Meia hora restante...
A noite corria a solta e a cada momento que se passava o desespero no peito de Ana Paula parecia a definhar seu espírito. Paulo estava sentindo o efeito da droga passar estava ficando nervoso com a demora da garota para agir. Ela, por sua vez, estava tentando convencer os policiais e bombeiros os deixar passar. Tentativa falha, pois qualquer pessoa que não fosse a mãe ou o pai de Ícaro não poderia passar. Até mesmo Victória, ex namorada de Ícaro foi barrada pelos policiais.
-Ana, eu não aguento mais ver esse burguês aí que não sabe se se mata ou não! Ou você dá um jeito de salvar ele ou a gente vai embora! Daqui a pouco amanhece o dia e eu tenho que ir trabalhar. –Paulo falou exasperado colocando as mãos na cabeça.
-Mas é aqui que tá o problema, Paulo! Eu não tenho nenhuma ideia! –Ana Paula levantou as mãos em sinal de redenção. Ela não tinha nenhuma ideia e agir pela emoção naquele momento tinha cinquenta e um por cento de dar errado. Eles não poderiam arriscar nada.
-Liga pro playboy, meu amor! Usa esse seu cabeção enorme que eu não sei como que seu pescoço sustenta. –Paulo falou apontando para a cabeça de Ana Paula. Como que naquele momento de perigo e desespero Paulo poderia estar brincando?
Ana Paula ligou e dessa vez Ícaro a atendeu.
-Ícaro? Ícaro? Por favor, eu te imploro... Eu te suplico! Não faz nenhuma besteira, por tudo o que te é mais sagrado. –Ana Paula disse em desespero, ela não ouvia a voz dele do outro lado, ouvia apenas a respiração dele e os mesmos barulhos de vento ao fundo. Por que Ícaro a torturava daquela forma?
-Ana Paula, nada do que você me falar vai mudar na minha decisão. Eu vou ficar aqui assistindo as hipocrisias de alguns, antes que eu faça o que eu vou fazer. Fico feliz em saber que você não veio prestigiar meu suicídio, você não aguentaria.
-Ícaro, eu estou aqui. –Ana Paula falou calma e com uma certa tristeza em seu falar. Ela estava ali, tão perto, mas tão distante da alma do rapaz.
-Está? – Ícaro falou surpreso em saber que Ana Paula estava ali. Ele não imaginava o que a jovem havia passado para estar ali.
-Sim, Ícaro, eu estou aqui. Estou aqui pra te dizer que você não pode se matar. Jesus não quer isso de você.
-Jesus, Ana Paula? Onde ele estava quando o vazio me definhava por dentro? –Ícaro disse aquilo em tom de deboche para com a garota. Ele não via mais um palmo de saída a sua frente. Só o maldito suicídio. Ele desligou na cara dela. Ícaro poderia até aceitar a jovem, mas porquê não aceitar a Jesus?
Ana Paula se sentou novamente na calçada aonde ela estava antes. Passou a mão pelo seus longos cabelos e se sentiu uma fracassada. Como que ela poderia estar perdendo Ícaro na vista de seus olhos. Mais uma vez a jovem encarou o céu estrelado. O que Deus queria dela naquela noite?
-Tá e daí, Ana Paula? Falou com o Playba lá? – Paulo voltou depois de fazer uma análise rápida do local.
-Ele não me disse quase nada, Paulo. Ele vai se matar e não há nada que eu possa fazer por ele. –Ana Paula disse baixando novamente a cabeça. Ela estava envergonhada com a situação. Estaria uma Obreira perdendo uma alma?
-Ah não, Ana Paula! Eu não sai de lá e vim até aqui de moto pirigando tomar um tiro na fuça pra você vir e me dizer que não pode fazer nada. Não mesmo. Vai e levanta que a gente vai dar um jeito de salvar o Playba antes que seja tarde demais. A gente vai dar um jeito.
Ana Paula recebeu uma boa dose de fé naquele momento. Como um incrédulo poderia estar falando aquelas coisas pra ela? Não seria o Próprio Deus fazendo ela se levantar por aquela alma?
-Beleza! Vamos achar uma ideia. -Ana Paula disse se levantando de onde estava. Ela daria um jeito. Deram um jeito pela alma dela também, o que custava ela dar um jeito pela alma de Ícaro também?
-Sobe na moto que eu já sei tudinho. –Paulo deu uma picadinha pra Ana Paula e fez um sinal para que a jovem subisse na moto. Ela já sabia que algo bom não estava por vir. Mas a garota confiaria nele.
Ana Paula não imaginava que Paulo estava armado. Ele acelerou a moto pra fora do condomínio e atirou várias vezes para o alto. Aquilo parecia uma loucura. Mas ele não se importava. Ele também passou a gostar da ideia de salvar a alma de alguém. Os policiais foram em disparada atrás dos dois, mas Paulo foi mais rápido. Ele apenas disse para Ana Paula se segurar que no final daria tudo certo. Paulo deu a volta no condomínio e voltou para o mesmo lugar. Ele distraiu os policiais tirando o foco da jovem.
Os dois acabaram deixando a moto escondida e voltaram pelo outro lado do prédio. Mesmo com receio da situação, Ana Paula colocou a situação nas mãos de Deus e seguiu Paulo. Ele já sabia aquele caminho pelo fato de já ter andando durante as ligações de Ana Paula.
-Ana, você vai ter que pular a grade pra poder se apoiar e subir pela escada de emergência até lá. –Paulo disse apontando os caminhos por onde ele queria que ela subisse.
-Paulo não sei se vou conseguir subir até lá. –Ana Paula estava cansada e sobrecarregada. A pressão sobre ela não parava de aumentar. O corpo da jovem franzino da jovem pedia socorro. Ela se sentia mais cansada do que nos dias em que ela tinha que ficar duas horas de pé em um ônibus para poder chegar até o Templo de Salomão. Aquilo era um sacrifício a ser feito por uma alma.
-Mana, olha pra mim. –Ana Paula levantou a cabeça e olhou fixamente nos olhos de Paulo. –Eu estou vendo o seu esforço por esse rapaz que você nem conhece. Confia em mim, vai dar tudo certo. Olha, se ele se matar, tenha em mente que você tá dando o seu melhor. –Uma lágrima correu por sua bochecha. Ela estava dando tudo de si por Ícaro. Ia dar tudo certo.
Ambos subiram por aquela escada que parecia interminável. Em alguns trechos daquela escada, Paulo carregava a jovem que já não aguentava mais subir aquela escada.
Quando os irmãos chegaram ao final da escada, ela não dava em lugar nenhum. Só em uma tubulação da saída dos Ar-condicionado dos moradores daquele prédio.
-Paulo, aqui é o final. Não posso acreditar que a gente subiu até aqui pra nada e agora...
-É agora que a gente vai descer pela tubulação, simples. –Paulo se virou para Ana Paula e deu um sorrisinho fraco.
-Você não quer que a gente...?
-Sim, minha maninha querida. A gente vai descer pela tubulação de ar.
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CORRA
روحانياتÍcaro tem vinte anos e está prestes a cometer o suicídio quando tem um único desejo, falar tudo aquilo que está guardado dentro de si a anos, toda a tristeza, todo o fardo que as pessoas ao seu redor não conseguem entender. Pais, amigos, namoradas...