Ultrapassando Barreiras

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Camila estava sozinha debaixo da sombra de uma árvore no parque. Era uma manhã bonita e ensolarada, e várias crianças passeavam com seus cachorros. Ela podia ouvir as risadas e os latidos trazidos pelo vento de muito longe. O vento travesso brincava com as mechas de seus cabelos, fazendo-as ricochetearem em sua face com leveza, como se a acariciassem. Ela suspirou profundamente e deixou seu corpo relaxar ao som do farfalhar das folhas acima de sua cabeça. Percebeu que tinha um sorriso no rosto, mas também podia ser por causa da claridade, que a obrigava a estreitar os olhos. Poderia ter ficado ali por muito e muito tempo, só admirando a paisagem, sentindo o vento, escutando os ruídos tranqüilizadores... mas ainda assim sentia que faltava alguma coisa para que ele se sentisse completa. Até que, de repente, sentiu dois braços enlaçando seu tórax e um corpo foi pressionado contra as suas costas em um abraço firme e reconfortante. Então, de um momento para o outro, estava tudo tão perfeito! Como se ela tivesse encontrado finalmente uma parte de si mesma que havia muito tempo tinha perdido. Camila queria virar-se para ver quem era, mas quem quer que estivesse atrás dela tinha encaixado o queixo em seu ombro e a impedia de virar-se.

- É você, Lauren? - Camila ouviu a própria voz muito distante, como se o vento levasse as palavras antes mesmo de saírem de sua boca.

- E quem mais poderia ser? - perguntou aquela voz grossa, meio cantada, meio sussurrada diretamente em seu ouvido, enviando espasmos deliciosos por todo o seu corpo.

Camila estremeceu e sentiu a outra se afastar um pouco. Seu próprio corpo protestou pela distância, mas antes que conseguisse virar-se, sentiu-a aproximar-se novamente, dessa vez sussurrando no outro ouvido:

- Posso? - perguntou, estreitando-a entre os braços fortes e fazendo-a sentir-se inebriada.

- Pode o quê? - ofegou, fechando os olhos para aproveitar mais as sensações.

- Entrar na sua vida... te ensinar a viver... a ser feliz... - houve uma nova pausa enquanto a outra escorregava o nariz por seu pescoço provocativamente e então voltou a ronronar: - Fazer você feliz, Camila... posso?

Camila ensaiou a resposta que já estava na ponta da sua língua. Ela queria dizer que sim, não havia outra resposta. Era algo tão certo quanto dois mais dois são quatro. Mas antes que essa palavrinha sibilada escapasse de sua boca, ela pôde ouvir um barulho agudo, chato, insistente e... familiar. Foi puxada impiedosamente para a realidade, afastada daquele abraço, privada daquele calor pelo som do maldito despertador.

Gemeu em protesto ao perceber que aquele corpo macio sobre o qual estava apoiado nada mais era que o seu colchão e que aquilo que tocava levemente sua orelha era a fronha do travesseiro. Virou de bruços e puxou o travesseiro de modo a cobrir seus ouvidos, numa tentativa desesperada de abafar o som irritante e mergulhar novamente naquele sonho cujas sensações ainda persistiam, frescas em sua mente.

Então arregalou os olhos, finalmente desperta. Tateou o criado mudo e apanhou o celular, silenciando-o. A compreensão do que tinha sonhado enfim atingiu-a como uma bofetada certeira em sua face. Sentou-se, esfregando os olhos e gemendo, lamentando-se como uma criancinha mimada. Tinha sonhado com Lauren? Tinha sido abraçada por ela e sentira-se perfeitamente bem por isso? Tinha se deliciado com aqueles sussurros ao pé do ouvido - só a lembrança já eriçava os pêlos loiros de seu braço - e derretera-se, desmanchara-se nos braços da outra?

Esfregou o braço com fúria tentando livrar-se da sensação. O que teria acontecido se não tivesse sido acordada pelo despertador? Teria implorado para que Lauren entrasse em sua vida? Bendito despertador!

Pôs-se de pé com uma determinação que não combinava nada com as oito horas da manhã de sábado. Precisava de um banho, urgente! Estava com nojo de si mesma como nunca tinha sentido antes. Correu para o banheiro e ligou o chuveiro. Despiu-se dos shorts e entrou debaixo d'água. Aquilo sim era reconfortante. Muito mais do que braços... femininos. Mas ainda não conseguia parar de reviver os detalhes do sonho enquanto se lavava.

Green Eyes - Camren (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora