CORRA

Prólogo - Vinte e quatro horas

Vinte e quatro horas restantes...

Ícaro sentiu o vento bater em seu rosto e uma leve vertigem passou pelo rapaz quando ele olhou para baixo. Dez andares não era algo para se brincar. Ele ajeitou a gola de sua jaqueta e esperou as lágrimas virem, mas ele não sentia mais vontade de chorar. Ele estava vazio, não tinha mais nada dentro de si.

Como uma pessoa podia ter tudo e ao mesmo tempo não ter nada dentro de si?

Ícaro tirou seu celular de seu bolso, ele iria morrer, mas antes ele precisava falar. Precisava falar tudo que tinha engolido durante anos. Ele poderia ligar para Vitória, sua ex namorada que havia acabado de terminar com ele alegando que ele não precisava de uma namorada e sim de uma psicóloga. Ou ele poderia ligar para Bruno que era seu melhor amigo, mas ele apenas diria as mesmas coisas e nada adiantaria.

Seus pais também estavam na lista, mas nenhum dos dois atenderam, deveriam estar ocupados de mais para atenderem um telefonema de seu único filho. Um telefonema, um choro, ou um carinho.

Ícaro digitou qualquer número e esperou, da primeira vez atenderam, mas quando o rapaz começou a falar, disseram que era pegadinha e desligaram em sua cara.

Quando o suicídio de alguém havia se tornado uma pegadinha?

Do outro lado da cidade Ana Paula havia acabado de sair de uma reunião maravilhosa, ela tinha o melhor dentro de si, ela tinha o Espírito Santo, algo que nem todo o dinheiro do mundo poderia comprar. Ela se sentia completa e tinha a absoluta certeza de que Deus estava com ela.

A garota começou a desfazer o laço de seu uniforme de Obreira, por mais que tentasse agradecer, nenhuma palavra era o bastante para retribuir ou descrever o que Jesus dava para ela todos os dias.

A alegria de viver, a força e a vontade de passar vida para outras pessoas.

A garota dobrava seu uniforme com cuidado quando seu telefone começou a vibrar em cima da bancada.