CORRA

Ana Paula - Vida por almas.

Vinte horas restantes...

Ana Paula continuava andando de um lado para o outro dentro de seu quarto. Janice, sua mãe já tinha descido para a cozinha para esquentar novamente a janta para Ana Paula e Júlia comerem. Júlia estava em frente ao notebook de Ana Paula vendo alguns possíveis rapazes com as características de Ícaro. Com apenas duas coisas, Júlia estava tentando puxar a ficha de Ícaro.

-Ana, você lembra da voz dele? Tu sabe me descrever? -Júlia olhou para Ana Paula que parou no meio do quarto. A voz de Ícaro era muito bonita, mas era uma voz grossa e vazia, como se ele tivesse uns dois, ou três anos de diferença. Era possível ver o vazio dele só pela voz.

-É uma voz grossa, como se ele tivesse uns poucos anos a mais que nós. Sugiro uns dois ou três anos.

-Bom, então eu descarto esse, esse e esse. -Júlia falava apontando quem não tinha as características dele. -Ok, agora me ajuda, sobraram esses três aqui. -Ana Paula se aproximou se sentando e olhando a tela do computador. Tinham três rapazes diferentes entre si. Mas um deles chamou mais atenção e Ana se sentiu tentada a ver mais profundo quem era.

Era um rapaz sorridente, vinte e cinco mil seguidores, todas as mais de duzentas fotos era só ele sorrindo. Ele era bonito mesmo. Ana Paula observava a beleza de Ícaro em todas as fotos. Ele era um rapaz bonito mesmo. Ele tinha porte atlético. Tinham fotos dele com uma menina que também era bonita. As jovens cogitaram a ideia que ela seria namorada dele. As duas abriram o perfil da jovem, e seguia a mesma coisa. Sorrisos, sorrisos e mais sorrisos. Haviam umas fotos de viagens como Walt Disney Parks, Fernando de Noronha, Jurerê. Vitória Araújo era uma jovem de dar inveja. Namorada de Ícaro Carvalho, seu pai era um importante Doutor, tinha um Instituto Clínico próprio que era muito conhecido, e em vista de seu perfil (aparentemente) era feliz. Elas voltaram a vasculhar o perfil de Ícaro quando elas abriram uma das fotos e marcava o bairro Jardim Europa como local da foto.

-Achamos ele amore, viu meu poder de dedução? -Júlia falou e piscou o olho.

-Tá bom, senhora vidente, a gente tem um sim e dois não, né? Porque tanto pode ser ele quanto também não pode ser. Sua dedução pode e não pode ajudar. -Ana falou se levantando e voltando ao seu ato nervoso de passar a mão pela gargantilha e andar de um lado para o outro.

Seu telefone tocou mais uma vez. Era ele! Ícaro. Ana Paula chamou sua mãe e correu para atender seu telefone e Júlia se levantou e olhou pra ela.

-Ícaro? -Ela perguntou engolindo em seco.

-Eu vou me matar, Ana. Daqui vinte horas, eu vou pular desse prédio. -Ele disse firme, mas com uma certa tristeza no falar.

-Aonde você está? -Ana Paula se sentou na cama e Júlia não parava de andar de um lado para o outro. O telefone estava no viva-voz e era possível ouvir a ligação em todo o quarto.

-Não importa agora, ninguém se importou antes. Todo mundo foi embora e me deixou aqui.

-Ícaro... Por favor, me escute... - Júlia derrubou seu telefone e fez um barulho. Ana Paula não queria ter feito nenhum tipo de barulho para que Ícaro se sentisse a vontade de falar com Ana Paula.

-Eu não quero te escutar, eu quero que as pessoas escutem o que eu tenho para dizer. Que a dor do abandono, que esse vazio não passou. -Ícaro falava com nojo, repulsa, como se ele lembrasse de cada pessoa que teve a oportunidade de o ajudar, mas não fizeram.

-Ícaro... Por favor...

- Chega Ana, chega! - Ícaro gritou com Ana Paula e Júlia fez menção de falar alguma coisa. A jovem era calma, desde que não brigassem ou falassem mais alto com ela. -Eu tenho sabe quantos seguidores no Instagram? Vinte e cinco mil! Eu loto um festa em questão de minutos! Eu tenho vaga em uma das melhores faculdades, tenho tudo o que eu quero e cadê todos eles? Em? Onde estão? - Ícaro falava aquilo e ele conseguia atingir Ana Paula nas palavras que ele falava.

Ana Paula se esforçava para pagar a faculdade em dia. Trabalhava pra ajudar a mãe nas despensas da casa, estava sempre disposta a ajudar a família no que precisassem. Depois que o pai de Ana Paula foi embora com outra mulher, Janice entrou em depressão, o que fez Ana Paula se virar para ajudar em tudo. Ana Paula, mesmo muito jovem, viu sua mãe definhar sobre uma cama, seu irmão entrar para as drogas e tudo desmoronar sobre sua cabeça. Ana Paula se cortava para aliviar a sua dor. A dor de ver tudo e todos contra sua mãe, a dor de não ter ninguém que pudesse ajudá-la. Ela encontrou Jesus na Força Jovem Universal. Ela começou a pegar firme, se libertou, foi batizada com o Espirito Santo, e através de sua mudança, ganhou sua mãe pra Jesus. Ela daria sua vida pra salvar outras almas, e não ia ser a de Ícaro que ela ia perder.

-Ícaro, você vai me deixar falar ou você só quer falar? Eu quero te ajudar, você deixa? -Ana Paula falou calma e mansa. Não tinha como ela o ajudar, nervosa do mesmo jeito que ele.

-Nada do que você me falar vai ajudar, eu já decidi o que vou fazer. -Ícaro desligou novamente o telefone.

Ana Paula deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto. Ela era forte, mas não era de ferro. Ela estava mal por não conseguir lidar com Ícaro. Júlia veio até ela e a abraçou.

-Ana, você vai conseguir essa alma. Eu estou contigo! - Julia olhou dentro dos olhos dela. Júlia era uma amiga e tanto.

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