Capítulo 4

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(Trigger Warning: relacionamento abusivo)

Apesar de seu medo, dormir certamente nunca foi um problema para Wentz. Entretanto, naquela noite, acordou com uma vontade imensa de usar o banheiro. Ao se levantar, escutou um som vindo da sala. Parecia algo como soluços de choro.
Calmamente, andou até lá, encontrando Patrick sentado no sofá, com o rosto escondido no travesseiro.
- Trick...? - seu tom de voz era baixo, queria deixá-lo o mais confortável possível.
- Eu... me-me desculpe por te a-acordar.
Em passos lentos, se aproximou. Odiava vê-lo sofrer.
- Quer conversar...?
Ele era péssimo para lidar com sentimentos e conselhos. Mas tentaria dar o seu melhor.
- Promete que não vai contar pra ninguém?
- Prometo.
Enquanto o ruivo respirava profundamente, ele se sentou ao seu lado.
- Meu namorado, ex-namorado, me disse algumas co-coisas horríveis. Disse que ninguém poderia me a-amar, que eu era um monstro. Que era feio e as pessoas na-não conseguiam nem me en-encarar. 
Aquilo era demais para ele escutar. Se encontrasse aquele desgraçado na rua não conseguiria responder por seus atos.
- Patrick, olhe para mim.
Mesmo que estivesse com a face vermelha e o nariz escorrendo, ele ainda era lindo.
- Patrick, ele é um idiota. Você é perfeito. Nunca vi alguém como você em toda minha vida. Sei que fui mau quando nos conhecemos e que você não tem razão para acreditar no que digo. Mas realmente acho isso. Nunca diria se não fosse verdade. Você é lindo de verdade, no interior e exterior.
- Se conhecesse quem sou de verdade, nunca diria essas coisas. Sou uma pessoa horrível. Queria beijar outros caras quando namorava. Alguém bom não faria isso.
- Um pequeno deslize não te faz mau. Só mostra quão humano é. E que se foda o que ele disse. Ele é passado. Você precisa encontrar alguém que te faça feliz e esquece-lo.
- Queria que fo-fosse tão simples. Ele me machucou. Digo, de verdade. Na nossa última briga, ele me ba-bateu.
Ninguém poderia tocar no seu Patrick daquela forma. Ele não iria deixar. Porém, precisava se controlar, não podia surtar de novo. Se fizesse isso iria provar que era igual ao outro.
Ele colocou seus braços ao redor do menino que tremia.
- Posso ver onde ele te machucou?
Lentamente levantou a manga de sua blusa e marcas roxas apareceram.
O moreno segurou seu pulso, como se fosse feito de vidro, e depositou um beijo ali.
- Não vou deixar alguém fazer isso contigo. Nunca mais. Prometo.
Então, ficaram em silêncio, até que o único som no apartamento fosse o de suas calmas respirações.

Patrick acordou levemente desconfortável, sentindo um peso sobre seu ombro. Lembrou-se da noite anterior. Aquilo fora... indescritível. Abrir-se daquela maneira para alguém que mal conhecia, as palavras de Pete, dormirem abraçados.
Pegou seu celular e verificou o horário. Já passava do meio-dia! Tinham perdido metade da aula. Ele não se lembrava de ter dormido tão bem em muito tempo. Por causa de sua insegurança com Gerard, dormia no máximo 3 horas por dia.
Escutou um som ao seu lado e percebeu que Pete parecia acordar.
- Bom dia - sussurrou.
- Booom diaaa - suas palavras saíram bagunçadas por um bocejo.
Na madrugada, não pode observar o quão lindo ele ficava sem maquiagem, porém, agora tinha esse privilégio.
- Quer comer algo?
- Claro.
Ambos se levantaram e foram para a pequena cozinha - tudo naquele lugar era pequeno, inclusive as pessoas lá dentro.
Abrindo o armário, o moreno pegou uma caixa de cereal. Aquilo era o melhor que tinha.
- Então, me conte mais sobre você, Pete...? - falou Patrick enquanto limpava algumas embalagens do balcão.
- Wentz.
- Tipo O Pete Wentz?
- Aham.
- Mas ele...
- Surtou? Agrediu um paparazzi que o seguia e depois desapareceu? Esse sou eu.
- Mas... você está diferente.
- 7 anos se passaram. Mudei muito nesse tempo. Propositalmente. Por isso não uso meu sobrenome frequentemente. Por isso tenho diversas tatuagens. Algumas pessoas nunca esqueceram o meu surto e acham que ainda sou o mesmo. Todos me julgam pelo que aconteceu, têm medo de mim. Mas ninguém sabe a verdade por trás. - ele parecia um pouco magoado.
Um celular começou a tocar, emitindo o som de We will rock you por todo o local. O ruivo se levantou e atendeu:
- PAAAT!!! ONDE VOCÊ SE METEU?
Brendon berrava.
- Eu esqueci de avisar. Estou na casa de um... amigo.
- VOCÊ NÃO TEM AMIGOS, PATRICK STUMP. EU SOU SEU ÚNICO AMIGO.
- É o Pete, do curso.
- OPA.
- Bren, pode parar de gritar agora.
- Me encontre no lugar de sempre depois que sair daqui. Lembre-se de trazer seu novo namorado.
- Ele não é meu...
A ligação já tinha sido encerrada.
Ele voltou a se sentar.
- Está tudo bem?
- Podemos nos encontrar com o Brendon mais tarde?
- Claro. Só acho que preciso - cheirou a própria roupa - tomar um banho antes.
Sorriu e jogou seu cereal de volta na embalagem.
- Tem leite na geladeira. Sinta-se em casa.

Após algum tempo, quando a noite já envolvia a cidade, eles saíram. Podia soar repetitivo na mente de Patrick, mas seu colega ficava mais lindo ainda sob as luzes. A maioria cairia de amores pelo antigo Pete - as meninas de sua escola sempre eram apaixonadas por ele -, mas ele não. O diferente sempre lhe soou mais atrativo que o comum. Qual seria a graça de estar com alguém que fosse igual aos outros?
Diferente de todos ao seu redor, ele nunca havia culpado o rapaz pelo que aconteceu. Eles agiam como se fosse um monstro - ele tinha sido errado por ter partido para a agressão, entretanto, aquilo já passava dos limites, estavam seguindo-o sem parar por horas. Conseguia se lembrar da reportagem na televisão. Ainda sim, ficou curioso para saber o outro lado da história.
Finalmente chegaram a lanchonete. Estava vazia, por isso conseguiram facilmente visualizar Brendon acenando freneticamente.
- Paaat! Finalmente, você quase me matou de susto.
- Quando você realmente notou que eu não estava lá?
- Pela manhã. Mas isso não torna minha preocupação menos válida. É que passei a madrugada meio ocupado, se é que me entende. De qualquer forma, você passou a noite na casa de um estranho.
Falava tão rápido que os outros dois ainda sentavam quando terminou de falar.
- Pete não é um estranho.
- Acho que precisamos nos conhecer melhor. Sou Brendon Urie, prazer. Agora vamos ao que interessa: você é gay?
O emo sentiu suas bochechas esquentarem.
- Eu...
- Ah, ótimo. A pergunta que não quer calar: vocês transaram?
Ele estava tão vermelho que podia se confundir com o vidro de ketchup da mesa.
- Ainda não.
Depois de perceber o que falou, o mais baixo corou. Naquele momento os dois queriam poder sair correndo dali.
Antes de pudessem falar qualquer coisa, um homem de cabelos negros adentrou e toda a atenção do Sr. Porta foi voltada para lá.
- RYAN!
(Nesse momento começou a tocar  We're so starving, estou assustada PRETTY.ODD.)
Ao sentar-se, trocaram um beijo demorado.
O ruivo pegou um guardanapo e jogou neles, fazendo com que se separassem.
- Eca! Parem de enfiar a língua na garganta um do outro.
- Você fala, mas também queria estar com a sua língua na boca dele.
Ok, agora era impossível alguém estar com a face mais corada que Pete. Ao contrario dele, todos riam normalmente.
A conversa seguiu sem mais perguntas ou comentários constrangedores. Descobriu algumas coisas interessantes sobre seus colegas de teatro. Patrick Stump tinha 21 anos, era um amante de Queen e um cantor e ator exímio. Brendon Urie era, bem, Brendon Urie. Um pouco impossível de explicar. Antes que pudesse souber mais sobre Ryan, dois homens adentraram o lugar, desviando sua atenção. Um deles tinha um dessarrumado cabelo castanho e algumas tatuagens. O outro tinha muitas tatuagens, praticamente todas as partes de seu corpo que podiam ser vistas estavam cobertas por desenhos, parecia bem assustador, se não o conhecessem.
- Yo, Pete!
- Joe! Andy!
O resto da mesa os encava, confusos.
- Esses são meus amigos, Andy e Joe, - apontou para eles - e esses são meus colegas do curso de teatro, Brendon, Patrick e Ryan.
- Olá! Querem se juntar a gente? Nós somos legais, juro.
- Yo, claro.
- Vocês precisam escutar a história de como eu fui preso.
- DE NOVO NÃO! - seus amigos gritaram. Ele nem tinha conta do aquela história muitas vezes. E dois ali nunca a escutaram.
- Começou em uma noite chuvosa...
Não puderam evitar de rir e escutá-lo falar.

Sr. Uau ●Peterick●Onde histórias criam vida. Descubra agora