca, ele não apresentava outro ferimento. — Onde é seu quarto? Preciso pegar algo para que não machuque os seus pés.

Ele não me respondeu, contudo, em um movimento rápido, Taehyung puxou meu braço e rodeou seus membros torácicos envolta de meu pescoço. Afundando sua cabeça em seu antebraço. Desprevenida, somente acompanhei seus gestos em silêncio. Escutei-o fungar de forma abafada enquanto sentia em meu ombro desnudo suas lágrimas sendo despejadas.

— Estava indo tudo tão bem. — Em uma voz arrastada, ele murmurou enquanto apertava nosso contato.

Sem perceber, passei meus braços em sua cintura e me aconcheguei em seu ombro, ouvindo silenciosamente sua lamúria.

— Está tudo bem. — Sussurrei de volta, na tentativa de fazê-lo recobrar a sobriedade. — É a Youra. Sua vizinha.

Alheio às minhas palavras, seus dedos envolveram meu couro cabeludo.

— Sem Wook. — Disse na voz obstinada de um bêbado. — E sem você. Eu estou tão perdido.

Fiz uma força contrária à minha vontade e me desvencilhei dele, escrutinando suas feições alteradas pela bebida. Na bancada, jaziam garrafas de cerveja e uma de vodka vazias. Meu estômago embrulhou ao ver que certamente Taehyung bebera tudo que estava ao seu alcance. Afinal, hoje fazia dois anos.

Mas dois anos de quê?

Demorei alguns segundos em minhas profundas meditações, levantando cada motivo que levaria Taehyung estar tão abalado emocionalmente e todas as opções pareciam fugir de minha realidade.

— Fique aqui. Não se mexa. — Ditei a ele antes de desaparecer por entre o corredor.

À minha direita, uma escada se estendia no escuro e, indo em direção ao segundo andar, pulei a cada dois degraus, vacilando algumas vezes devido ao salto que me fazia cambalear. Uma galeria parecia alcançar o infinito quando a luz do ambiente era quase mínima, a janela grande ao fundo do corredor era a única provedora da iluminação e estreitei meus olhos, imaginando qual seria o quarto de Taehyung em meio a tantas portas.

Suspirei profundamente: qual era a porta correta?

Em seguida, um brilho iluminou minha mente. Certamente seu quarto ficava em direção à minha varanda e, seguindo meu raciocínio, encarei o limiar que me separava do lugar desejado. Corri aos passos apressados e solícita quanto ao obstáculo: meu sapato. Em meu interior, sabia que tinha poucos minutos até Taehyung começar a vagar pela casa, enroscando os pés um no outro até levar a si próprio no chão em meio às lágrimas de vidros quebradas na cozinha.

Respirei todo o ar possível e abri a porta.

O aposento era bem iluminado ao apresentar uma grande janela ao lado direito, sendo a luz filtrada por uma fina cortina branca, uma cama de casal estava centrada na frente de uma parede de madeira, que escondia, atrás dela, o armário de roupas de Taehyung. Traçando minha direção na parte superior daquela parede, atravessei o quarto em uma velocidade quase sublime.

Fotografia DesbotadaOnde histórias criam vida. Descubra agora