Um pedido de desculpa.

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Nos últimos anos, o que mais tenho feito é pedir desculpa para tudo e todos. Eu peço desculpa por pedir desculpa, mas nunca pedi desculpa para mim mesma. Nunca me perdoei por coisas que nem tenho culpa. Sou uma dessas pessoas que ama falar sobre o amor próprio, sobre o poder da auto-aceitação. Sou a pessoa que sempre estende as mãos, e me desloco pelo bem-estar dos outros. Mas nunca fiz nada disso por mim. 

Gosto de acreditar que o primeiro passo é reconhecer isso. O segundo, é analisar todos os momentos ruins, e situações em que você se meteu, mas na verdade não merecia. 

Eu não devia ter chorado em frente ao espelho, completamente nua, enquanto me perguntava o porquê de eu ser tão diferente de outras garotas. Porque meus seios não são menores? Porque eu tenho estrias? Porque as minhas bochechas são tão grandes? Porque minhas pernas são tão grossas? Porque a minha barriga é tão estranha? Porque eu sempre fiz um discurso sobre algo que nunca consegui praticar comigo mesma?

Por muitas vezes, senti falta de mim. Senti falta da garota feliz que amava o que via. Lembro-me de uma vez, que enquanto escutava Verklarte Nacht e girava pela sala, vibrei com a ideia de que poderia dançar balé. 

"Com essas cochas grossas? Desse jeito?"

Eu parei de girar, e me sentei. Eu nunca mais ouvi essa música, pois até hoje eu lembro de como os violinos pareceram desafinados enquanto eu olhava para as minhas cochas. Eu tinha oito anos. 

"Você não acha que está gorda demais? Abaixa essa blusa, essa barriga aparecendo...".

Dez anos.

"Nossa, é bizarro como os seus seios são tão grandes para o seu tamanho". 

Treze anos.

Eu dancei comigo mesma, nua. Toquei cada parte de meu corpo, tentando mostrar a mim mesma que como eu sou, é algo único. Eu chorei em todas essas vezes. Chorei quando me viram nua pela primeira vez, chorei após ter ido na praia e ter ficado completamente vestida. Cada momento, em que não me aceitei, me levaram a momentos dos quais nunca mereci passar. Escutei coisas das quais não eram verdades, mas absorvi como uma esponja enorme. 

Eu ouvi que era difícil de ser amada, e que lidar com a tempestade que eu sou, era a coisa mais complicada que alguém poderia fazer. Chorei após pedir desculpas por algo que não fiz. Chorei enquanto corria, cega e perdida, pensando que um dia eu acabaria sozinha e abandonada. Chorei encolhida na cama, ás quatro da manhã, sem conseguir dormir. Me acostumei a me olhar no espelho e enxergar um rosto pálido, e com olheiras profundas.

 Eu queria poder dizer, e acreditar, que tudo o que acontece na nossa vida, a gente pode aprender a lidar de forma rápida. Mas não é verdade. Demorei para deixar de ser a esponja que absorve tudo, para me tornar a peneira que filtra somente as coisas boas. Demorei para compreender que a cada dia que passa, me desculpo das formas mais gentis possíveis. 

Tenho entendido mais que sou especial de minha maneira. Nos dizem que devemos nos amar, e nos aceitar, mas não nos ensinamos como. Mas a questão é essa: o amor próprio não pode ser ensinado. São gestos sutis, que nos mostram que estamos no caminho certo. Quando nos abraçamos no meio de uma crise, e sussurramos que vai ficar tudo bem. Quando dedicamos um dia todinho para mimar a si mesmo, e compreender que dias ruins sempre aparecem, e tá tudo bem. Quando deixamos de nos olhar baseado no que disseram no passado, e nos olhamos de forma curiosa e cautelosa, gravando cada parte que nos torna nós mesmos.

A verdade é que nascemos sozinhos, e nos tornarmos inimigos de nós mesmos é o pior crime que existe. O amor próprio é o processo mais lento e doloroso que existe. Só nessa caminhada, já chorei tanto que seria capaz de acabar com a seca. Mas o importante é continuar seguindo, mesmo que apareçam pedras

e espinhos

o importante é continuar seguindo. Por que eu sei que um dia, vou me achar tão linda externamente, que vou tentar parar de provar que a beleza interior é mais importante que tudo. E vou simplesmente me aceitar como sou, e aí consequentemente conhecerão partes tão belas em mim, que vou sorrir orgulhosa por conhecer cada uma delas também. 

Porque se amar também é se conhecer. E se você se conhece, não vai ter quem queira dizer o que tu tens que ser. 


Fragmentos de um (des)conhecido eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora