Os flocos de neve caem lenta e constantemente pelo ar, acumulando-se numa nova camada sobre a neve já posta ao chão. A parede do lado de fora, com sua lacuna irregular nos tijolos, permite uma visão limitada do interior da sala. A madrugada segue escura e silenciosa, a lua encoberta pelas nuvens que vagueiam pelo céu.
Sons saem de dentro desta sala, mas a menina não consegue identificar nada preciso. Avançando por entre a neve em passos rápidos, mal os olhos distinguem o que acontece no escuro do buraco da parede, tudo o que consegue fazer é desviar de uma figura que dispara ensandecida, a garota caindo no chão ao desequilibrar-se.
As quatro patas correndo tão rápido quanto podem, o focinho preto como todo o corpo, com pelos maculados de um vermelho vivo, que parece reluzir contra a superfície lupina, assim como o branco da neve, contrastando na pelagem. A cauda chicoteando enquanto o corpo dispara para o meio das árvores, desaparecendo.
Alguns instantes se passam desde a aparição do enorme lobo, correndo em disparada, um som tão agoniante quanto a própria tormenta que lhe caracteriza, atravessa o ar. Um choro desolado, um grito em desespero.
E seguido do uivo de um lobo solitário, um grito humano, tão alto quanto do próprio lobo, derrama todo seu sofrimento. Do meio das árvores, os pássaros voam, grasnando e piando, despertos pelo urro aflito do homem que em alguma hora, entrara no bosque, e por infortúnio do destino, cruzou seu caminho com um imenso lobo.
E o baque da realidade lhe atinge tão depressa quanto pode pensar, fazendo-lhe engolir em seco. O grito do homem, seguido do uivar do lobo, não se trata de um homem atacado por um lobo. Mas um lobo transformando-se num homem. Ambos os corpos, compartilhando da mesma angústia cravada na alma.
E ao compreender este breve acontecimento, a menina se vê imersa num furacão de imagens das semanas que se passaram. Sua magia, vampiros e lobisomens, anjos e demônios. Criaturas diversas, que existem em cada dimensão que reproduz a Terra.
E Kim Namjoon, isolando-se bosque adentro, fizera algo que nem mesmo a si mesmo poderá perdoar.
Atônita, ainda processando algumas coisas que lhe retornam tardiamente à mente, Annye Dunken se levanta da neve, as mãos percorrendo o corpo, livrando-se da neve grudada em suas roupas, mas sem realmente prestar atenção no que faz. Tudo parece estranho demais.
Não se recorda deste cenário, muito menos de como foi parar ali, por mais que tente lembrar-se.
Seu corpo parece pesado, e ainda assim leve. Deve ser o esforço por andar na neve fofa. Não sente o frio que deveria, apenas uma ligeira dormência no corpo. Mas a forma como foi parar ali fora, ainda é um mistério.
Estava com Namjoon, no quarto. Então ele a mordeu, ela o prendeu numa sala e...
Piscando lentamente, paralisada sobre seus pés, Annye encara o imenso e irregular buraco nos tijolos. O interior da sala permanece oculto na escuridão, mas se faz visível a cada passo que avança, cautelosa como se uma manada de elefantes estivesse pronta para pisoteá-la.
Aparentemente colaborando com a menina, o céu permite uma breve aparição da lua. O brilho esbranquiçado caminha até o interior da saleta, todo o cenário sendo algo incompreensível até a iluminação revelar cada detalhe.
Pelo chão, a água e o sangue fazem-se um só, encharcando pele, cabelos e roupas da figura caída. Todo aquele sangue, sem dúvidas, um dia esteve no corpo da garota caída, tendo vazado de um ponto ao ombro, a mancha rubra no tecido da vestimenta da menina sendo algo notório, também da perna e pescoço.
Ou ao menos, o que costumava ser uma perna antes de tornar-se uma fina tira de pele que retém ainda a carne que restou colada aos ossos, mastigados e quebrados.
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Um De Sete {BTS}
Fanfiction7 irão te encontrar. 7 irão te matar. 1 irá te amar. Basta apenas escolher o certo. ~3° Lugar no Concurso Literário do Wattpad de 2018 na categoria de Fanfic~ Obra completa: Julho de 2017 -- Junho de 2021