As vezes, o pobre Malfoy não sabia que as coisas que viam eram reais ou apenas sua mente lhe pregando peças.
Jurava ouvir barulhos à noite, ver vultos por trás de algumas árvores e sentir respirações pesadas em sua nuca, mas não contaria pra ninguém; Harry e sua família já estavam se importando demais ao acordar cedo e deixar a casa o mais agradável possível para o "Malfoy da família" (como Sirius havia carinhosamente apelidado).
Porém, era quase impossível não notar que algo incomodava Draco.
Os olhos cinzentos estavam quase sempre arregalados, observando atentamente cada movimento ao seu redor, e as mãos viviam suadas e tremendo.
Draco achava que se sentiria mais seguro com Snape e alguns seguranças ao seu redor, mas aquilo só piorava tudo.
Deixava claro que corria perigo, que tinha algo errado.
Agradecia silenciosamente quando o namorado e até mesmo os sogros faziam questão de afastar aquelas pessoas, para que elas não fizessem perguntas muito indiscretas que poderiam desencadear um ataque de ansiedade.
- Tudo bem? - Harry perguntava toda hora, sua preocupação fazendo com que Draco se se sentisse culpado.
Era tudo culpa dele.
Culpa dele ter fugido, culpa dele ter envolvido as pessoas que maid amava no mundo em uma besteira que era somente dele, e agora todos estavam em perigo.
E se tivesse ficado quieto e apanhado em silêncio? Talvez não tivesse jogado seus problemas nas costas dos outros.
Talvez sua mãe não estivesse internada.
Talvez seu namorado não estivesse passando por um estresse imenso.
Talvez, talvez...
Não queria pensar em mais nada.
Passou a mão pela cabeça, estranhando não ter cabelo por ali.
Estava se sentindo sozinho naquela sala enorme, então se levantou e saiu em busca de almas vivas pela casa, mas qualquer barulho era uma distração.
O piso antigo de madeira bruta rangia, não sabia se era sob seus pés ou só por conta da idade do lugar; as janelas batiam por causa do vento e a casa fazia barulhos estranhos quando se fechava os olhos para ouvir atentamente.
Assustado e sem coragem para andar sozinho por ali, acabou chamando Harry em bom e alto som, não recebendo resposta.
Naquele ponto, o coração de Draco batia tão rápido e forte em seu peito que ele achava que iria infartar. Suas mãos compridas agarravam a parte da frente da camiseta, amassando o tecido com força antes de se sentar no chão.
Sua visão já estava turva, mas o pequeno Draco não sabia se era por conta da tontura ou das lágrimas.
Talvez tivessem o abandonado ali.
Seria melhor para eles, não?
Então por que aquele sentimento ruim crescia em seu peito cada vez mais, pesando, puxando seu corpo para baixo como se tentasse fazer seu corpo ultrapassar o piso.
Respirando com dificuldade, o loiro deixou os soluções e a respiração pesada sair enquanto fincava as unhas roídas nos braços, tentando fazer o possível para se livrar daquela agonia.
Sua blusa agora parecia uma camisa de força, grudada ao seu corpo graças ao suor e ajudando a manter sua respiração ainda mais pesada e dolorida em seus pulmões.
Qualquer coisa, culparia o cigarro.
- Draco? - ouviu uma voz chamando. Se estava longe ou não, aí já não sabia dizer. Seus ouvidos estavam entupidos e chiando forte, a dor de cabeça palpável em seu cérebro.
- Não, por favor... - agarrou os joelhos, se balançando freneticamente para trás e para frente, sua crise parecendo atingir um auge novo e muito maior.
- Santo deus, Dray... - Harry se aproximou tão calmamente quanto podia e se sentou na frente do namorado, com uma distância confortável entre eles - Preciso que você ouça o que eu falo, okay?
A voz macia do moreno prendeu a atenção de Draco, que levantou um pouco o olhar até o mesmo. Sua visão ainda não estava muito clara, mas conseguia ver bem a silhueta do amado.
- Vou pegar suas mãos, tudo bem? - Harry sussurrava calmamente. Mesmo que o loiro tivesse ligeiramente se encolhido ao sentir as mãos quentinhas nas suas, relaxou um pouco os ombros ao notar que queria evitar alguns machucados - Respire devagar. Inspire, segure, expire, segure...
Acompanhando a respiração de Harry, Draco acabou se sentindo um pouquinho menos tenso depois de algum tempo. Seu coração ainda estava acelerado e seus musculos ainda tensos, mad já não chorava ou suava igual antes.
- Obrigado - murmurou, suas pupilas dilatadas focadas em algum ponto aleatório do chão. Se sentia diferente, como se tivesse se perdido dentro de suas próprias inseguranças e simplesmente sumido lá.
- Posso te abraçar? - o moreno apertou levemente suas mãos, os olhos verdes e brilhantes cheios de um carinho e compreensão que tirou o ar de Draco, que nada respondeu.
Um pouco incerto pelo silêncio, Harry decidiu seguir sua intuição.
Se aproximou cuidadosamente, passando os braços devagar pelos ombros ainda um pouco trêmulos do parceiro, que não negou o carinho e até mesmo encostou a cabeça no ombro de Harry.
- Desculpe, desculpe... - uma enxurrada de desculpas escorria dos lábios finos de Draco enquanto o mesmo se deixava ser embalado pelo namorado.
- Tudo bem, amor. 'Tô aqui para te ajudar - um beijo foi depositado na têmpora do loiro, que finalmente deixou os músculos relaxarem.
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Conqueror
RomanceHarry, com seus 19 anos, era, aparentemente, feliz aos olhos alheios; o que era mentira. Tinha amigos, pais maravilhosos e um namorado incrível que lhe fazia muito bem. Porém, seu namorado sofria com um peso horrível chamado "relacionamento abusivo...