Capítulo 3: A queda

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Os dias foram passando e com eles a loucura se instalou em todos, menos em mim é claro, que não acreditei em nada dissodesde o início.

Além de descrente, estava começando a ficar irritada, a nova rotina mal me permitia dormir, comíamos correndo para voltar logo ao trabalho, e o cansaço estava começando a me atingir, ainda mais em estar cansada de procurar algo que duvidava sequer existir.

Mas como estou aqui para pagar por não fazer uma faculdade, tenho que me calar e obedecer, por mais que eu não goste.

Nunca encontrei uma vocação, algo que eu realmente quisesse fazer, então pedi um ano sem ir a nenhuma faculdade para tentar descobrir que curso seguir, já se passou esse ano e ainda estou aqui, mas jamais faria meus pais gastarem seu dinheiro a toa.

E a cada dia dessa busca sem sentido mais eu me arrependo disso.
As horas custavam a passar e quando a noite chegava, não conseguia dormir.

Depois de quatro dias resolvo que preciso desabafar, e levo meu pequeno diário ate a amura com uma xícara de chá bem quente me sento com os dedos dos pés tocando só um pouquinho a água, começo então escrever sobre a loucura que tem sido meus dias.
Ja faz um bom tempo desde que escrevi alguma coisa, a última vez datava de 2 meses atrás, o que era muito tempo para alguém que escrevia todos os dias desde s doze anos quando ganhei meu primeiro diário.
A água estava congelante mais não me incomodava tanto, já estava começando a me acostumar com o tempo frio, mesmo que só as pontinhas dos meus dedos tocassem a água, minha atenção ia para ela a todo instante como se um tubarão fosse me puxar pela perna a qualquer minuto, um pensamento bobo já que mesmo que algum viesse eu fugiria com facilidade muito antes que ele me pegasse, mas o medo permanecia mesmo assim.

Passei vários minutos, até horas eu acredito, escrevendo e aquilo havia me relaxado mais do que achei que fosse, a xícara jazia vazia ao lado, e finamente comecei a ficar com sono, estava me preparando para me levantar quando notei algo sem querer com minha visão periférica, havia algo se mexendo bem no cantinho.
Não algo, mais alguém.

O estranho estava escondido, e se eu não houvesse percebido sem querer que ele estava ali, jamais o teria visto. Meu estômago se contraiu e os pelos do meu braço se ouriçaram, meu corpo totalmente paralisado havia ficado em uma posição muito desconfortável, mais não me permitiria nenhum movimento e mesmo que estivesse começando a doer, aguentei firme.
Para meu desespero seja lá quem fosse, resolveu se aproximar muito devagar.
Comecei a voltar a minha posição bem devagar para não faze-lo notar que eu o havia descoberto ali me espiando, quando ele estava a menos de um metro de mim, cometi o maior erro de todos e me virei para ele meu corpo me traindo e se rendendo a curiosidade.

Quando vi quem, ou melhor o que era, dei um grito, algo que e o assustou e o fez mergulhar na água com uma pirueta digna de um show do Sea World, tentei me levantar para correr, mas meus pés molhados me traíram, e me vi em câmera lenta cair na água e logo afundei.

O frio da água fez doer cada osso do meu corpo com o impacto, como se eu tivesse caído em concreto sólido. Tudo estava muito escuro e não conseguia me localizar direito, e como não sabia nadar, só fiquei me lançando em círculos até que minha mão tocou algo liso e oleoso, usei seu corpo como apoio e me lancei para longe, quando virei para trás vi em que eu tocara, e era muito pior do que eu imaginava.

Ele, seja lá o que fosse, era enorme, mais de dois metros fácil da ponta da cauda até a cabeça.
Ele não se parecia em nada com as belas moças com caldas de silicone no Sea World, ele tinha uma pele cinza azulada, meio verde, meio roxa, tudo ao mesmo tempo como se seu corpo se camuflasse na água, como um efeito marmorizado.

Tinha mão grandes com garras imensas no lugar das unhas e membranas interdigitais, sua calda era achatada como uma colher e muito comprida.

Quando olhei seu rosto tudo piorou, ele não tinha pálpebras, só dois olhos inteiramente pretos e muito grandes, não tinha bem um nariz mais algo que lembrava um, porém tinha cortes grandes nas laterais do pescoço que provavelmente eram suas guelras. Tinha lábios muito finos e pálidos e uma crista no topo da cabeça como um rabo de cavalo feito de carne e pele. 

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