Sem conseguir contactar Eunice, Júlio decidiu ir até ao Minho. Fez uma viagem tranquila apesar de o tempo estar frio e o céu carregado de nuvens. Fez a entrada na Serra do Gerês pela estrada de Terras de Bouro e após alguns quilómetros viu um pastor a pastar as suas ovelhas. Encostou o carro, inspirou bem fundo e desceu um pequeno carreiro até um pequeno pasto.
- Boa tarde – iniciou a conversa – precisava de uma informação sobre um local, será que me consegue ajudar?
- Boa tarde – disse o pastor enquanto ajustava o seu colete com uma mão e fazia um gesto cordial com a sua boina. Apoiou-se no seu cajado e pôs-se em pé. Mascava tabaco e antes de lhe estender a mão para cumprimentar, limpou-a às suas calças – então diga-me lá o que é que gostava de saber?
- Procuro um local, muito pouco conhecido, e só sei que fica no meio da Serra.
- Mas olhe que a Serra é muito grande…
- Eu sei, mas tinha que começar por algum lado. Já ouviu falar no Hospício das Chamas?
Com esta pergunta o pastor ficou com um ar sisudo e surpreendido com a pergunta.
- Meu amigo, o que procura nesse sítio? Aquele local merece estar esquecido para sempre… Há muitos anos que ninguém vai lá e sinceramente, deveriam construir um muro enorme à volta ou então destruir.
- Mas porquê? O que é que aconteceu lá para dizer isso?
- Como lhe disse, o melhor é ficar no passado. Não sei o que quer de lá, mas esqueça. Aquele lugar não é para gente viva!
- Não é para gente viva? Está a querer alarmar-me? Só falta dizer que a meio da noite saem de lá mortos vivos e começam a vaguear, e a seguir vão às aldeias e roubam as criancinhas – disse cinicamente.
- Está a brincar mas a conversa é séria!
- Então mas o que é que se passou lá? – Júlio perguntou curiosamente.
- O Hospício das Chamas de início chamava-se Hospício Mental Luso-Galego e albergava vários indivíduos que tinham doenças mentais. Fala-se que um deles, numa noite, conseguiu fechar todas as portas e janelas do hospital e pegou fogo a toda a gente, ninguém escapou. Foi um autêntico massacre!
- Compreendo. Mas gostava de visitar o local, sou detective particular e a investigação trouxe-me a este local. Talvez não me dê grandes pistas mas pelo menos sei que aqui depois não preciso de voltar.
- Hummm – gemeu o pastor enquanto levantava a boina e coçava o cimo da cabeça – se não é nenhum jornalista que vem para aí desvendar alguma história inventada, posso ajudá-lo…
E nos segundos seguintes Júlio ouviu com toda a atenção o caminho até chegar ao Hospício.
Já tinha andado alguns quilómetros a pé desde que tinha deixado o carro no miradouro de Luzia. O carreiro de terra já tinha desaparecido a agora furava o mato. Começou a descer de forma ingreme e quase que se desequilibrava, acabando por agarrar-se às árvores e arranhado as mãos. Já num largo vale caminhou durante mais umas centenas de metros enquanto que o céu já carregado de nuvens ia ficando cada vez mais escuro. Os pingos começavam a cair, tornando-se mais densos e Júlio começava a ficar com os cabelos e a roupa toda encharcada. Algumas poças de lama iam-se formando e o único som que se ouvia era a chuva a cair em cima das árvores, o chapinhar dos pés no piso enlameado e um vento macabro que se começava a levantar. Por fim Júlio avistou o Hospício das Chamas e foi-se aproximando aos poucos, como se receasse algo. A vista do edifício impunha respeito!