Carta ao findável eu

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Escrevo isso entre idas e linhas, com as mãos trêmulas. Pois a caneta em minha mão sempre pareceu um revólver carregado. Carregado de palavras silenciadas e sentimentos guardados.  O ato de escrever, é revelador e íntimo. Como se eu me despisse na frente de todos, e mostrasse todo o meu corpo, num ato descarado de compreensão e reconhecimento. Em cada vírgula e em cada frase, tem um pouco do meu eu derramado e entregue. 

Escrever é o ato mais reconfortante para comigo mesma. Pois se antes eu acreditava que tudo poderia se resolver após eu me esconder no canto de meu quarto, e ficar encolhida pensando em como tudo era mais fácil, quente e aconchegante quando eu estava no útero de minha mãe, e hoje em dia tudo parece ser tão frio e superficial. No momento em que me ponho a escrever eu tenho a convicta certeza de que tudo é real. Eu sou real, e estou viva. 

E, como disse Bukowski: "Escrever é quando vôo, escrever é quando começo incêndios. Escrever é quando tiro a morte do meu bolso esquerdo, atiro-a contra a parede e a pego de volta no rebate.". 

Eu costumava escrever cartas para mim mesma, pedindo para que de alguma forma eu pudesse me avisar se tudo uma hora ia ficar bem. E ao ler cada uma delas, é quando me pergunto por quantas mudanças mais eu vou ter de passar. Não reconheço mais quem fui ontem, então quem diabos eu serei amanhã? Haverão dias em que eu só quero gritar para que o mundo todo me ouvir e me conhecer. Para ver se alguém me compreende. Mas existem os dias em que eu só quero ser compreendida sem falar um "a" e ser notada sem precisar aparecer. 

Será que ainda desejarei ser eu amanhã? Pois a minha mente é um turbilhão. Eu penso tanto e parece que pensar é como uma praga. Eu penso, penso até mesmo sobre não querer pensar tanto e me questiono se o ato é como uma punição de algo que já fiz.

Penso sobre como as vezes eu me sinto quebrada. Mas não estamos todos? Ninguém é inteiro. Todo mundo se quebra, ou é quebrado por alguém. Eu mesma me quebro, acredito eu, por criar tantas expectativas, amar demais e falar de menos. Pois quem sente tanto, sempre se quebra. E eu sinto muito. 

Mas, se estamos todos quebrados, isso não acaba sendo algo bom? Por que, então, como uma luz entraria? 

Fragmentos de um (des)conhecido eu.Onde histórias criam vida. Descubra agora