Furia

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"Eu nunca fui muito dona das minhas atitudes, não sou muito adepta do método pensar duas vezes"

Um sentimento de ira dentro da minha cabeça faz uma daquelas sequências de tango, eu aperto a travessa com as duas mãos com tanta força que os meus ossos reclamam, o idiota de marca maior comemora seu feito incrível rindo miseravelmente pelas minhas costas, eu ia deixar pra lá, eu ia...

__ viram? É assim que se pesca vadias, amasse a bunda delas e vão fazer fila pra você...

Todos eles riem e batem na mesa

Foda-se

Eu giro tão rápido que quando acerto a travessa na cabeça de alguém eu não tenho certeza se bati no cara certo, até o momento em que a travessa de plástico se parte ao meio, ficando um pedaço em cada uma das minhas mãos equanto perco boa parte do equilíbrio e pelo menos todo o resto de coragem vai junto.

O maldito se levanta da mesa e vem rápido pra cima de mim, ele está bem maior agora, mas nem da tempo de pensar, jogo minhas mãos de qualquer jeito na frente do rosto para me defender... no espaço de tempo entre me xingar de vaca maldita e outra coisa educada, ele me dá um tapa surdo, não espera... acho que eu que fiquei surda.

Dói bem mais do que parece...

Eu miro bem no meio das pernas e coloco meu pé pra jogo, o desgraçado uiva como um cachorro, curva as mãos em concha nos países baixos, então é ai que eu penso.

Será que a minha alma vai poder assitir ao meu velório?

Uma movimentação de seguranças vem pelo meio do salão, de canto de olho eu vejo um soco vindo na minha direção através de um bêbado furioso, eu me rendo, fecho os olhos e me preparo para o impacto, 5,4,3,2... Eu sou puxada para trás na velocidade de carro de fórmula 1, e caio em cima de quem caiu em cima da mesa, certamente a pessoa que acabou de me tirar de uma fria, por impulso eu mordo os braços que me seguram e pulo fora deles.

__ Aaii, porra! Calma.

Ah pronto, senhor esnobe e ego companhia no chão, bem no centro de um par de cadeiras destruído, começo até a considerar ter levado o soco. Ele avalia os braços mordidos e me olha com cara feia, eu viro o rosto torcendo a boca só para descobrir uma multidão de olhos em cima de mim, iclusive os do meu querido Anthony.

__ Lissa, preciso que me explique o que raios aconteceu aqui.

O Anthony parece irritado. Eu corro os olhos pelo salão um pouco intimidada, mas procuro pela Lindsey.

___ Ele bateu na bunda dela, depois bateu na minha, e achou que eu tinha adorado... ELE BATEU NA MINHABUNDA. - grito só pra garantir que todo mundo ouça.

__ De quem exatamente você está falando?

__ Da Lindsey PORra.

Ele olha pra ela como se quisesse confirmar, eu também olho, na verdade todo mundo agora está olhando e esperando pela resposta dela. Por um pouco mais que um minuto achei que ela fosse negar.

__ Er.. er verd... verdade tio.

Uffa...
Quase não sai.

O Anthony anda até o cliente

__ você conhece as regras Dutty, nada de tocar nas garotas sem consentimento delas, e você fez duas vezes. - ele da uma pausa e olha para mim - ainda deixou uma delas sangrando.

Que?

Então eu me dei conta de que estava sentindo um calor no canto da boca, levei um tapa, achei que era isso que deveria sentir, mas quando toquei o local sensível eu senti arder mais ainda, deu pra saborear o sangue, fiz uma careta e como se o fato de saber do ferimento, fosse pontente o suficiente para aumentar a dor.
O Anthony segue com o discurso de moralismo barato dele e expulsa o filho da mãe do bar, mandando que os seguranças levem ele para fora.
Se vira para mim e pega meu queixo analisando o estrago, eu balanço a cabeça com força e me solto do toque dele.

