Capítulo V

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«Finalmente de férias, Júlio e a sua família estavam de férias, após um ano de muito stress profissional e dificuldade em pagar algumas contas. No entanto, os últimos três meses tinham sido positivos e estes dias em família eram aquilo que estavam a precisar. A viagem estava mesmo a terminar e o Hotel já se vislumbrava no meio da montanha. A música dos Rádio Macau tocava nos altifalantes do seu Opel Astra e as crianças sorriam no banco de trás. Pararam à porta do Hotel e um empregado veio logo recebê-los com uma cordialidade fora do comum. Entraram na recepção do Hotel e uma luz imensa vinha de um fantástico candelabro dourado preso ao tecto, com andorinhas douradas. O chão e as paredes em pedra mármore davam um aspecto fresco e limpo, enquanto um cheio a alfazema imperava no ar. Já com as chaves na mão, Júlio pediu à sua mulher e às filhas para irem subindo ao quarto enquanto ia buscar as malas ao carro. Carregou no botão do elevador e após uns segundos um sinal sonoro informa a chegada do elevador. As portas trabalhadas são abertas por um ascensorista loiro de sorriso simpático e acolhedor. As meninas entram de mão dada e aos pulos e a Francesca despede-se de Júlio com um beijo fresco nos seus lábios. A porta fecha-se e Júlio faz meia volta para ir buscar as malas ao carro.

A meio do lobby do Hotel algo começa suceder, começando por um barulho de madeira a ranger. Uma forte ventania entra porta adentro e esta fecha-se com grande estrondo. Um uivar intenso ecoa em todo o hotel e as luzes tornam-se foscas, ao mesmo tempo que as paredes e o chão vão-se transformando de pedra mármore em madeira velha! A partir do nada as paredes começaram a transformar-se em chamas e o próprio hotel começou a arder. Júlio começou a correr na direcção do elevador onde Francesca e as suas filhas tinham entrado mas a poucos metros o chão desabou com grande estrondo. As portas do elevador desapareceram com as chamas e lá dentro estavam elas a gritar por ajuda, enquanto que o simpático ascensorista tinha dado lugar a uma criatura muito estranha, um indivíduo com uma túnica preta, de onde só se viam dois pontos vermelhos a sair do capuz e falou com uma voz rouca e hipnótica:

- Elas são minhas e o teu fim está próximo!

Uma mão quente e com cinzas poisou sobre a sua mão e empurrou-o precipício abaixo enquanto via a sua família presa no elevador em chamas».

Júlio acordou todo transpirado e sobressaltado, enquanto deixava escorrer um pouco de saliva pelo canto direito da sua boca. Estava sentado sozinho no banco do comboio mas as pessoas que o rodeavam olhavam-no de lado, como se de um louco se tratasse. Felizmente o comboio estava a chegar a Queluz e após alguns segundos já respirava com maior calma e sentia uma pequena aragem no rosto. Desceu alguns metros na avenida em direcção ao Palácio de Queluz. Apagou o cigarro que tinha acendido à poucos segundos e entrou na Ourivesaria Beleza!

- Sérgio, estás bom? Há quanto tempo? Tudo bem contigo?

- Júlio? És mesmo tu? – Grande amigo, bons olhos te vejam – disse Sérgio em voz alta enquanto contornava o balcão de atendimento da sua ourivesaria e dava um grande abraço ao seu amigo. – Já não te via desde…

- Sim, desde o funeral – interrompeu Júlio, ficando nesse momento um silêncio no ar. Uma ambulância com a sirene ligada passou à porta do estabelecimento comercial e foi como se desperta-se Júlio daquele momento embaraçoso. – Preciso da tua ajuda sobre um assunto que deves saber o que é.

- Então o que procuras saber? – questionou intrigado.

- Já alguma vez ouviste falar de algo chamado ouro azul?

- Isso é um mito no meio da gemologia. Diz-se que quem encontrar uma pedra preciosa chamada ouro azul terá um poder ilimitado sobre o próximo. Este mito já vem desde o tempo das grandes cruzadas. Inclusive, fala-se que o verdadeiro cálice sagrado é feito de ouro azul e que o propósito de o quererem capturar é que além de dar a vida eterna dá um poder próprio de ordenação e submissão por voz. Mas claro que isto não passa de histórias que foram inventadas para assustar as crianças, ou até mesmo para a imaginação dos graúdos.

- Claro – interrompeu Sérgio – a vida é feita de sonhos e ainda não se pagam impostos para se sonhar.

- Mas onde é que foste buscar essa curiosidade?

- Neste momento sou detective privado e estou a investigar um casamento mal resolvido e nem sei bem como é que essa palavra me surgiu aos ouvidos – mentiu Júlio com todos os dentes que tinha na boca. Mas também não me leva a lado algum.

- Então e se formos ali à Marianita comer um belo pastel de nata e beber um café, para colocarmos a conversa em dia?

- Excelente ideia, vamos lá!

Saíram os dois para a rua e enquanto Sérgio trancava a porta da loja Júlio pensava que agora só tinha duas soluções: encontrar Eunice e ir ao Hospício das Chamas!

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