IV

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- quarto capítulo -

1817 palavras;

Eu encarava a porta a minha frente como se aquela decisão fosse mudar minha vida toda. Luhan havia me feito prometer que eu frequentaria essa psicóloga, e faria o que fosse necessário para melhorar.

Já havia passado por isso enquanto ainda estava nos EUA, porém, depois de uma recaída tudo havia piorado novamente, e eu havia desistido de frequentar qualquer coisa do tipo. De certa forma, aquilo estava ajudando um pouco dessa vez, mas sempre era uma tortura saber que eu teria que lembrar de muitas coisas das quais havia me obrigado a esquecer. De novo, e de novo.

Geralmente Luhan me acompanhava, pelo ou menos até o momento em que eu precisava entrar naquela sala, mas hoje era um dia diferente. Sehun estava vindo definitivamente para a Coreia depois de terminar seus estudos, e eu não seria egoísta de obrigar Luhan a vir comigo até aqui, ele já estava louco de saudade do namorado, e eu não poderia fazer isso com ele.

Um tempo já havia se passado, e eu já estava melhor o suficiente para começar trabalhar, precisava colocar em prática aquilo pelo que eu tinha colocado tudo a perder. Estava assumindo algumas pequenas causas de empresas - Luhan ajudou um pouco nisso - e tudo estava correndo... Bem. Só dependia do ponto de vista.

Eu estava cada vez mais quebrado, mas havia prometido a mim mesmo que não preocuparia mais meus amigos, nem minha mãe que eu agora mal via... ela ligava para Luhan raramente, para saber se eu ainda estava vivo.

Eu viveria feliz como eles esperavam, mas isso não queria dizer que tudo estava bem, porque não estava. Eu só havia me acostumado a fingir muito bem, a ponto de enganar talvez a mim mesmo. Era o que eu queria.

Eu realmente queria melhorar, eu queria meu passado de volta, mas as coisas não são tão simples. Não era algo que eu poderia controlar, as coisas simplesmente acontecem, e muitas vezes a gente não pode controlar nem mesmo como reagimos aquilo.

E mais uma vez eu entrei por aquela porta, contei sobre como estavam sendo meus dias, contei como havia melhorado e me sentia feliz com isso... Mesmo que não fosse verdade. Tinha que ser assim.

Eu estava morando sozinho agora. Luhan se negou a me deixar ir até o último momento, mas eu não poderia ser dependente dele para sempre, porque, isso significava ser forte vinte e quatro horas por dia, e bem, eu não era.

Eu estava cansado das pessoas se preocupando comigo, porque estando preocupados comigo eles se afundavam também. Eu arrastava todos ladeira abaixo, pra um buraco que eu nem mesmo sabia como sair.

Não sabia mais quem eu era, não sabia mais do que eu gostava, não sabia mais do que eu não gostava. Eu aceitava tudo, estava de acordo com tudo, porque eu realmente não me importava, e ter que lidar com a minha própria existência a cada dia era meu pior castigo... Pior do que isso era não poder acabar com tudo, porque eu sabia, eu sabia que acabando com tudo eu estaria levando alguém junto, e eu não queria ver mais ninguém sofrendo, mesmo que fosse de algum outro plano.

Cheguei em casa sem nem mesmo reparar o caminho, meu corpo trabalhava no automático, era realmente como se eu fosse um robô. Se não fosse pelo buraco em meu peito, que sangrava a todo momento, eu definitivamente seria só um robô. Mas robôs não tem sentimentos, robôs não sentem.

Era como se a cada dia eu tentasse colar os pedaços do meu coração, mas eu colava os pedaços nos lugares errados, e isso só piorava tudo a cada novo nascer do sol.

Abri a geladeira, observando um pedaço de torta do dia anterior. Luhan havia deixado ali com um bilhete carinhoso, 'se alimente bem e fique saudável baek', mas eu não tinha fome. Mesmo assim arrisquei a dar uma garfada depois de colocar o prato sob o balcão, a cada movimento que meu maxilar fazia para mastigar aquilo parecia que o ar iria me faltar, e eu realmente não consegui comer.

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