Capítulo VIII

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O vento soprava forte e as árvores gritavam de dor, enquanto a chuva caia torrencialmente. O céu estava negro e um intenso clarão intenso marcou o céu, um relâmpago cortou cegamente o céu. Umas figuras numas vestes estranhas começavam a tomar forma através das árvores. Um trovão fez tremer o edifício e passado poucos segundos um novo relâmpago cortou o céu. Júlio deu uns passos até à chuva mas rapidamente teve que se recolher, passou uma mão pelos cabelos e outra na vista.

Um grupo de seis indivíduos começou a aproximar-se da entrada do Hospício, todos vestidos com um hábito franciscano, todo castanho escuro, de capuz pontiagudo e rosto escondido. Todos eles, na mão direita traziam um cajado e no cimo dele enrolava à volta de uma grande pedra lilás que brilhava com força e uma beleza única. Júlio ficou com o olhar preso naqueles indivíduos enquanto se aproximavam ao mesmo tempo que levantavam o cajado em sintonia com a mão livre, totalmente aberta com os cinco dedos a apontar ao céu e começaram a entoar palavras, levanto a uma concentração total. Como que hipnotisado, Júlio ficou completamente estático e sem reacção. Segundos depois os indivíduos bateram com os cajados com força no solo e um grito ecoou do meio das árvores, na direcção de Júlio. Acordou deste transe hipnótico e do solo começaram a irromper pequenas explosões de terra e silvos de sangue a jorrar desses buracos. Antes que essa linha de eventos explosivos chegassem aos seus pés, Júlio entrou no hospício e fechou rapidamente a porta, e um grande estrondo veio do piso de cima. Um novo grito ecoou no hall de entrada e murmúrios de palavras sem sentido mas horrendas bailavam no ar. Rodopiu sobre si mesmo enquanto que os seus pés escorregavam, o piso estava todo encharcado de sangue! As paredes tinham rostos de pessoas em sofrimento enquanto que braços se esticavam e tentavam agarrá-lo. Com dificuldade colocou-se novamente de pé e dirigiu-se em passo de corrida a uma porta que não tinha visto, atrás de um vaso com uma planta enorme junto às escadas principais. A entrada estava escura como um bréu, mas nada impediu Júlio de entrar. Correu por um longo corredor, totalmente às apalpadelas até chegar a um ponto sem saída. Parecia-lhe ser uma porta em madeira, totalmente trabalhada mas a ausência de luz não lhe permitia ver nada. A lanterna tinha deixado de funcionar e o telemóvel... tinha ficado esquecido no carro! Foi tacteando a porta até que encontrou uma pequena fechadura, e lembrou-se da chave da lavandaria! Conseguiu alcançar a chave e inseriu cegamente na fechadura, e após uma volta esta cedeu gentilmente com um pequeno estalido. Ao abrir a porta uma corrente de ar entrou no corredor e um cheiro a carne podre acompanhou a ventania. Um novo grito ecoou e guinchou aos seus ouvidos, apercebendo-se que os indivíduos se aproximavam; agora vinham em fila, com o cajado numa mão e a outra à altura do seu ombro, com uma bola de fogo a iluminar o caminho. Sem mais demoras Júlio entrou na divisão e fechou a porta. Um pequeno candelabro de sete braços aceso em cima de uma pequena máquina, e quase se apagava com o sopro de vento que vinha do corredor. A porta fechou, as chamas das velas dançaram um pouco, e a luz envolvente da lavandaria tornou-se sonorífera! Duas pequenas máquinas de lavar muito antigas, dois tanques de lavar roupa enormes e alguns alguidares soltos, eram os objectos que marcavam aquele lugar. Uma pequena ribeira atravessava de uma parede a outra, água fresca e com uma corrente forte, mas muito clara como cristal.

Uma batida forte na porta da lavandaria deitou-a abaixo, e caiu aos pés de Júlio, e instantâneamente começou a arder. Um a um os indivíduos foram entrando e cercando-o até este não ter saída. Com palavras desconhecidas, como se de um dialecto se tratasse dirigiram-lhe alguns grunhidos. Sem dar por isso um cajado subiu repentinamente e atingiu-o no rosto, abrindo-lhe uma ferida; um pouco de sangue escorreu pela maçã do rosto e pingou o chão. Outro indivíduo atingiu-o e assim sucessivamente. Por fim, já quase sem forças ficou estatelado no chão e o rosto todo ensanguentado, sentiu que tinha perdido um ou dois dentes. Um dos indivíduos aproximou-se do rosto de Júlio e não conseguiu ver nada para dentro do seu capuz mas sentiu um pequeno silvo. Este indivíduo parecia ser quem liderava o grupo. Em grande desespero rebolou para o lado e deixou-se cair para dentro do ribeiro que atravessava a lavandaria, ao mesmo tempo que uma mão ainda o tentava agarrar. O líder deu um grito de desespero e com uma pancada seca do seu cajado partiu em mil pedaços o candelabro judeu que se encontrava a iluminar a lavandaria...

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