Capítulo XI

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A noite já ia longa e a luz da mesa de cabeceira continuava acesa, enquanto que a chuva batia com força no vidro da janela do quarto. Júlio dormia deitado sobre a cama ainda vestido com o diário ao seu lado, todo torto em cima da colcha e de uma almofada velha e a cheirar a mofo. O seu telemóvel tocou e rompeu o ar silencioso do quarto da Pensão. Assustado com o barulho repentino levantou-se e foi atendeu o telefone:

- Estou sim? Quem fala? - disse Júlio com um ar muito ensonado.

- Boa noite, estou a falar com o senhor Júlio? - questionou uma voz velha e rouca do outro lado da linha do telefone.

- Sou sim. Com quem estou a falar? Quem é que quer falar comigo a esta hora? - disse enquanto procurava saber as horas por um pequeno relógio em cima da mesa de cabeceira. - São quase 4 da manhã, a hora não é muito boa...

- Tem razão, mas precisamos de falar consigo com alguma urgência! O meu nome é Inspector Delgado Martins, do departamento de homicídios da Polícia Judiciária e gostariamos de falar consigo o mais rapidamente possível. Pode passar aqui logo cedo, por volta das 9 horas?

- Mas porque é que quer falar comigo? A essa hora é-me impossível!

- Há um caso que estamos a investigar e gostariamos de lhe fazer algumas perguntas, é imperativo que passe por aqui bem cedo!

- Mas onde quer que passe? Nem sei onde são as instalações? Em Faro, Bragança?? - disse Júlio num tom divertido, irritando o inspector que já se mostrava um pouco chateado no outro lado da linha telefónica.

- A Lisboa às instalações situadas no Largo do Intendente, no número 9, e como lhe disse é um assunto sério. Preciso de si às 9 horas sem falta, ou preciso que algum agente o vá buscar?

- Senhor agente... - interrompeu Júlio para se lembrar do nome - Inspector Delgado, desculpe-me qualquer presunção, mas não estou em Lisboa. Estou em trabalho no Minho, talvez consiga chegar aí ao final da tarde, mas se quiser adiantar-me alguma coisa podemos ir falando pelo telefone, apesar da hora tardia que nos encontramos.

Após uns longos segundos de silêncio...

- Inspector Delgado, está aí? - perguntou Júlio enquanto coçava a cabeça por causa do misterioso silêncio que se tinha colocado no outro lado da linha telefónica.

- Sim, estou aqui a pensar numa solução. Diga-me uma coisa, tem possibilidade de ir de manhã a Braga?

- Sim, mas porquê? Não queria que fosse a Lisboa? - Júlio começava a ficar confuso com a conversa.

- Gostaria que se deslocasse à Rua do Fujacal, 69. Vou falar com os meus colegas dessa delegação e fazemos uma video-conferência consigo. Agradecia imenso que mostrasse alguma disponibilidade, se tiver essa amabilidade com os agentes de investigação de Portugal, com quem já colaborou diversas vezes, directa e indirectamente.

- Combinado, amanhã estou lá por volta das 10 horas, o que lhe parece?

- Sim, está óptimo. Entretanto vou falar com os meus colegas e depois envio-lhe uma mensagem para o seu telefone.

- Pode ser, mas não me pode adiantar qualquer detalhe sobre o assunto? - Júlio estava mesmo curioso sobre o assunto e não queria ir desprevenido para a Polícia Judiciária. Seria sobre o assunto da mulher que matou o marido com cianeto, que andou a investigar anteriormente?

- Peço desculpa pelo mistério, mas não posso mesmo adiantar-lhe nada, quando falarmos amanhã vai compreender. Peço-lhe que compareça porque vai ajudar-nos imenso.

- Ok, está bem, amanhã apareço lá a essa hora, mande-me as indicações que falamos - desistiu Júlio, já com o cansaço em cima dos ombros e uma dor de costas imensa.

Desligou a chamada e pegou no diário, estava muito cansado para voltar a olhar para ele. Pegou no caderno e guardou-o junto do medalhão. Despiu-se e quando já estava de boxers meteu-se na cama e apagou a luz, descansando um pouco depois do dia esgotante que teve.

Depois de tomar um banho vigorante e um pequeno almoço reconfortante, Júlio pagou a sua estadia e meteu-se no automóvel, rumo a Braga. O tempo não parecia mudar muito mas pelo menos a chuva era miudinha. De vez em quando parava mesmo para o sol rasgar as nuvens com um raio, mas a seguir o céu ficava negro e caia outra carga de água. Depois de ouvir as notícias sobre as alterações que o governo pretendia fazer ao IRS decidiu desligar o rádio, mas passado poucos minutos estava a chegar ao seu destino. Entrou num parque subterrâneo e estacionou facilmente. Subiu umas escadas e ficou à porta do edifício para onde se dirigia. Estava na hora de tentar desvendar o mistério do telefonema da noite anterior...

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