Fragmentos de um (des)conhecido eu.

Oito de março.

É oito de março, e recebemos flores e parabenizações por sermos mulher. Mas no decorrer do ano, somos mortas, espancadas, violadas e xingadas. 

Parabéns para nós, que mesmo quando pequena, ao sair na rua em um dia quente, com roupa de verão, ouviu coisas nojentas e assobios na rua, vindo de homens que tinham idade para ser seu avô. Parabéns para nós, que conseguiu chegar viva em casa, mesmo com medo da rua escura que tem que passar. Parabéns para nós, que não abaixa a cabeça quando é assediada na rua, e muitas vezes bate de frente com o assediador. Parabéns para nós, que temos que repetir toda hora e todos os dias que não sempre vai significar um não. Parabéns para nós, que temos conquistado a cada dia mais o nosso espaço. Parabéns para nós, que seguramos a mão uma da outra. Parabéns para nós, que resistimos. Parabéns para as 126 mulheres que resistiram, nessa mesma data, em 1911, mas infelizmente as calaram de forma brutal. Parabéns para as 15 mil mulheres, que em 26 de fevereiro, de 1909, foram para as ruas de Nova York. 

Somos fortalezas, e olhar para todas as que vieram antes de nós, é compreender que muitas lutas foram ganhas, mas ainda existem tantas para ganharmos para as que virão. A luta é árdua, e diária, mas nós somos história. Nós somos vida.