Se eu tivesse desistido.

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Nunca consegui pensar em meu futuro sem ao menos entrar em desespero e ficar com medo, já que tudo o que sonhamos, nem sempre acontece, e nada na vida sai como planejado. Houveram momentos em que eu pensei em desistir. Desistir e fugir. Já até me peguei desejando ter nascido um gato e levar a mesma vida boa que ele tem.Mas aí, aos 12 anos eu fiz a minha primeira viagem sozinha, de avião. Se eu tivesse desistido, não teria visto o Paraná de cima, e me encantado com as nuvens ali, tão perto. Lembro que fiquei emocionada, e quase chorei. Mas escondi o meu rosto bem rapidinho, para que ninguém pudesse ver. Aos 13, descobri o meu amor pela escrita. Se eu tivesse desistido, não iria nunca experimentar ter todos os meus sentimentos em uma folha de caderno. Aos 14, descobri um lugar na praia que têm duas árvores, perfeitas para amarrar uma rede e passar a tarde. Se eu tivesse desistido, não teria nenhuma das tardes em que passei lendo ali, ou olhando o céu e ouvindo o som do mar. Com a mesma idade, eu terminei um livro que foi publicado na escola em que eu estudei desde o ensino fundamental, se eu tivesse desistido eu não teria escutado tantos elogios e recebido tanto incentivo para continuar. Se eu tivesse desistido, não ia mais comer tapioca, uma goma com gosto de pouca coisa e que eu gosto de comer com manteiga derretida. A tapioca de minha mãe, no café da tarde, e quando pequena, a tapioca do metrô que você tinha a opção do recheio que quisesse. Gosto de dizer que as pessoas tem cores, e eu tenho uma flor amarela em minha vida. Uma melhor amiga apaixonante, que irradia luz. E se, por um acaso eu tivesse ousado desistir, não teria dormido em sua casa, e acordado com o seu café e pão quente que me trouxe na cama, assim como faz mesmo depois de nove anos de amizade. Conforme os anos iam passando, eu me tornei fã do Stephen King, Charles Bukowski e Edgar Alan Poe. Amante da música clássica e, principalmente, a dos anos 90. Se eu tivesse desistido, nunca saberia como é dançar ao som de cada uma delas. Somos formiguinhas em uma imensa floresta. E se eu tivesse desistido, e fugido para qualquer lugar, eu nunca conheceria a pessoa que me tornei. Nessa imensa floresta, eu me perdi e me reencontrei incontáveis vezes. Mas agora, além de ter me reencontrado, o mais importante é que eu me reconheci. Já não quero mais desistir, nem fugir. Quero ficar, e saber que a vida apenas é.

Fragmentos de um (des)conhecido eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora