A garçonete do Sexy Bar

Glory Days

O sexy bar foi só uma das cinco opções que ele poderia ter me dado, mas é claro que seria a pior, aqui trabalham outras meninas, como a Rebeca, ela sempre diz que trabalha aqui  porque ninguém se importa com uma mãe solteira que não estudou, ela é americana, saiu de casa pra acompanhar o namorado cantor de uma banda de rock e quando ficou grávida ela foi deixada pra trás.

__ ô branquela, levanta essa bunda magra dai e me ajuda com esse rabo de cavalo.

Essa grossa e mandona é a Brit,  Britany na verdade, é professora, eu perguntei assim que cheguei porque ela trabalhava aqui, ela só me disse que na vida é preciso fazer o que gosta, não o que os pais querem, deu pra ver que ela é meio exibicionista,  ela se olha varias vezes no espelho e passa a língua entre os lábios de uma forma nojenta,  atrás  do sofá me olhando de canto tem a Vick, ela era tatuadora e pediu um empréstimo ao Anthony, não precisa ser gênio pra saber que o negócio dela não decolou, mas ela parece ter gostado daqui, ouvi que ela terminou de pagar ele já tem quase um ano, são todas muito parecidas, a única pessoa além de mim que parece odiar isso aqui é a Lindsay,  eu conheço ela a algum tempo, ela é sobrinha do Anthony, mas ele não é muito afetuoso com família, ela trabalha aqui pra poder pagar a faculdade.

Eu me aproximo dela...

__ oi, como é a noite quando o bar lota?

__ oi Clarissa, o que você acha? Como qualquer outro bar, um inferno no inverno, vão olhar muito,te comer com os olhos, alguns vão fazer piadas, dizer coisas nojentas, e sempre tem os caras que querem passar a mão em você, as namoradas que vem com os caras são de dois tipos,  as que querem te humilhar mandando você ir e vir toda hora, e as que fazem de conta que você nem existe,  mas todas elas vão estar morrendo por dentro.

__ Mas e se alguém tocar em mim o que eu faço?

__ É regra da casa que isso não pode acontecer, mas sempre tem um ou outro engraçadinho,  os seguranças colocam pra fora, mas a verdade é que o meu tio decide se o cliente é ou não culpado, se for alguém importante ele se faz de cego, por isso só tenta fazer tudo rapido,  deixar as bebidas, fazer os pedidos, assim não vai dar tempo de acontecer nada, é assim que eu faço,  tive sorte até hoje.

Ela sorri em cumplicidade.

Quem abre as portas do bar é a Beatrice,  a loira que sempre vejo na cola do Anthony,  eu percebi o jogo dela, é o brinquedinho voluntário dele, já recebi alerta de todo jeito sobre ela. O bar é bem amplo e tem uma temática animada,  mesas dispostas por todo o salão exceto pelo pequeno espaço na frente do palco que eu acredito ser pra dançar, uma coreografia de luzes coloridas vai do chão até o teto nas cores azul, vermelha e amarela, três pessoas no balcão cuidam das bebidas e drinks, no salão somam 6 garçonetes,  a música começa enquanto nós limpamos, e passamos pano, deixando tudo pronto para a noite,  talvez , só talvez não seja tão ruim assim.

É ao som de Pour some sugar on me- Def Leppard, que tenho meu primeiro vislumbre de quem sou agora e como as coisas mudaram nesses últimos dias, exatamente uma semana e quatro dias desde que eu deixei você em uma caixa debaixo da terra, então eu tive que mudar tanto mãe, quando a música estoura no refrão eu pego a farda do dia no meu armário.

__ isso é sério?- pergunto triste.

Você achou que vestiria o que,  um vestido?

__ Espera só até chegar a sexta a gente não usa nada, vai sentir falta desses míseros pedaços de pano.- a Lindsay ri sem graça.

Eu suspiro alto bem alto e bato a porta do armário com força.

__ Nenhuma de vocês trabalha aqui obrigada- eu nem vi ele entar- e qualquer uma que não estiver satisfeita com a farda pode pedir demissão- ele fala olhando direto pra Lindsay e não pra mim.

__ Liss, quero falar com você.

Sob alguns olhares curiosos e um outro de puro ódio,  eu me afasto no canto e espero ele chegar perto.

__ Sabe que pode ter uma vida muito melhor que essa a hora que quiser certo?- eu não respondo - não precisa atender nenhuma daquelas mesas se não quiser,  nem precisa trabalhar se não quiser .

Fala sério, como ele consegue respirar ar puro...

__ Trabalhando Anthony,  é essa a única forma com que vou pagar você,  não existe nenhuma outra.- digo.

__ Ta nas suas mãos princesa.

Def Leppard encerra sua música no salão, e com ela eu encerro meu papo com o Anthony, pego minha caderneta, todas as meninas já saíram com exceção da Beatrice,  eu movo meus pés com força e deixo os dois pra trás, mas não antes de ouvir ele dizer...

__ Fica calada,  não quero ouvir suas reclamações.

Deve ser horrível gostar de alguém e não ser correspondido,  mas pior mesmo deve ser gostar do Anthony e querer ser correspondido,  essa Beatrice deve ser muito idiota mesmo pra querer o amor de um cara assim.

Glory days born to run? Sério? Isso é quase irônico,  mas vamos lá atender a primeira mesa ao som de um glorioso incentivo musical

__ Boa noite, bem vindos a casa! o que desejam pedir?

Eu sorrio docemente para a dupla de homens a minha frente,  um deles o moreno ... gira a aliança no dedo sem parar é provavelmente a primeira vez que vem aqui, tão inquieto que parece que a esposa dele vai entrar a qualquer momento pela porta,  o outro me olha de cima a baixo, está analisando meu corpo," idiota " ele para bem no meio do decote v do meu top, e passa uma das mãos pelo queixo como se fosse me dizer que aprovou.

__ uma Heineken- pede o moreno.

Anoto.

__  E para mim uma  Amstel bem gelada.

Tudo bem até agora.

__ Deveria mexer mais essa bunda pra compensar o que falta no tamanho.  - ele zomba.

A minha vontade varia, vai desde enfiar essa caneta no pescoço dele e descer garganta a baixo até afundar meu salto na cabeça dele,  mas me faço de surda e vou pegar as bebidas...

                     ...

Esse salto está me matando, a casa continua cheia e eu já ouvi todo tipo de comentário,  sobre a minha bunda, minha cara fechada, muito mais do que eu parei pra contar

__ Ei novata,  hora do seu intervalo.- Joe do balcão me avisa.

Eu pego um casaco e decido dar uma volta lá fora, andando pelos fundos do bar e pensando, que grande merda de vida, quando eu parar de sentir pena de mim mesm...

Que barulho é esse?

Batidas estranhas do outro lado da pilha de caixas,  eu paraliso, um som mais forte na parede e um mais fraco das pedrinhas no chão, não dá pra ficar parada sem saber o que é,  me abaixo devagar e pego uma pedra do tamanho de uma garrafa de cerveja,  tiro meus saltos e corro sorrateira pra frente das caixas...

Caralho
Mas que merda...