Capítulo 1

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Pete grunhiu. O som do despertador soava em sua cabeça como se estivesse em baixo de mil sinos. Queria poder jogar o aparelho na parede e ficar na cama o dia todo. Mas não podia.
- Merda! - gritou pensando no que havia feito.
Duas semanas atrás, brigara com seus pais. Eles reclamavam sobre ele não fazer faculdade. "Todos os seus colegas já estão se formando!" Era o que gritavam. Bem, aquilo, de certa forma, era verdade. Ele tinha 25 anos e ainda não tinha decidido qual carreira seguir. Porém, naquele fatídico dia, tomou uma decisão, iria começar um curso. E sua escolha fora o que eles mais odiavam em todo o mundo, teatro. Era um comportamento infantil, escolher algo apenas para irritar seus pais, mas eles iriam ter o que tanto desejavam.
Lentamente, ele se arrastou para o banheiro e encarou seu reflexo no espelho. Estava horrível. Qualquer um estaria depois de dormir 14 horas seguidas. Os cabelos escuros estavam bagunçados em várias direções e havia uma marca vermelha onde encostara no travesseiro.
- Sou um lixo, pareço um lixo! - murmurou sem saber direito a razão.
Após arrumar o cabelo, deixando a franja cair sobre seu olho, e aplicar uma boa quantidade de lápis em seus olhos, Pete se arrependeu de não ter tomado banho. Seu cheiro não estava nem um pouco agradável. Já era tarde demais, portanto optou por usar uma grande quantidade de Colônia para mascarar.
Seu celular vibrou sobre a cama, chamando sua atenção. Quando ligou o aparelho, visualizou o horário. Tinha dormido demais e agora precisava chegar ao outro lado da cidade em 30 minutos. Vestiu-se rapidamente, em seu armário encontrava opções bem parecidas, não tendo problemas para encontrar uma jeans e camiseta de banda. Pegou uma jaqueta qualquer que repousava sobre uma cadeira, seus sapatos e o celular e saiu do pequeno apartamento. Calçou os tênis All Star enquanto esperava o elevador, uma tarefa difícil já que uma de suas mãos estava ocupada segurando seus pertences.
O vento frio soprou em seu rosto assim que as portas se abriram. Ele gostava daquela época do ano. Tudo estava calmo, apesar de algumas pessoas parecerem entediadas até demais.
Sem tempo para se demorar em pensamentos, correu para o metrô. Ao descer as escadas, sentiu seu bolso vazio, esquecera a carteira. Sem dinheiro não poderia ia a lugar algum.
- Merda! - gritou ao subir as escadas, esbarrando em alguns irritados transeuntes.
Era fácil chegar ao curso. Ficava no teatro principal da cidade, todos conheciam. Ainda mais os jovens, era perto do local mais famoso para fumar, usar drogas ou beber sem que os pais soubessem.
Decidiu vestir a jaqueta, como forma de se proteger do frio e das pessoas ao seu redor. Seus olhos pararam em um anúncio de uma loja de cosméticos. Uma mulher sorria falsamente ao passar batom em seus lábios perfeitamente desenhados. Falso. A palavra ressoava em sua mente. Sua vida foi baseada nisso. Ele era Peter Lewis Kingston Wentz III, o filho perfeito de um dos empresários mais ricos do país. Aos 18 anos, decidiu que não iria mais viver daquela forma. Sem usar ternos. Sem fingir que gostaria de namorar aquelas garotas superficiais, ou qualquer garota. Foi aí que se tornou, Pete Wentz, garoto rebelde. Esse era um bom título.
Sentia seu tempo se esgotando e teve de começar a correr. Chegou ao teatro mais rápido do que imaginou ser capaz - afinal, por mais que tentasse, não podia lembrar da última vez que tinha corrido.
- Ei! - escutou, assim que passou pela porta. Um rapaz o encarava seriamente, Pete não conseguiu desviar o olhar de sua grande testa para prestrar atenção em outros detalhes.
- Fecha a maldita porta - o tom era bem demoníaco para alguém que definitivamente não era assustador.
Antes que o emo pudesse se mover, alguém desceu as longas escadas.
- Vamos, Bren, pare de incomodar os outros com sua piada idiota.
