parte VII: 21 de maio

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Como estudar em casa estava sendo uma das piores coisas da vida — já que Minho levava inúmeras garotas para atormentar a casa em barulhos, Haeyoon achava que estava na própria turnê musical e Sooyoung passara a frequentar meu quarto com frequência pelo vazamento e a falta do guarda-roupas no seu —, decidi estudar na faculdade.

Morar em grupo é algo surreal se você não tiver regras. Antes de sair, eu vi um caderno de Sooyoung em que o título era "novas regras". Ela propunha restringir a entrada de garotos e garotas no apartamento a menos que os outros colegas estivessem fora e não fossem retornar, também propunha a divisão de determinados alimentos e a reposição caso alguém comesse o lanche que não era seu, tinha também duplas de limpeza nos fins de semana, além de nunca deixar louça suja antes de sair.

Infelizmente não podia reclamar sobre isso pois Sooyoung era realmente a única que poderia manter a ordem naquele apartamento.

O trabalho estava a me deixar exausta. Já tentou trabalhar numa cafeteria?! Não é como nos filmes. Existem milhões de formas de tomar café e as pessoas são tão irritantes em suas escolhas, sabe?! Cara, você literalmente está n fila há dez minutos e deixou para escolher o seu pedido só no caixa?! Sério, o ser humano é muito difícil de se lidar. Não estava tendo tanto tempo para mim apesar de ser um emprego de meio período, precisava me dedicar aos estudos e me formar o mais rápido possível para não precisar dividir o apartamento com os meus colegas.

Acho que por guardar tudo para mim e não confiar neles, a convivência parecia quase insuportável.

Olhava para todos naquela biblioteca da faculdade e pensava umas besteiras que me atormentavam. Sabe quando parece que você é um erro em determinado lugar?! Era assim que eu me sentia. Não sei explicar mas ultimamente eu sinto uma angústia recorrente, como se eu não me encaixasse em lugar nenhum.

Isso veio me deprimindo, eu não conseguia mais prestar atenção nas linhas do livro, nem nas coisas que eu grifava ou nas demais matérias estudadas pelos outros alunos que dividiam a mesa comigo. A minha visão estava turva, minha nuca doía e minhas mãos suavam. Minha respiração foi ficando cada vez mais pesada e intensa a ponto de chamar atenção dos outros alunos. 

Eu estava tendo uma crise de pânico.

As batidas do meu coração soavam mais altas e a minha boca tinha um péssimo gosto quente, me sentia meio quente e tonta. Enfiei todos os livros dentro da mochila e tentei manter o foco na calma de minha respiração. Ao meu lado estava uma colega de classe que me perguntou se eu queria ajuda mas a sua voz estava tão longe que eu tentei negar com a cabeça fiquei girando-a descompensadamente. Tentei me levantar para ir ao banheiro lavar o rosto e essa foi a última lembrança de que guardei na memória antes de desmaiar no chão da biblioteca.

Quando acordei do desmaio, a enfermeira me deu um sermão imenso por não estar me alimentando direito. Sei que estou pecando na alimentação mas é exatamente assim que o sistema funciona; você precisa gerar renda e para gerar renda, você precisa ter tempo. Necessidades básicas como dormir e comer são vetadas pois desenvolvemos a miragem de que nossa estrutura corporal vai aguentar, só que isso não dura muito tempo porque estamos matando os comandos cerebrais aos poucos, logo, não adianta ter uma boa forma física se o psicológico está totalmente fodido. Eu não ouvi metade do que a enfermeira disse mas concordei. Ela me deu umas instruções para que mudasse a alimentação e esse tipo de coisa.

Quando estava quase saindo da faculdade e indo para casa, o porteiro me parou e disse que tinha algo para mim. Ele tirou de trás do balcão um enorme buquê de rosas e me entregou, dizendo que tinham o entregue mas que não dizia quem havia enviado. Agradeci e fui me retirando da faculdade. Havia um cartão com um "h" desenhado na frente. Dentro, tinha uma pequena cartinha escrita por Hyeju, ela se desculpava pela crise de ciúmes que teve há uma semana.

Eu sabia que ela tinha ficado com aquilo na cabeça e faria algo ainda maior para fazer com que aquela rosa que recebi se tornasse algo insignificante. Para mim, Hyeju já era tudo, só ela não havia percebido.

Ao retornar para casa, Minho admitiu ter me enviado a rosa pata fazer uma brincadeira mas não imaginou que causaria um caos, como o que ocorreu. Ela me perguntou se eu toparia jantar fora qualquer dia desses e antes que pudesse responder, ele viu o meu buquê e o cartão pregado nele. Admito que o deixei bem visível para o impedir de prosseguir com a sua proposta e meio que deu certo já que ele incluiu Sooyoung e Haeyoon no convite.

vinho tinto ✦ hyewonOnde histórias criam vida. Descubra agora