Presente De Paz [Parte 1] - CAP 14

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[Kai Tyhot ON]

[Presente]

May, esse é o nome que dei a minha "parceira" que teve a capacidade de raciocinar retirada.

Desde que a conheci, nunca ouvi se quer uma palavra saindo de sua boca. Seus olhos mortos refletem todo o sofrimento que teve que passar, o sofrimento de qual eu à livrei. Mas para que eu pudesse livrá-la, tive que assistir horas intermináveis de torturas.

Salvar ela sem mesmo nem conhecê-la, talvez eu tenha vindo ao mundo só por esse único motivo.

- Eu vim ao mundo unicamente para te livrar de todo o mal, May. - Exclamo olhando para seu olhar vazio e triste.

Desde que cheguei ao castelo eles sempre cuidaram muito bem dela, nunca tive que me preocupar com nada. No começo as empregadas não gostaram muito da idéia de terem que cuidar de uma garota que não conseguia nem falar, mas tiveram que acatar os meus desejos, gostando ou não.

May na maioria das vezes fica trancada nesse quarto. Ela parece gostar dele, até porque eu pedi para que Yuzu fizesse sua decoração. Nem mesmo o quarto do rei e da rainha se comparam a esse.

- Sabe May, você teve sorte em ter feito amizade com a Yuzu. - Falo chegando perto da janela do quarto. - Olha que vista linda tem isso daqui.

May apenas me olha com o mesmo olhar sem emoção e então anda até a janela também.

- Quando você chegou aqui mal conseguia andar. Talvez só não tivesse aprendido ainda né? - Falo sorrindo.

De repente May pega uma das rosas do vaso de flor e coloca em meu cabelo. Uma cena nostálgica, pois Yuzu sempre fazia isso com ela.

- Sem a Yuzu aqui, isso tá virando uma zona. Todos estão começando a desconfiar de você. Não envelhece, não come, não dorme e também não fica cansada. O que eu faço em May? Queria poder apenas ignorar.

Ela pega outra rosa e coloca do lado oposto.

- Que tal envelhecer um pouco May? Isso me ajudaria bastante. - Falo pegando uma das rosas de meu cabelo e coloco no dela.

Desde que a conheci nunca percebi qualquer mudança em sua altura ou face. Sua imortalidade lhe impede de desfrutar de algo natural como o envelhecimento. Eu agora tenho 28 anos, com a aparência de 23, mas ela, nunca muda sua aparência de 16. Me pergunto qual seria a idade dela, mas acho que não deve ter mais que 200 anos.

- Hum... Já deve ser umas 7 horas não é? Que tal darmos uma passeada fora das muralhas do castelo? Já faz um bom tempo que não fazemos isso. - Falo juntando meu braço com o dela e começo a andar pra fora do quarto.

[...]

Caminhando em direção à porta de entrada do castelo sou repreendido por um de meus assistentes.

- Senhor, não acha melhor passear amanhã? Já está de noite, a cidade deve estar muito perigosa agora. - Yuma fala andando na minha frente tentando me bloquear.

- Yuma, se tiver algum perigo naquela cidade então vai ser porque eu vou estar lá. Eu sou um perigo pro mau. - Falo desviando dele.

- Aff, você não tem jeito mesmo. Vou avisar a Shio então, ela vai ficar puta com o senhor.

- Fala com ela que saí pra beber com a May.

- QUE? SÉRIO? - Ele pergunta com olhar de espanto.

- Claro que não idiota, a May não bebe. Tchau. - Falo acenando de costas.

Andando pelas ruas movimentadas do reino, seguimos até uma floricultura alí perto. No começo de nossos passeios, May sempre se incomodava com o número de pessoas, mas com o passar do tempo ela foi se acostumando e perdendo o medo.

- Aaah, aí está o senhor hehe. Demorou para nos visitar dessa vez. - Sou recebido pela dona da loja com toda alegria de sempre.

- Me desculpe, tive alguns problemas lá no castelo.

- Espero que dê tudo certo hehe. - Ela faz uma pausa e continua. - Mas e você May? Sempre com a mesma expressão tristonha, hã? Tem que se alegrar mais.

- Ela não muda essa cara nunca haha, nem adianta.

- Isso é falta de um namorado. Dá pra ver nos olhinhos dela.

Momo-san, dona dessa loja, pensa que May é só uma garota calada. Como não venho aqui há tantos anos, ela nunca percebeu o não envelhecimento dela.

- Mas vamos lá, entrem. Vou preparar um chá enquanto vocês escolhem as flores.

- Bom... Hoje eu não vim comprar flores, mas vou aceitar o chá. - Falo entrando na loja.

Como toda floricultura do reino, só não havia flores nos corredores. Algo realmente normal em um estabelecimento desse tipo.

- É ele mesmo, olha, está até de armadura. - Escuto um grupo de jovens conversando no canto da loja.

Droga, não estou nem um pouco afim de lidar com admiradores agora, é melhor eu fazer algo.

- Olha meu amor, essas parecem ótimas para o nosso casamento. Acho que dariam uma excelente decoração. - Falo abraçando May e apontando pra algumas rosas brancas.

O grupo de meninas logo perde o interesse e saem da loja resmungando.

- Aff, sério? Ele vai se casar com aquela garota?

- Ela parece ser bem mais nova que ele...

Diferente da família real, nós da Armada do Reino somos bem conhecidos entre os cidadães. Chega a ser impossível passear pela cidade na luz do dia, por isso sempre saiu na calada da noite.

[...]

- Aqui está o chá. - Momo fala me servindo.

- Não acha que isso vai incomodar os seus clientes Momo-san? Afinal de contas estamos no meio da loja.

- Não se importe com isso hehe, não vem ninguém aqui a essa hora, já estamos fechando. - Ela fala se servindo também.

Realmente já está bem tarde. Não posso ficar até esse horário fora do castelo, eles praticamente selam todas as passagens durante à noite.

- May sempre gostou de flores? - Ela pergunta observando May admirando os girassóis.

- Sim, Yuzu sempre lhe presenteou com muitas.

- Yuzu?

Putz, cidadães normais não podem saber os nomes dos ex membros da ex família real.

- É... Era uma ex empregada do castelo que morreu.

-Ah sim, entendo.

De repente o sino da porta de entrada toca, anunciando a entrada de alguém na loja.

- MÃE, ONDE ESTÁ O VELHO? - O visitante chega gritando.

- Takase, já disse pra você não chamar seu pai desse jeito.

Takase? Sinto como se já tivesse ouvido esse nome... Não, deve ser coisa da minha cabeça.

De repente Takase olha pra mim e toda sua expressão séria vai embora dando lugar a uma sem reação.

- Boa noite. - Falo com um sorriso.

- Boa noite. - Ele responde mais calmo que nunca.

- O seu pai está lá em cima. Vê se não briga com ele. - Momo exclama.

- Ok. Vou fazer o possível. - Ele responde sem se quer olhar mais uma vez pra mim.

Takase parece ser um cara cheio de segredos. Um dia quero ter um papo com ele.

- Bom... Acho que já estou indo Momo-san, muito obrigado pelo chá. - Falo me levantando.

- Volte sempre que quiser tá? E claro, May-san também.

- É claro hehe... Vamos May? - Procuro May mas não a encontro. - MAY?

Sem respostas começo a me desesperar.

- MAAAAAY.

[Continua...]

C U R S EOnde histórias criam vida. Descubra agora