Capítulo 1 | Daddy Issues

514 22 0
                                    

Outono.

As folhas já caiam das árvores e repousavam no chão frio do asfalto. Elas ficam com uma cor bonita nessa época do ano, alaranjadas com uns tons meio amarelos, meio rosados... como um pêssego.

Há sol lá fora, pessoas sorridentes, pássaros cantando... Mas aqui dentro não tem vida como lá fora tem, e já faz tempo que estou assim; meio morto.

Morte... Nunca sabemos quando vai acontecer ou como vai acontecer, ela só acontece. Como deve ser sentir a morte? é doloroso ou libertador? Foi por conta dela que cheguei até aqui.

Quando meu pai morreu eu estava lá e eu me senti congelado. Me perguntava por que não eu ao invés dele, porque aquele homem com certeza não merecia a morte. Se nos lembrássemos que podemos perder alguém subitamente, valorizaríamos mais, seriamos mais compreensivos...

Eu não sei realmente a sensação da morte, mas conheço bem a da perda. Você se sente vazio, sem controle do seu próprio corpo porque você acaba perdendo ele para a dor.

Estou faz dois meses em um hospital psicólogo por conta do acontecido. Eu perdi a vida dentro de mim e estou trabalhando pra traze-la de volta. Não é fácil, nem um pouco.

"Harry?" uma enfermeira me chama, tirando minha atenção das crianças que brincavam lá fora como se não tivessem algum tipo de problema. Talvez eu devesse ás perguntar como que conseguem.

Me viro para a mulher de cabelos extremamente negros e a espero dizer o que queria me dizer. Ela não tinha uma cara muito agradável, mas quem sou eu para falar disso...

"O doutor Smith está á sua espera" ela avisa. Smith era o responsável pelo hospital, um cara baixo de cabelos grisalhos. Ele quem conversava comigo durante esses longos meses, não era tão mal, mas também não era algo que eu desejava estar fazendo. De qualquer forma, sigo a mulher de branco até o final do corredor logo adentrando o consultório do homem. É tudo tão claro que meus olhos doem por estarem tão acostumados com meu quarto cinzento.

"Harry! Entre e feche a porta, por favor." O homem de grande barba grisalha me pede e eu obedeço.

A grande sala do homem é incrivelmente bem organizada e parece ter custado bem caro cada detalhe dela. Eu observo bisbilhoteiro a decoração do lugar, e me sinto até mais confortável do que quando estou naquele quarto cinza e sem muita vida. Pra ser sincero, o fato é que eu já tinha me acostumado com aquilo, não era tão ruim quanto da primeira vez que me deparei por onde eu dormiria pelo resto do tratamento.

Logo estou sentado á sua frente, com minhas mãos bem apertadas e pernas inquietas, o que era normal vindo de mim por ser tão inquieto. Caio em contradição quando lembro que durante esses meses eu tenho sido bastante sereno. Passei a maior parte do tempo aqui dentro parado em frente a grande janela do meu medíocre quarto observando as outras pessoas que viviam ali. Raramente eu me unia á elas. Lá fora costumava ser bem quente, e eu detestava aquele banco de madeira.

"Dormiu bem?" O doutor pergunta enquanto anota algumas coisas em um pedaço de papel.

"O suficiente para estar de pé." eu o respondo e olho através do grande homem a janela enorme atrás do mesmo, me prendendo a imagem que o vidro me proporciona ver. Talvez eu gostasse mesmo de olhar por janelas, ou talvez eu só fizesse aquilo porque fosse minha única opção á não ser enlouquecer sem fazer nada naquele lugar.

"Isso é bom, eu acho." O homem comenta. "Bem, de acordo com suas estatísticas você tem se saído muito bem ultimamente, é um grande processo Harry." Ele em elogia.

Minha atenção é voltada ao homem e eu consigo lhe dar um sorriso fraco de satisfação. Eu não sei onde quer chegar, ou se só quer me dar uma força para continuar tentando.

BESIDE [H.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora