Capítulo VII

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Uma fonte seca com um cupido assentava antes da entrada, e uma estrada de gravilha a cercava. O edifício encontrava-se todo chamuscado, fruto do incêndio brutal que tinha sofrido. Parecia um edifício em pleno sofrimento, dor e angústia. As janelas tinham os vidros partidos, algumas nem armação tinham. A porta de entrada era gigantesca e encontrava-se entreaberta. No entanto o Hospício estava escondido do mundo, encontrava-se rodeado de árvores e arbustos que ladeavam e cobriam-no quase que por completo.

Já bastante molhado com a chuva que tinha começado a cair Júlio aproximou-se da entrada e a custo conseguiu afastar a porta, rangendo por tudo o que era sítio. Estava escuro que nem um bréu, mas uma luz acendeu-se ao fundo. A lanterna de Júlio acendeu-se e clareou vagamente o hall de entrada. O chão de mármore encontrava-se todo coberto de pó, mas era como se estivesse praticamente vazio. Um espelho enorme preenchia uma das paredes e o candelabro estava todo estilhaçado no chão! Só se ouvia a chuva a cair lá fora mas Júlio poderia jurar que ouvia chorar, aliás, várias pessoas a chorar e a gritar! Decidiu entrar vagarosamente enquanto analisava o local e tentava não pisar vidros que se encontravam por ali espalhados. Aproximou-se de uma grande escadaria  e uma corrente de ar fechou com estrondo a porta da entrada, ficando ainda mais escuro. Uma pequena porta entreaberta chamou a atenção de Júlio, daí advinha uma pequena música instrumental.

Empurrou a porta e esta abriu com relativa facilidade, um pequeno escritório com uma secretária velha e uma caixa de música no chão. Uma janela partida com uma pequena árvore a entrar pelo escritório, mais parecia uma mão a pedir ajuda! Aquele compartimento não tinha sido afectado muito pelo incêndio, estava em estado razoável. Abriu a gaveta e tirou lá de dentro um molho de chaves e um caderno. Nesse caderno estava o nome das quarenta e cinco pessoas internadas, somente o nome e um número, que Júlio julgou ser o número do quarto. Pegou no molho das chaves e dirigiu-se ao hall para subir aos quartos! Um único corredor delineava o piso superior, dum lado tinha várias janelas que dava para o exterior, do lado interior os quartos, totalmente fechados. Em vários pontos do corredor algumas macas espalhadas, umas sem rodas e totalmente queimadas. As paredes já não tinham qualquer papel de parede, estavam despidas e o cimento a nú. Entrando nos quartos um a um, reparou que estavam quase todos vazios, mas dava para perceber que só tinham uma cama de ferro e uma mesa de cabeceira. Os quartos revelavam-se vazios e desinteressantes, mas ao invês a sala de enfermagem parecia ter sido também poupada a grande parte do incêndio. Um pequeno cofre dentro de um cacifo entreaberto chamou a atenção de Júlio. Por sorte, a fechadura do cofre estava estragada e não fechava. Abriu e tirou lá de dentro um pequeno caderno, que parecia ser um diário! Dentro desse diário, a marcar uma página em branco encontrava-se uma pequena chave, com um papel escrito. Apesar da tinta estar muito sumida, conseguia perceber "lavandaria". Júlio tentou ler o diário mas precisava de mais luz e decidiu ir à procura da lavandaria.

Novamente no corredor, e depois de percorrer o resto do piso sem encontrar nada de especial, Júlio desceu novamente para o piso térreo para ir à lavandaria. No entanto, neste piso só se encontrava um consultório médico, umas instalações sanitárias e a cozinha, nada de lavandaria!

Desistiu de procurar e estava na hora de voltar para trás. Já era noite cerrada mas também não lhe apetecia passar ali a noite, o local dava-lhe arrepios! Dirigiu-se à porta e abriu-a novamente, e algo de estranho viu ao longe...

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