CORRA

Ícaro - Algumas "amizades".

Vinte e uma horas restantes...

Eram vinte e cinco mil seguidores em seu Instagram, mais dezesseis mil em seu Twitter. Suas festas? As mais lotadas, seu WhatsApp às vezes se tornava insuportável de tantas mensagens que recebia.

Ícaro tinha milhares de pessoas aos seus pés, pessoas que queiram estar perto de Ícaro Carvalho, não do jovem machucado por dentro.

Ele vivia no meio de uma multidão, mas permanecia sozinho.

Entretanto Ícaro era bom em disfarçar sua dor, todas as suas fotos ele estava sorrindo! E que sorriso bem feito! Seus lábios já estavam programados para subirem nos cantos, mesmo contra a sua vontade.

Mas sua armadura começou a ser rachar. O seu vazio começou a engoli-lo. E foi aí que Ícaro viu que não tinha ninguém, que as pessoas eram apenas números que ele colecionava.

O rapaz respirou fundo e seu celular começou a vibrar, dessa vez não era o número de Ana Paula, mas de Bruno e seu coração se apertou.

Bruno era o seu melhor amigo, desde o ensino médio, até a mesma Faculdade ambos haviam estado juntos.

Basicamente o rapaz contava tudo para ele e quando viu que seu disfarce de que tudo estava bem não estava mais funcionando, Ícaro não hesitou em contar para Bruno.

Os dois estavam na enorme sala de vídeo game de Ícaro, quando aquele aperto voltou em seu peito, como se estivesse faltando algo. Antes disso, esse aperto só aparecia quando ele ia dormir, mas agora era como uma sombra o seguindo:

-Ei, cara... Posso te perguntar uma coisa? -Ícaro falou quando finalmente teve coragem.

-Sim?

-Você já se sentiu... Não sei bem explicar, mas como se algo dentro de si estivesse faltando?

Bruno franziu as sobrancelhas e olhou para Ícaro:

-Você se deve assim?

-Eu não sei explicar, Bruno. Só que às vezes, nada parece fazer sentido, eu me sinto... Me sinto sozinho.

-Olha, Ícaro... Todo mundo se sente assim. Eu me sinto assim, o Leonardo, a Vitória... Você só precisa continuar. Isso passa!

-Isso não passa, Bruno.

-Então você precisa se acostumar!

-Eu não quero me acostumar! Eu quero ser completo. -Ícaro falou frustrado.

-Ah, cara! Pelo amor! Se você não for completo com tudo isso, eu não sei com o que você vai ser.

-Mas isso não completa!

-Você deve ter algum problema, Ícaro! Você é tudo que alguém da sua idade quer ser!

Ícaro se levantou e tirou o controle do seu X Box da mão de Bruno:

-Fora da minha casa.

-O quê é isso?

-Eu quero você fora daqui!

-Você só pode tá brincando! Eu sou seu amigo.

-Amigos ajudam.

-Sou seu amigo, Ícaro. Não um psicólogo!

-Sai daqui! -Ícaro gritou e Bruno se levantou pegou o seu boné e saiu do lugar.

Ícaro se jogou em seu sofá. A partir daquele dia, ele não saiu mais de casa, trancou a Faculdade e Bruno não voltou.

Assim como o restante de seus amigos.

O garoto deixou a chamada cair e desligou. Ele não queria ouvir a voz de Bruno.

Ícaro discou novamente o número de Ana e a moça rapidamente o atendeu:

-Ícaro? -Ela perguntou engolindo em seco.

-Eu vou me matar, Ana. Daqui vinte quatro horas, eu vou pular desse prédio.

-Aonde você está?

-Não importa agora, ninguém se importou antes. Todo mundo foi embora e me deixou aqui.

-Ícaro... Por favor, me escute... -Um barulho de movimentação atrás de Ana.

-Eu não quero te escutar, eu quero que as pessoas escutem o que eu tenho para dizer. Que a dor do abandono, que esse vazio não passou.