Dezoito horas restantes...
Ana Paula tinha seus oito anos quando seu pai abandonou sua mãe, ela e seu irmão. Ela, na sua maior inocência, não imaginava do que seu pai estava fazendo com a família. Ela vivia no maior conforto com sua família aparentemente unida. Depois que seu pai foi embora, seu irmão virou a cabeça e se afundou nas drogas e sua mãe entrou em depressão. Ana Paula, que já estava com quatorze anos, já sentia-se cansada daquela toda vida, passou a se cortar para aliviar aquela dor da alma dela.
Até que um dia ela recebeu um convite para ir até a Força Jovem. Ali naquele dia ela conheceu Jesus, o que mudou tudo na vida dela. Tudo naquele momento passou mudar nela. O vazio da alma dela foi trocado pela verdadeira alegria do Espírito Santo nela.
Ana Paula sabia exatamente o que era vazio, o que era ter o desejo do suicídio, ela entendia disso, por isso que ela não média esforços para salvar a alma de Ícaro.
Ana Paula estava sentada na mesa jantando, elas tinham o costume de ir jantar tarde da noite. Júlia estava com o notebook em cima da mesa tentando achar alguns apartamentos e prédios altos no bairro Jardim Europa. Ana Paula comia mas não tinha fome, comia por comer. Ela queria mesmo era salvar Ícaro, ir até aonde ele estava.
Paulo, irmão de Ana Paula havia chegado. E a jovem havia escutado o barulho da moto e teve uma brilhante idéia. Paulo não ia morrer por levar a jovem até o Jardim Europa, ou ia?
Ana Paula estalou os dedos várias vezes seguidas em sinal de fazer Júlia olhar pra ela. Júlia levantou os olhos e encarou Ana Paula com a boca cheia.
-Hum, fala. -Júlia estava com a boca cheia, mas nada impedia que ela descobrisse o que Ana Paula queria.
-Tive uma ideia pra ir até o Ícaro. Eu vou pedir pro meu irmão me levar e... -Ana Paula sentiu o forte cheiro de narguilé e de cocaína entrando na cozinha onde elas estavam. A jovem se sentiu tonta por um momento, mas logo voltou a consciência.
-Ana, tudo bem? -Júlia sabia o que era, porquê ela também sentia o cheiro que era muito forte. O cheiro se misturava com o perfume que Paulo usava no momento. -Espera, vou pegar uma água pra você. -Júlia se levantou e foi em direção a pia quando Paulo chegou com seus olhos brancos e encarou Ana Paula e Júlia.
-Tudo bem, Aninha? -O apelido era o mesmo. Paulo, mesmo drogado, continuava o mesmo.
Paulo trabalhava pra usar suas drogas. Não gostava de incomodar sua mãe com seu vício. Não queria que sua mãe tivesse que pagar sua conta com os traficantes. Isso seria o cúmulo. Ele se envolveu com as drogas ainda quando seu pai os abandonou. Ele queria fugir da realidade de tristeza e solidão a qual vivia. Fazendo pequenos trabalhos para alguns traficantes do bairro para tentar sustentar sua irmã mãe, ele usou pela primeira vez. Sentiu o alívio momentâneo, mas viu que era apena o momento ali. Isso fez com que ele se viciasse fácil naquilo.
Ana Paula apenas balançou a cabeça e resolveu se colocar em pé pra falar da sua ideia a Paulo.
-Paulo... ahn... Posso te pedir uma coisa? -Ana Paula media suas palavras, porquê não sabia da reação que seu irmão teria.
-Pede, se eu puder fazer. -Paulo sempre foi muito prestativo, sempre zelou pelo cuidado com sua família. Ele era o homem da casa, ele tinha que dar, fazer e ser o melhor pra elas.
-Você pode me levar de moto pro Jardim Europa? -Ana Paula deu um sorrisinho tentando o convencer.
-Mas você tá é louca, só pode. Jura que eu vou sair daqui pra te levar lá, né?! Mais de meia hora só de moto pra eu chegar até lá. Pirou sua doida. -Ana Paula abriu a boca pra falar, mas foi interrompida por ele. -Eu uso drogas e você que fica louca. Não vou mesmo. Cheirou, só pode, né?
-Por favor, Paulo, por tudo o que é mais sagrado, eu preciso que você me leve lá.
-Não vou te levar e pronto! -Paulo virou as costas e saiu da cozinha onde eles estavam.
Ana Paula se sentiu sufocada dentro de casa e pegou o telefone e saiu pra rua. Júlia tentou ir atrás, mas Ana Paula não deixou. Ana Paula desceu a rua e foi até o posto de gasolina. Entrou na loja de conveniência quando sentiu seu telefone vibrar em seu bolso. Era ele. Ícaro. Ana Paula saiu em disparada de dentro da loja de conveniência e atendeu o telefone. A respiração dele durou uns segundos quando ela quebrou o silêncio.
-Ícaro, por tudo o que é mais sagrado, me diz que você não vai fazer nenhuma besteira.
-Ana, só liguei pra te falar que antes do amanhecer eu vou me jogar daqui de cima. Você pode falar o que for, não me vai fazer diferença.
-Ícaro você não... -Ana Paula só ouviu os barulhinhos identificando que a ligação havia acabado. Ícaro mais uma vez havia desligado na cara dela.
Ana Paula entrou na loja novamente pra comprar uma água com gás com alguns trocados que tinha em seu bolso. Quando ouviu alguns homem conversando.
-Olha aqui Jorge, mais um querendo chamar atenção na televisão. Agora é o filho daquele Doutor, o tal de Ícaro Carvalho. -Os olhos de Ana Paula se alarmaram e ela olhou pra tela da televisão. Era Ícaro na televisão. Ele estava sentado no parapeito do prédio e haviam várias pessoas em volta do prédio assistindo pra ver se ele realmente ia se matar.
Ana Paula correu em disparada pra sua casa desejando que seu irmão não tivesse saído para se drogar de novo. Quando a jovem chegou em sua casa sua mãe estava sentada no sofá e Júlia sentada no "braço" do sofá. Ana Paula estava ofegante, e nem deu tempo de falar nada, subiu correndo pro quarto de seu irmão e o avistou no meio do corredor.
-Paulo, você precisa me ajudar, agora é questão de vida ou morte, Paulo. -Ana Paula estava entrando em um estado de palidez. A jovem precisava da ajuda de seu irmão mais do que nunca.
-Ana, eu não vou te levar a lugar algum de moto, porque já está tarde e...
-O ÍCARO VAI SE JOGAR DE UM PRÉDIO SERÁ QUE VOCÊ NÃO PERCEBE ISSO? ESTÁ PASSANDO NA TELEVISÃO, ELE VAI SE JOGAR DO DÉCIMO ANDAR E VOCÊ PREOCUPADO COM ISSO? -Ana Paula esbravejou as palavras bem alto fazendo Paulo se assustar com a reação da jovem. Ok, agora ele teria que levá-la.
-Ok, nós vamos. Mas lembre-se que nós vamos sem capacete.

VOCÊ ESTÁ LENDO
CORRA
Tâm linhÍcaro tem vinte anos e está prestes a cometer o suicídio quando tem um único desejo, falar tudo aquilo que está guardado dentro de si a anos, toda a tristeza, todo o fardo que as pessoas ao seu redor não conseguem entender. Pais, amigos, namoradas...