Vinte e quatro horas restantes...
Ana Paula entrou na salinha das Obreiras e o sorriso não saia de seus lábios.
A reunião havia sido maravilhosa, Deus havia falando com ela em todos os momentos. Ter o Espírito Santo era a maior riqueza da jovem. A jovem era Obreira a quase um ano e meio. Cada dia ela O buscava como se fosse o primeiro dia. Ela recordava em suas memórias da promessa que havia feito com Deus no dia em que foi levantada a Obreira:
-Senhor, eu tenho muito a Te agradecer por eu estar aqui. Mas eu te prometo que a partir de hoje, minha vida será para as tuas almas. Por mais que ela já seja, que venha ser muito mais. Amém.
A jovem voava em seus pensamentos quando um barulho a despertou. Era seu telefone tocando e vibrando sobre a bancada. Ela olhou para a tela e viu que era um número desconhecido, porém com o mesmo DDD de sua cidade. Ela hesitou em atender, mas no fim das contas, atendeu:
-Alô? -Um silêncio se instalou na linha. Ela escutava apenas uma respiração ofegante do outro lado e uns ruídos de ventos. -Se você não falar nada, eu vou desligar. -Ela havia respondido para aquela pessoa que ela sabia que estava do outro lado.
-Não, espera! Não desliga, por favor. -A voz do outro lado a respondeu. Pelo menos a jovem tinha em mente que não era nenhum tipo de trote para o número dela. A pessoa do outro lado até tinha uma voz bonita. Era uma voz triste, mas firme, era uma voz masculina. No momento ela até pensou em desligar, mas algo mais forte a fez persistir na ligação. -E-Eu... Eu preciso de ajuda. -A voz falhou em admitir que precisava de ajuda. Era como se a pessoa pensasse em desistir.
A jovem somou o ruído de um lugar alto com a voz baixa e falha.
A pessoa do outro lado da linha queria se matar?
-Ok, eu não te julgo, eu te ajudo. Sou toda ouvidos - Ela sorriu ao falar a frase do projeto Help. Ela estava disposta a ajudá-lo no que fosse preciso. Ela se sentou no banquinho que havia na salinha e começou a tirar os sapatos de Obreira.
-Eu não sei se devo te falar, talvez você não entenderia. -A voz do outro lado a respondeu baixo, quase não se podia ouvir sua voz. Ana arqueou uma das sobrancelhas em dúvida tentando entender do porquê que alguém não queria contar o que estava acontecendo.
-Ok então, no seu tempo. Me diz uma coisa, qual é o seu nome? -A jovem perguntou receosa se a voz do outro lado lhe daria essa liberdade toda assim de primeira.
-Me chamo Ícaro, Ícaro Carvalho. - Ele respondeu a ela falando um pouquinho mais alto. Ela recordava de ter ouvido esse nome alguma vez. Carvalho não era um sobrenome muito comum, mas era de peso. -E o seu?
-Me chamo Ana Paula Diniz. Então é... Ícaro, né? An.. -Ela não sabia o que falar, estava quase suando frio, suas mãos estavam tremendo. Por que se assustar se ela atendia tantas pessoas? -Então, você precisa de ajuda em quê?
Ela não o conhecia. Ela tinha apenas duas certezas: seu nome e que ele estava em algum lugar alto. Ela precisava saber mais dele, mais de Ícaro.
Enquanto ela estava nervosa com a ligação a porta se abriu. Era Júlia, uma de suas melhores amigas. Júlia franziu as sobrancelhas ao ver Ana no telefone. Júlia moveu os lábios em forma de um "Quem é?". Ana levantou a mão em sinal de espera. Enquanto ela esperava que Ícaro a respondesse.
Ícaro não respondeu mais. Ana apenas ouviu o som dele respirando fundo e desligou. Ícaro desligou na cara de Ana Paula.
Ana Paula se trocou com pressa e estava pronta pra sair quando Júlia a segurou pelo braço e arqueou uma das sobrancelhas. Ana Paula já sabia que ela queria uma explicação válida dela estar saindo tão nervosa desse jeito.
- Depois eu te conto isso, Júlia. -A jovem saiu apressada ruas a fora desejando que o caminho de meia hora se tornasse cinco segundos.
A corrida pela alma de Ícaro havia começado.
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CORRA
SpiritualÍcaro tem vinte anos e está prestes a cometer o suicídio quando tem um único desejo, falar tudo aquilo que está guardado dentro de si a anos, toda a tristeza, todo o fardo que as pessoas ao seu redor não conseguem entender. Pais, amigos, namoradas...