Inglaterra, 1915
-Estou tão entusiasmada para voltar, não aguento as saudades de Ernesto e das crianças – diz Ema.
-E para contar logo a grande novidade – diz Elisabeta a olhar com um sorriso enorme para a sua melhor amiga, que corresponde.
-Sim, Ernesto vai ficar tão contente. Não quis contar por carta, porque quero contar pessoalmente, mas não aguento a ansiedade. É uma pena que vocês não possam partir comigo para o Vale.
-O médico aconselhou a partirmos só quando Thomas melhorar, é uma viagem difícil para uma criança doente. Mas não vejo a hora de partir também, já não vejo a minha família desde que nós partimos do Brasil. Logo que Thomas melhore nós voltamos.
As despedidas não tinham sido fáceis para Ema, ainda por cima no estado que ela se encontrava. Mas ela não podia pedir mais nada, tinha um trabalho que a realizava, dois filhos maravilhosos, e um italiano que lhe enchia de amor e paixão, uma vida muito boa. Ela estava no mar já fazia alguns dias, e não conseguia pensar noutra coisa, senão na família. Os gémeos tinham já 5 anos, parecia que tinha sido ontem que eles tinham nascido. O amor foi instantâneo por aqueles bambinos, mas depois vieram os receios, os medos de criar dois seres tão indefesos. Ainda se lembrava da gravidez que todos questionavam como ela tinha engordado tanto, chegaram a questionar se ela tinha ido pura para o casamento. Onde já se viu dizer isto a uma dama. Logo ela que ergueu montanhas de lençóis para dormir ao lado de Ernesto, a muralha de jericó como ele gostava de chamar. Foi tirada, de repente, dos seus pensamentos por vários gritos.
No horizonte, avistava-se um navio alemão. Em meados do ano anterior, tinha começado um conflito entre vários países europeus, a Alemanha já tinha invadido a Bélgica e uma parte do norte de França. Por isso, ela tinha decidido antecipar o seu retorno, já não era seguro estar por terras europeias. A embarcação em que viajavam era inglesa e a Inglaterra tinha declarado guerra à Alemanha, o que aumentava o perigo.
Gerou-se uma grande confusão, todos ficaram apavorados, até que se ouvem os primeiros tiros de canhão a atingir o navio. Pessoas começaram a saltar para o mar, outras foram atingidas. A baronesinha ficou paralisada durante alguns segundos, mas depois percebeu que tinha que saltar, não tinha alternativa. Enquanto ela afundava no mar, relembrava o primeiro beijo com Ernesto, o casamento surpresa que ele preparou, o nascimento dos gémeos, e foi com estas memórias que ela afundou nas profundezas do Atlântico e ficou inconsciente.
Vale do Café, 1 mês depois
Darcy e Elisabeta regressavam ao Vale depois da trágica viagem.
-Você está preparada, pergunta Darcy.
-Nunca vou estar preparada para dar uma notícia destas, Ernesto vai ficar destruído e Catherina e Afrânio são tão pequenos para ficarem sem a mãe.
-Ernesto vai ser forte por eles, e vai ter a nossa ajuda.
- Sim, diz Elisabeta.
-Você vai contar que a Ema...
-Não - interrompe Elisabeta - o sofrimento já vai ser muito, não precisa disso também.
Ao longe veem Ernesto a correr, que se dirige a eles.
-Que bom que chegaram, estava tão preocupado com esta falta de notícias, ninguém nos dizia nada. Onde está a baronesinha? Estou a morrer de saudades e...

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Até ao fim das nossas vidas
Lãng mạnUma versão alternativa da volta da Ema ao Brasil. Como Ernesto ficaria se Ema não voltasse? Os personagens já sabem pertencem à nossa querida Jane Austen e ao Marcos Beirnstein.