Passado De Torturas [Parte 1] - CAP 11

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[Kai Tyhot ON]

[14 anos atrás]

Sempre vivi nessa fazenda. Depois de minha mãe morrer meu pai teve que assumir os negócios mais burocráticos da família e largou sua vida de aventureiro, tendo que voltar a se focar nas plantações. Não é algo que me deixa triste, eu gosto dessa vida calma do campo, mas tive que perder a minha mãe para isso acontecer. Ela morreu depois de ser atacada por um animal feroz. É uma morte bem natural para uma pessoa que vive em lugares isolados da capital, onde há muitos animais selvagens.

Nesse exato momento meu pai está conversando com um possível cliente na sala. Não sei porquê, mas ele não me deixou ouvir a conversa e mandou deixá-los a sós. O cliente vestia roupas estranhamente coloridas, o que chamou ainda mais minha atenção. Por isso fui expiar a conversa por uma janela pelo lado de fora da casa.

- E-Eu não posso fazer isso. Há coisas dentro daquele celeiro que eu preciso. - Escuto a voz de meu pai.

Celeiro? Esse homem está aqui para comprar ele?

- Não se preocupe, só irei usar um pequeno espaço. Com tanto que ninguém se aproxime dele nesse tempo que irei usá-lo, não farei nada. - Escuto uma segunda voz, provavelmente a do homem.

O que ele quer dizer com "Não farei nada"? Ele não vai usar o celeiro? Que conversa mais confusa, devo ter pegado pela metade.

- Meus homens já estão descarregando as coisas lá. Espero que entenda a situação. - A segunda voz ecoa pela última vez.

Mas que coisa estranha, pra que ele vai usar aquele celeiro? E por que tem que ser o daqui?

[...]

Ao anoitecer, antes de dormir, meu pai foi até o meu quarto conversar comigo. Antes dele começar eu já sabia o assunto.

- Kai, quero que você fique longe daquele celeiro onde guardamos as ferramentas, ok?

- Mas por que?

- Parece que... - Ele faz uma pausa mas logo continua. - ...Tem algum animal selvagem lá.

- Animal selvagem? Mas pai...

- Por favor, não quero que aconteça com você o mesmo que aconteceu com a sua mãe.

Ele realmente está preocupado, pra usar essa desculpa tem que estar muito desesperado. Meu pai mal fala da morte da minha mãe. O que for que tiver lá, não deve ser coisa boa.

Depois da conversa fui dormir, mas acordei no meio da noite com gritos e gemidos. Acendi a lamparina e olhei pela janela do meu quarto. O celeiro estava com as luzes acesas, e de lá ecoavam os gemidos de uma garota.

- M-Mas o que está acontecendo lá? - Falo descendo da cama as pressas.

Desci as escadas de meu quarto correndo e fui até o lado de trás do celeiro. Curioso mas cauteloso, pra saber o que estava acontecendo peguei uma escada e a coloquei de frente à uma pequena abertura no alto da parede. Subi os degraus e comecei a observar. Com apenas dois segundos eu me arrependi de ter saido da cama.

Dentro do celeiro estava uma garota de cabelos vermelhos, amarrada em uma mesa. Três homens, incluindo o cara de antes, torturavam-na impiedosamente. Sem pausas, cortavam e recorvam sua pele, como a de um animal pronto pra ser assado. Por causa de sua boca amordaçada, seus gritos eram abafados, mas só olhando para seus olhos cobertos de lágrimas já dava pra saber o tamanho de seu sofrimento. A cada apagada da garota o homem de roupas estranhas trocava o instrumento de tortura, era um mais desumano que o outro.

Eu só fiquei paralisado e observando aquela cena a noite toda. Sem mover os olhos, a cada segundo que se passava os gritos e contorções dela passavam a ser cada vez mais naturais para mim. Chegou um momento em que eu não sentia mais dó, talvez fosse porque eu já tinha um sentimento dominando todo meu coração. O nome desse sentimento era Ódio. Ódio por aqueles homens e por mim, pois não podia fazer nada.

Aquele ódio chegou à um tamanho tão imensurável que sem perceber gerou uma aura negra em minha volta. Rapidamente o homem estranho olhou para janela, talvez houvesse sentido o desejo assassino, mas nada encontrou pois eu já havia descido da escada.

- O que foi senhor Jobi? - Escuto um dos homens.

Então o nome dele é Jobi. Ainda bem, quero saber o nome da pessoa que vou esquartejar. Nesse nível que estou não vou conseguir nem se quer olhar nos olhos dele, mas eu vou ficar mais forte, tão forte que nem a bruxa Stella vai conseguir levantar um dedo pra me ferir.

[...]

Depois daquilo pedi meu pai para me ensinar a usar uma espada, já que ele era um ex aventureiro não era de grande dificuldade para ele me ensinar. No começo ele não quis me ajudar, mas depois viu que eu estava me esforçando e então antes de topar ele me fez prometer uma coisa.

- Promete que nunca vai se arrepender? - Ele me diz olhando nos olhos.

Já estava na cara que ele sabia o porquê de eu treinar tanto. O olhar de um pai preocupado dominava o seu rosto.

- Eu prometo... - Falo com o meu olhar mais sério possível.

[...]

Todas as noites eu ia para atrás do celeiro assistir aquele show de horrores, e durante o dia treinava incansavelmente.

Aqueles gritos de agonia serviam de inspiração para eu continuar lutando. A cada caída minha, eu encarava como uma facada naquela garota. Mesmo cortando todo meu corpo não me dava o luxo de reclamar nem sequer uma vez, pois eu sabia que o que aquela garota estava passando era pior. Eu comia pensando em cortar, dormia pensando em cortar e treinava pensando em cortar. Cortar, Cortar, Cortar, eu só pensava em uma coisa. Cortar a cabeça daqueles caras.

Depois de meses de treinamento eu julguei estar pronto, pois já havia me tornado em um monstro frio e implacável. Algo que até mesmo meu pai começou a ter medo. Ele tinha criado uma perfeita máquina de matar humanos.

[Continua...]

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