Ingênua

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Os dias que seguiram após Meliodas me contar sobre os dez mandamentos, foram estranhamente calmos.

Sem encontros inusitados com o irmão do loiro, ou com qualquer outro dos mandamentos. Foi como se eu nunca tivesse encontrado nenhum daqueles guerreiros, era bom poder andar sem ter medo de esbarrar com qualquer um deles por acaso e acabar em outra crise de Meliodas.

Sinceramente, ainda não estou pronta para enfrentá-lo novamente, na verdade, ainda questiono a mim mesma de onde tirei coragem para fazer algo tão estúpido como aquilo. Assim como acabou tudo bem - deixando de lado o machucado inexistente em meus pulsos depois de algumas horas e o desmaio graças ao miasma - , poderia ter acabado de uma forma muito grave.

Acho que eu realmente deveria confiar em Meliodas, apesar de seu descontrole, ele ainda de controla.

Contraditório, não?

Nos dias que seguiram, notei que Meliodas ainda é um enigma para mim, com suas variações de humor e jeito de agir, são na maioria das vezes, interligados. Há dias que sua seriedade é assustadora e também há dias de sorrisos fáceis.

Sua complexidade, é sem dúvidas, o mais atraente.

~×~

- O que você está fazendo?! - Exclamo segurando em seu braço, no intuito de tentar parar seja lá qual for a idéia maluca de Meliodas.

- O que foi? Nós só vamos andar por aí.

- Meliodas, é loucura sairmos por andando juntos por qualquer lugar.

- Belealuin é segura, Elizabeth.

- Ainda sim acharão estranho um demônio e uma deusa andando juntos.

Ele dá de ombros e em seguida sorri divertido, deslizando a mão para minha cintura.

- Ou eles podem achar que você é minha prisioneira.

Reviro os olhos e ele ri baixinho, provavelmente imaginando a reação dos moradores da capital.

- Vamos, eu protejo você de qualquer coisa.

Suspiro dramaticamente e balanço a cabeça concordando.

- Tudo bem, vamos logo conhecer Belealuin.

A cabana onde ficamos, é em uma área mais afastada do centro da aldeia, o que nos oferece um pouco mais de segurança. Caminhamos cerca de dez minutos, com Meliodas cochichando para mim sobre os humanos, já que alguns deles olhavam de forma assustada ou até diferente para nós.

Um garoto loiro com uma marca negra cobrindo quase toda sua testa e uma garota de asas e pupilas diferentes, com certeza não eram vistos todos os dias.

Demônio e Deusa.

Era engraçado de uma forma muito estranha pensar que, cada vez menos eu esquecia sobre os avisos dado por Nerobasta a respeito do clã dos demônios. Quanto mais tempo passo com Meliodas e conheço sobre ele, questiono se realmente Nerobasta tinha razão ao dizer que demônios são cruéis e frios, afinal, Meliodas não parece querer se alimentar da minha dor ou sofrimento.

O que conhecimento da meu clã têm sobre este clã é extremamente limitado, nos livros nem sequer citam os demônios de elite!

- Estão nos olhando estranho - Murmuro para ele após passamos por um grupo de humanos.

- Claro, suas asinhas brancas imaculadas chamam bastante atenção.

- Ou talvez porque uma deusa e um demônio estão agindo como amigos?

Meliodas para de andar e olha por cima do ombro, observando rapidamente um grupo de pessoas que cochicham sobre nós. Um sorriso surge nos lábios dele e eu arregalo os olhos quando o mesmo passa o braço e me segura pela cintura.

- O que está fazendo?

- Dando a eles o que falarem - Ele arregala os olhos - Aquele demônio corrompeu a pureza da pobre deusa, fujam!

Seguro a vontade de revirar os olhos e apenas belisco o torso de sua mão que no momento estava em meu quadril. Ele apenas franze o cenho e puxa a mão, caminhando normalmente enquanto perdida em meus devaneios apenas o acompanho no automático.

Como um demônio poderia corromper pureza de uma deusa?

Entediada encosto minhas costas na parede fria do quarto e observo minhas mãos por longos minutos.

O que Meliodas falara mais cedo ainda rondava meus pensamentos me deixando desorientada.

Isso realmente poderia acontecer?

- Elizabeth!

- O que? - Pisco algumas vezes ao notar o loiro ajoelhado na minha frente.

- Você está bem?

- Por que pergunta?

- Você ficou quieta de repente.

Ele murmura sem desviar o olhar do meu.

- Ah - Ruborizo constrangida - Não é nada.

Ele cerra o olhar e se senta ao meu lado, agarrando imediatamente minha asa esquerda para acariciá-la.

Para alguém que implicava com minhas asas até pouco tempo, era estranho vê-lo assim agora.

- Meliodas...

- Hum?

- O que quis dizer com corromper a pureza de uma deusa?

Ele ergue a cabeça e me encara por alguns minutos, sem esboçar reação e em seguida ri baixo enroscando seus dedos entre as penas de minha asa.

- Você é ingênua e inocente demais - Ele move a cabeça para os lados.

Permaneço em silêncio por alguns minutos e em seguida estalo a língua no céu da boca.

- Por que não me responde?! - Reclamo e ele agarra minhas bochechas com apenas uma mão, apertando-as o suficiente para que eu faça biquinho, mas não para machucar.

Assisto ele se aproximar e pressionar sua boca na minha por apenas alguns segundos. Meliodas se afasta e me olha nos olhos, sorrindo de lado.

- Eu corrompo sua pureza cada vez que te toco desta forma.

Sorrio calma para ele.

- Cada vez que sorri assim eu sinto uma fisgada estranha em meus corações, que feitiço colocou em mim, deusa Elizabeth?

- Corações? - Pergunto surpresa.

- São sete no total e no momento todos estão batendo por você - Meliodas sorri maliciosamente e volta a acariciar minhas asas

Por que mesmo sendo assustador saber que ele tem sete corações, o meu bate tão forte assim?

Sorrio e esfrego as mãos no rosto ao sentir minhas bochechas arderem.

- Eu tenho somente um... - Murmuro - E no momento ele está batendo bem forte por você.

- É ótimo saber disso.

~×~

Meliodas revelou que têm sete corações, foi assustador saber disso, já que só tenho um.

Anoto no caderno e o escondo novamente no quarto antes de ir embora, o loiro já tinha ido há um tempo.

~×~

Animadamente faço o caminho já conhecido até a área mais afastada de Belealuin e sorrio ao ver a cabana familiar.

Jogo o cabelo para trás do ombro e empurro a porta, meu sorriso some e a respiração fica presa na garganta quando vejo uma menina sentada na cama, o livro que escondi no quarto flutuando a sua frente.

Os olhos cor de âmbar me observam atentos e ela sorri maliciosamente ao cruzar os braços sobre o peito, inclinado a cabeça para o lado o que uma mecha de seu cabelo escuro cair sobre a testa.

- Eu estava pensando quem seria tão ingênuo a ponto de deixar um livro com informações tão importante assim sobre o clã dos demônios em um lugar como esse. Não é do feitio das deusas se encontrarem com demônios, estou certa?

Droga.

O que eu fiz?

My DemonOnde histórias criam vida. Descubra agora