2 meses antes, São Paulo
O homem já se preparava para ir para o trabalho, quando a campainha tocou. Ele dirigiu-se para a porta pois estava sozinho e espantou-se com quem encontrou.
-O que você faz aqui? – Ele tenta fechar a porta, mas é impedido pela visita. - Vou chamar a polícia.
-Bom dia para o doutor também. Se eu fosse você ia querer ouvir o que tenho a dizer antes de tomar qualquer medida.
-Eu não tenho nada para falar com um criminoso, ainda para mais um como você, Xavier.
-Acho que não sou tão diferente do senhor, ou já se esqueceu dos capangas que pôs a seguir Ema Pricelli?
-O quê? Isso é ridículo.
-Eu sei de tudo doutor, não precisa mentir. Então agora já posso entrar?
-Entre.
-Quem lhe contou isso?
-Não foi muito difícil sabe. Os seus funcionários não são muito bons a disfarçar, qualquer um que estivesse mais atento perceberia ela a ser seguida, e depois foi só dar um apertão neles, para soltarem a língua.
-Desgraçados.
-O doutor já sabia que a Ema tinha voltado e não contou a ninguém, e ainda a queria esconder. Que coisa feia doutor Jorge.
-Isso não lhe diz respeito.
-Tem razão, os problemas da neta do Barão não me interessam nada, apesar daquele Pricelli merecer uma lição por tudo que já me fez.
-Diga logo o que você quer?
-Veja bem doutor eu tenho um ajuste de contas por fazer com aquela gentinha do Vale, mas com a minha prisão os meus bens foram todos confiscados e eu preciso de fundos.
-Você quer dinheiro portanto. E o que eu ganho com isso?
-Para além do meu silêncio?! Eu posso ajudá-lo a ficar com a neta do barão. Seria a vingança ideal contra aquele italiano metido.
-Eu não sou da sua índole, um assassino, não faria nada para prejudicar os outros.
-O doutor já prejudicou, ao tentar esconder a Ema de todos. Quando começamos neste caminho, não há volta a dar, mas eu vou dar-lhe um tempo para pensar. Está aqui o meu endereço no Vale.
Algum tempo depois
Como a Ema se atrevia a tratá-lo daquela maneira, ele que esteve sempre ao lado dela, foi amigo dela a vida inteira. E agora ela rejeita-o para ficar novamente com aquele italiano. Jorge tinha esperanças que depois de ela se esquecer de tudo e lembrar-se dele, pudessem recomeçar a relação de onde tinham parado, ele abriu o coração a ela naquele baile. Mas isto não ia ficar assim, a Ema seria dele e ele já sabia o que ia fazer, tinha uma visita a fazer.
-O doutor por aqui? Sabia que voltava. – Diz Xavier.
-Eu aceito a sua proposta, mas com uma condição, a Ema não sofrerá um único dano, o resto você pode fazer o que quiser.
-Sem rodeios como eu gosto. Pode ficar descansado doutor, temos um trato então.
-Eu vou voltar para São Paulo, tenho assuntos a tratar lá. Qualquer coisa que precisarem falem com os meus funcionários que ficarão por aqui de olho em tudo.
-Dará tudo certo, pode acreditar e nós manteremos contato.
O tempo foi passando e Xavier não aguentava mais ficar nas sombras, a ideia do incêndio tinha sido ótima, ver a cara daqueles otários de sofrimento tinha sido muito bom. Mas depois o doutorzinho veio com reclamações de fazer mal a inocentes que não tinham nada a ver com aquilo, e ele teve de parar. Aqueles ricos eram todos iguais, uns sonsos, ele dizia-se defensor dos fracos, mas não reclamou quando ele lhe apresentou o plano da bomba que iria acabar com o Pricelli. Tudo tinha sido planeado até ao último pormenor. Jorge colocaria a bomba na casa de Elisabeta, e depois seria responsável por tirar Ema de lá. A ideia da doença da filha do doutor tinha sido de génio, assim como todas as suas ideias, pensou Xavier, mas como confiar o trabalho aos outros nunca resulta, o plano deu errado. Agora estavam ali a assistir à morte do Pricelli, dava-lhe algum alento para continuar a sua vingança principalmente contra o Coronel Brandão, e aquela mulherzinha dele, a Benedito que gostava de se vestir de homem. Ele foi tirado dos seus pensamentos, por um barulho de cavalos que se aproximavam, eles teriam companhia e ainda não tinha chegado a hora de se revelarem.
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Até ao fim das nossas vidas
RomanceUma versão alternativa da volta da Ema ao Brasil. Como Ernesto ficaria se Ema não voltasse? Os personagens já sabem pertencem à nossa querida Jane Austen e ao Marcos Beirnstein.