Da guerra ao inferno.

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"Se dor é o que me mantém perto de você,então eu a recebo de peito aberto."

Quando você  é criança, o mundo não parece assustador mesmo com todos aqueles adultos dizendo, tome cuidado! você não liga, não se importa até  alguma coisa acontecer e te machucar, te machucar de verdade!
A árvore na minha frente já foi cenário de muita risadas em família,  e por família quero dizer minha mãe e eu, a gente costumava sentar lá todo fim de tarde e dizer coisas bonitas... era mais que dizer coisas bonitas sabe era desejar coisas bonitas;  Mas isso não faz muito tempo então porque parece uma lembrança tão distante? -chega- eu digo a mim mesmo, Tem um cara lá fora esperando que eu saia para poder fechar a casa que agora não é mais da mamãe e nem minha, eu fiz as malas... na verdade uma mala! cheia de retratos e algumas peças de roupa e  eu não tenho ideia de para onde vou, acabei de enterrar a minha mãe! será que existe mesmo algum senso de justiça no universo?

_ A senhora precisa mesmo sair agora.
Ele deve estar acostumado com esse tipo de cena, eu nem respondi, o que vou dizer? Não tenho palavras, a única coisa que faço é pegar a mala e mecanicamente mover um pé na frente do outro até estar completamente fora da casa.

Eu sou forte,  eu vou superar tudo isso, ai meu Deus!

O ranger da porta velha se fechando é profundo e doloroso, eu não achei que esse tipo de coisa acontecia, eu sempre soube que a vida era um caos,  mas esse lance de efeito dominó não parecia ser real,  essa coisa de dar tudo errado junto, eu fui forte quando sai do hospital e tive que ir ao serviço funerário,  eu fui mais forte ainda quando joguei um punhado de terra sobre o caixão,  eu também fui forte quando esses estranhos bateram na minha porta, pra me dizer que ela não era mais minha, aguentei até colocar os pés fora de casa, da minha casa, mas agora, esse barulho, o som da madeira rangendo,  isso é a vida toda se desintegrando em questão de segundos,  é a minha vida se desfazendo ao som de uma batida, e é aí que eu percebo que não consigo mais ser forte.
Como se em uma combinação infame e perfeita,  o tempo fecha em uma escuridão silenciosa, os oficiais partiram junto com o ronco de um motor, meus pés não obedecem meus comandos até o vento gelado bater rude no meu rosto, uma tempestade nasce dentro de mim e rompe ao mesmo tempo em que a chuva atinge a minha cabeça.

Correr, correr mais rápido do que os meus pés podem suportar, o vento me empurra na descida, mas eu estou subindo a rua, é estranha a sensação de estar em queda livre, os sapatos, a mala, eu não sei onde deixei, nem sei onde estou indo, a única coisa que eu sei é que estou partindo o vento ao meio, com a minha dor, com o meu próprio corpo,  fugindo de uma guerra, da minha guerra,mas eu posso sentir que quanto mais longe estou da minha guerra mais perto fico do meu próprio inferno pessoal,  não tenho escolha, é para lá que vou.




A garçonete do Sexy Bar Onde histórias criam vida. Descubra agora