__ Ah docinho! Isso vai ser um problema para nós, essa fúria precisa ser contida...

__ ELE BATEU NA MINHA BUNDA PORRA...

__ Aqui não garota. - ele adverte - Na minha sala Liss, agora.

__ Clarissa! - corrijo apesar de sair andando obedientemente atrás dele até o escritório.

Quando a porta pesada fecha atrás de mim eu sinto um pouco de dor e irritação, talvez também algum medo.

__ Quem você pensa que é? A heroína, o super homem? Você fez a maior confusão no salão cacete, por um traseiro que nem era seu- ele cospe essa parte estendendo as mãos em direção ao meu traseiro.

__ Ganhou o quê com isso? Um tapa, uma boca ferida, fama de louca...

Eu fico calada, mas os meus olhos ameaçam naufragar, é o cansaço, é a situação, é tudo. Ele muda de expressão, passa de irritado e patrão para louco e agitado, me olha de um jeito estranho, quase demoníaco, protetor e doente ao mesmo tempo.

__ você tem noção do que eu tive vontade de fazer quando te vi sendo estapeada daquele jeito? Eu não quero você metida nisso, caralho! Era pra você ficar no seu canto, porra, você não é como elas, você sabe disso não sabe?

__ isso seria adorável de ouvir, se não viesse de você Anthony, eu agradeço sua preocupação, mas não preciso dela, eu sei cuidar de mim, eu sou uma das suas garçonetes e nada a mais que qualquer outra. - mantenho o olhar direto no dele.

__ você é impulsiva, durona e orgulhosa Clarissa, mas eu tenho paciência, uma hora ou outra você vai entender que eu sou a única proteção que você precisa, quando aceitar isso, não vai precisar mais ser uma garçonete.

Vai sonhando...

Eu não falo mais nada, não ia adiantar, respiro fundo e vou em direção a porta, ele fecha a gaveta da escrivaninha com tanta força que eu me assusto e paro, ainda estou de costas quando ele fala.

__ vai pra casa, fica dois dias fora daqui, deve bastar pra sarar sua boca.

Eu faço um sinal de ok com o polegar, e abro a porta só para ver a Betrice caindo de cara no chão, eu ia dizer umas coisinhas, mas quando olhei melhor eu vi que ela estava se banhando em lágrimas, não tenho certeza mas imagino o motivo. Não é meu problema, eu fecho a cara e ignoro as olhadas iradas que ela da na minha direção, apresso o passo e pego meu casaco, quando passo pelo balcão a Lindsey para na minha frente.

__ Desculpa.

É tudo o que ela diz, mas eu não consigo lidar com isso agora, então eu passo por ela e prendo o ar sem nem perceber, só quando estou fora do bar é que solto, o vento bate no meu rosto e bagunça meus cabelos, é libertador, eu tropeço nos próprios pés pelo menos três vezes até me afastar um pouco do lugar, esqueci de tirar os saltos, meio chorosa, meio cansada...
Os meus olhos encontram os dele, eu diminuo os passos, não tenho certeza se devo ignorar ou só pedir desculpas, ele desencosta do muro e vem andando em minha direção, não sei ao certo, mas parece chateado, curioso e também divertido, a medida que chega mais perto, meu corpo me alerta, eu tenho a sensação de estar caindo em uma armadilha.
Eu paro de encarar e começo a andar mais rápido.

___ Então é assim que vai ser?

Você me agride e depois ignora minha presença como se não me devesse ao menos um pedido de desculpas?

Eu viro metade do corpo para Olhar na direção dele...

Calma coração, calma, isso tá muito errado!

__ Desculpa, de verdade!- peço.

__ parece sincero!

__ estou sendo, realmente estou sendo. - digo com uma certa ansiedade na voz.

__ Não é suficiente!

Ele se aproxima, os pés a passos lentos, braços cruzados e um rosto enigmático...

A garçonete do Sexy Bar Onde histórias criam vida. Descubra agora