parte X: 15 de julho

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Quando já estava de madrugada, resolvi voltar para casa pois não tinha outro lugar para dormir. Eu saí sem dinheiro algum para pagar um hotel e dormir no mesmo, e o banco da praça parecia muito frio. Não tinha necessidade de todo aquele drama, eu sei, eu estava ciente, é só que... São anos ouvindo os mesmos questionamentos e quando descobrem sobre mim, vem uma tonelada de achismos e perguntas que eu não me sinto confortável para responder.

Eu vivi durante anos tendo o meu limite desrespeitado e nunca pude reclamar pois isso me tornava egoísta e insensível. Ter um surto que me levou a um nível de magoar pessoas me fez entender algo que me fazia ter um grande bloqueio: meus colegas de apartamento. As suas feições de susto, surpresa e desaponte me fizeram perceber que eu sempre os considerei meus amigos, só me negava a isso pois era muito cômodo vestir-me de grande vítima da situação.

Quer dizer, eu realmente passei por essas situações de invasão de privacidade durante tanto tempo que ao invés de me acostumar, deixei uma bexiga ser inflada até que ela estourou e não me deixou juntar os seus pedaços para não assustar ninguém. Infelizmente já havia acontecido e o mais sensato que eu poderia fazer era me desculpar pela grosseria.

Assim que voltei, entrei na ponta dos pés em casa. Tirei os sapatos e caminhei vagarosamente para o banheiro. A minha toalha e roupas limpas estavam lá, me esperando. a única coisa que rompeu o silêncio da madrugada fora a água do chuveiro, que eu tentei ser o mais breve possível. Depois do banho, vesti meu pijama de dormir e fui até a cozinha. Haeyoon tinha deixado um belo prato no forno, este que eu esquentei no micro-ondas e devorei a bela coxa de frango assado que deixaram para mim.

Isso só me fez sentir ainda pior, eu precisava mesmo me desculpar.

Ao retornar ao banheiro, escovei os meus dentes e me dirigi para o quarto, oq ue me fez levar um susto ao notar que Sooyoung estava ali. Eu esperava Haeyoon ou até mesmo Minho, mas ela não. Tudo bem que seu guarda-roupas estava em falta e o vazamento fazia a sua rinite atacar, mas ultimamente ela preferia dormir na sala ao colchonete no meu quarto.

Abracei as roupas sujas e fiquei parada na porta, esperando que ela saísse da minha cama e fosse para o colchão onde estava dormindo, mas ela não o fez. Pelo contrário, ficou me observando entrar no quarto e guardar os meus pertences.

— Não precisava ficar me esperando.

— Achei necessário. Acho que precisamos conversar.

— Não, obrigada.

— Me desculpe se fui rude com você, só hoje percebi que fazia isso. Eu normalmente não sou a melhor pessoa para se ter amizade logo de cara. Sou diferente de Haeyoon e Minho e, de fato, não muito calorosa em recepções, mas prometo que vou melhorar com você. Nem você e nem ninguém tem culpa de qualquer coisa que aconteça na minha vida pessoal.

— Sooyoung, eu disse não.

— E eu também tenho uma namorada, ela mora a alguns quarteirões daqui. Ela se chama Jiwoo e nós namoramos há três anos. Eu também passei por várias invasões do meu espaço até que admiti, em voz alta, que era lésbica para Minho e Haeyoon. No final de tudo, eles só querem te acolher e mostrar que você é uma de nós.

Instantaneamente eu parei de guardar meus brincos e a caixinha da aliança. Me virei para ela tentando não demonstrar surpresa, o que era quase impossível. Eu gostaria de ser tão discreta quanto ela foi todo esse tempo.

— Minho e Haeyoon sabem mas eu nunca dou brechas para que façam perguntas, eu realmente não gosto que se metam na minha vida e por isso não, julguei o seu comportamento mais cedo. Eu entenderei se não quiser falar nada, deve estar bem cansada e tudo o mais. Só quero que saiba que pode confidenciar tudo o que quiser comigo porque eu te entendo, eu sei o que é estar nessa posição, eu já tive a sua idade e já tive conflitos de entendimento sobre mim e minha posição no mundo. Você é nossa caçula, Chaewon, nós gostamos muito de você e queremos que se sinta acolhida. Tudo bem que a forma que eles fazem é totalmente errada, eu também já passei por isso, mas entenda que o jeito deles dizerem que está tudo bem... Você faz parte dessa pequena comunidade, somos a família que você escolheu então não podemos esconder coisas assim porque isso pode ajudar no nosso convívio. Ninguém disse que morar em grupo ia ser fácil, mas temos meio de melhorar isso.

Dei um meio sorriso e fiz que sim com a cabeça. Fechei a porta do quarto e me deitem na cama, de frente para Sooyoung. Ela se deitou de frente para mim também, apenas com o abajur nos iluminando. Sooyoung parecia tão leve e... Diferente... 

— E então, quer me contar alguma coisa?!

Pensei um pouco antes de abrir a boca e respirei fundo. Ainda não sabia se podia confiar em Sooyoung mas ela seria muito mia compreensiva que qualquer outro naquela casa, então decidi falar. 

— O nome dela é Hyeju...

vinho tinto ✦ hyewonOnde histórias criam vida. Descubra agora