"Uau" foi o único pensamento que veio a sua mente quando fitou aquele par de olhos azuis, sentindo seu coração pular uma batida. Aquele garoto era maravilhoso. Observou cada detalhe de seu rosto, os cabelos ruivos claros, as bochechas levemente rosadas e os lábios perfeitos.
- Oook, mamãe. Queria poder apenas me divertir.
Eles saíram, o som de suas risadas ainda ecoavam no corredor longo.
Pete não era o tipo de cara que se apaixonava em pouco tempo. Nem que gostava de homens assim. Tão inocente e frágil, nada como os outros parceiros dele. Algo estava errado.
Logo resolveu se focar no som de várias vozes, vindas de uma grande sala no fim do corredor, na porta um aviso indicava o curso. Teatro.
Entrou, ainda receoso. As pessoas pareciam distraídas demais para prestar atenção nele. Então, aqueles eram seus colegas.
Escaneou cada canto do recinto com o olhar e algumas pessoas se sobressairam. Uma menina com o cabelo azul em um lado e roxo no outro. Um jovem de cabelo castanho. Uma mulher loira que gesticulava fortemente, exibindo uma pequena tatuagem em sua braço escrita "Mug"-  "por que diabos alguém teria uma tatuagem escrita caneca?" perguntou mentalmente. E os dois de antes, chamaria-os de Sr. Uau e Sr. Porta, sim, esses eram bons codinomes.
Sua avaliação foi interrompida pela voz de um homem:
- Olá a todos, sou Billie, professor, diretor, etc, etc. Vou estar aqui pelos próximos meses para fazer da vida de vocês um inferno.
Todos riram, exceto Pete. Sorrisos eram realmente raros de serem vistos em seu rosto.
- Agora vamos começar a sofrer hahaha - o homem deu uma risada diabólica e foi difícil não notar a sua beleza. Claro que ele não tinha intenções em ter algo com o professor, mas aquele cara de cabelos negros e olhos maquiados era realmente lindo.
Enquanto fazia alguns exercícios, observou a turma. Nem todos ali pareciam ter uma vocação para a carreira artística, inclusive ele. Aquele parecia ser um curso em que qualquer um que tivesse dinheiro poderia entrar.
- Ok, ok, um intervalo de 15 minutos pra vocês, fracotes.
Já haviam se passado horas e Pete estava exausto. Apenas alguns minutos não seriam suficientes para descansar.
- O bom é que arrependimento não mata...- sussurrou para si e sentou em uma cadeira em um canto afastado.
- Oi...? 
Ele tirou os olhos do celular para encarar quem quer que estivesse incomodando seu descanso. Seu coração acelerou ao ver que era o Sr. Uau. E, realmente, aquele menino parecia ser cada vez mais "uau".
- Oi.
- Sou o Patrick! - sorriu.
Aquele era o sorriso mais lindo que o moreno já tinha visto em toda a sua vida.
- Pete.
- Como você está?
Antes que pudesse sequer pensar, as palavras escaparam da sua boca:
- O que está fazendo aqui?
A expressão do outro se tornou pura confusão.
- Sério, você poderia estar com qualquer um. Por que está aqui?
Ele não sabia a razão daquelas palavras. Gostava do colega, então qual a necessidade de afastá-lo daquela forma?
- Vo-você está sozinho.
- Pena? Mais um pra minha conta.
Aquilo eram lágrimas ou o mar azul de seus olhos estava escorrendo?
- Está bem - falou irritado.
"Ele fica sexy irritado" o pensamento veio antes que pudesse se policiar.
- Vou embora, se é o que deseja.
Não, aquilo não seria um daqueles filmes em que o casal briga e, no fim, um deles grita "fique comigo" e vivem felizes para sempre. Isso era uma ilusão idiota.
- Merda, merda, merda, merda! - murmurou.
O que tinha de errado com ele? Por que tinha que ter falado daquém forma com Patrick? Agora assistia ao Sr. Uau ir embora com uma expressão decepcionada. Em parte, aquilo não fazia sentido. Ele tinha 0 razões para se decepcionar, qualquer um que conhecesse Pete Wentz saberia que ele era uma pessoa horrível, indigno da amizade de um anjo como aquele.

Sr. Uau ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora