parte II: 17 de janeiro

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O dia do diário tinha passado e eu não havia escrito absolutamente nada sobre Hyeju. Não era por falta de criatividade ou por ela não ter qualidade, eu só não me senti tão motivada quanto Haeyoon, por exemplo. Essa sim já havia feito três páginas, frente e verso, sobre o macho de estimação dela. eu fico um pouco preocupada com Haeyoon pois me parece que só ela se dedica ao namoro, ela sempre está querendo inovar enquanto ele só envia foto do pau e acha que está tudo bem romântico. Não quero ser intrometida mas decidi que a qualquer sinal que me deixe em alerta, irei interferir ela querendo ou não. 

Minho decidiu fazer o jantar — que com certeza ia dar errado — e Sooyoung não comeria em casa. Também, não soube o porquê. Ela malmente dá bom dia, boa tarde ou boa noite, e some. Eu não sei como conviver com uma pessoa dessas pode ser bom, não quero nem imaginar a coitada da alma que se envolver com ela.

Estávamos conversando sobre assuntos aleatórios até Haeyoon tocar no assunto mais delicado para mim: namoros à distância. Era como tocar na minha ferida com toda agressividade possível sem nem se desculpar depois.

— Uma vez eu já namorei à distância — disse Minho.

— Tenho medo de namoros à distância — disse Haeyoon.

— Por quê?! — perguntei como se não tivesse interesse na justificativa.

— Porque a pessoa está super longe. Você não sabe o que ela faz por lá. A pessoa pode estar muito bem dizendo que te ama mas beijando outras bocas. Eu sou monogâmica, não tenho maturidade emocional para entender e estar num relacionamento poligâmico. Sem contar você nem pode sentir um pouco da pessoa, sabe?! É tudo muito na cara e na coragem. Sou bem neurótica, não sirvo para essa prova de fogo.

— Não acho que todo namoro à distância seja furada — defendi por entrelinhas.

— Falo isso porque já namorei à distância. Ele me traía muito e eu me prometi que não iria repetir esse erro duas vezes.

— Mas nem todas as pessoas são mau caráter como esse cara. Não torne as suas experiências como as de todos.

Minho parou de cozinhar e me encarou por aquela ser a primeira vez que eu defendia meu ponto de vista acima da opinião de outra pessoa. Normalmente, eu tentava equilibrar tudo para não ficar de nenhum dos lados e causar intrigas. Entretanto, me encontrava farta disso.

— Namora à distância, Chaewon?!

— O quê?! Não!

— Então por que ficou toda irritadinha?! — disse em tom de brincadeira mas eu fiquei tão nervosa que não consegui levar no mesmo tom.

— Porque não curto generalizações nem pessoas que têm suas experiências e acham que todo mundo vai ser igual a ti. Digo, a gente não tem de sentir pena se nós formos traídos, juramos fidelidade e a cumprimos, devemos sentir pena de quem cometeu o erro, ela que foi contra seus valores e caráter, acredito muito na lei do retorno e acho que se uma pessoa faz uma coisa errada desse tipo, trair a confiança, o amor e a lealdade de alguém, ela vai ser recompensada de uma forma tão cruel quanto a besteira que ela fez. 

— Ainda fico com um pé atrás sobre namoro à distância, não tem como isso dar certo, gente — disse Haeyoon, me deixando ainda mais nervosa.

— Você tem seu namorado por perto e acabou, não precisa ficar se preocupando com quem namora à distância, à menos que faça o mesmo.

— Wonnie, qual o seu problema?! — perguntou Minho e talvez eu estivesse um pouco descontrolada.

— Nenhum, eu só... Não acho legal sempre colocar suas experiências como únicas para um determinado caso, como se aquilo que você viveu fosse uma verdade absoluta quando verdade absoluta nem existe, sabe?!

— O quê?! — Minho realmente estava confuso com os meus posicionamentos.

— Nada, não sei... Perdi a fome — me retirei da mesa e fui para o meu quarto, trancando-me naquele cubículo que poderia abafar os meus gritos internos de descontrole.

Fechei os olhos com força, me culpando por agora estar pensando nas caraminholas contadas por Haeyoon. Minha mente se encontrava num pântano de palavras inseguras e que emitiam desconfiança, algo que eu menos queria ter de Hyeju porque ela nunca me deu motivo para isso.

Enviei-a uma mensagem perguntando sobre confiança em relacionamentos, e ela respondeu singelamente com "é a base de tudo". Essa pequena frase me deixou mais calma porque eu sabia do caráter de Hyeju e entendia que ela seguia à risca os seus princípios.

Me preocupar à toa era o meu melhor passatempo para deixar a minha mente mais transtornada do que ela já era.

vinho tinto ✦ hyewonOnde histórias criam vida. Descubra agora