Nós

9

Agatha observou mais uma vez o oitavo teste de gravidez que havia feito naqueles dias, desde que a possibilidade se tornou real em sua mente. Oito testes, oito marcas diferentes e oito positivos, ela não tinha mais dúvida de que alguém crescia ali. Estava ficando cada vez mais difícil esconder de Rodrigo os enjoos frequentes, as tonturas e a vontade de chorar que surgia do nada. E sem falar no sono exagerado que vinha sentindo, que não conseguia esconder, e tão pouco explicar.

Tinha perdido a conta de quantas vezes esteve prestes a contar para ele, mas seu coração acelerava tanto que ela desistia, e nisso já fazia quase uma semana que ela já sabia que aquele bebê estava ali, que já o amava com tudo que havia em sí, mas que lhe faltava coragem para contar ao namorado, e as palavras dele ainda ecoavam em sua cabeça 'É cedo demais!'Ela ouviu o barulho de chave na porta e respirou fundo, ele andava chegando tarde nos últimos dias, apesar dela saber onde ele estava e com quem, sua insegurança não a deixava em paz.

-Amor? -Ele sorriu quando a a vistou sentada no sofá.

-Hey... e como foi lá?

-Foi bem. Só faltou você. O pessoal tá perguntando porque você anda negando os convites para sair...

-Estou cansada, você sabe como é esse inicio de novela...

-E por que é que eu não acredito em nada disso? Você está estranha e não é de hoje, o que está acontecendo com você? -Ele se sentou ao lado dela no sofá.

-Nada amor, que besteira. Tá tudo bem, eu só não tenho ficado muito animada para sair. Mas eu vou da próxima vez...

-E porque é que você não consegue dizer isso olhando nos meus olhos? Agatha...

-Não tá acontecendo nada Rodrigo... que insistência, eu já disse que está tudo bem...

Ele suspirou passando as mãos pelos cabelos os desarrumando, ele sabia que algo estava acontecendo, conhecia aquela mulher como a palma de suas mãos.

-Certo, eu vou tomar um banho okay? -Ele beijou a testa dela e caminhou até seu quarto.

Agatha observou ele se afastar, a ideia de contar a ele que esperava um bebê lhe causava pânico, tinha tanto medo de perdê-lo, de se perder sem ele. Sabia que Rodrigo não a abandonaria sozinha com uma criança, mas o desespero batia quando pensava que tudo o que eles haviam construído até ali podia sumir em  questão de segundos, porque 'era cedo demais".

Caminhou devagar até o quarto deles e respirou fundo assim que entrou no cômodo, uma hora as coisas precisariam acontecer, afinal ela não poderia esconder pra sempre que ali crescia alguém. Pegou a caixa escondida no fundo de seu armário e a abriu, ali estavam todos os testes de farmácia que havia feito, todos com o positivo mais que claro, e em um deles ainda dizia que já faziam 12 semanas que não estava mais sozinha.

Ele saiu do banheiro passando a toalha por seus cabelos, chegava a ser injusto como alguém podia ser tão lindo daquele jeito, ela nunca cansava de admirá-lo. Teria sorte se aquele bebê puxasse pelo menos o sorriso do pai.

-Já tomou banho? -Ele perguntou a observando e sorriu ao vê-la assentir.

-Queria te mostrar uma coisa... -Ela disse sentindo sua respiração descompassar e o nó em sua garganta crescer.

-Mostra... é algo sobre o trabalho novo? -Ele perguntou se sentando de frente para ela na cama.

-Não... -Ela coçou a nuca, desistindo de segurar as lágrimas que lutavam com ela para serem libertadas.

-Hey... amor, o que foi? -Ele secou o rosto dela com carinho e suspirou.

-Eu sei que... sei que você tinha me falado que tínhamos tanta coisa para viver...

-Tínhamos? Nós temos Agatha... o que está acontecendo?

-Desculpa, eu não fiz de propósito... -Ela soluçou e entregou a caixa a ele.

Rodrigo pegou o objeto das mãos trêmulas da mulher e respirou fundo, ele não sabia aonde ela queria chegar com tudo aquilo, seu coração batia descompassado com as milhões de possibilidades que sua cabeça havia criado, ele a conhecia bem o suficiente para saber que aquele choro predizia alguma coisa séria. Com todo o cuidado do mundo abriu a caixa em suas mãos, ele tinha certeza que a bagunça daqueles pequenos objetos não era maior que a que se formava em sua mente agora. Um deles lhe chamou a atenção: 

"Grávida: 12 semanas"

-O que é isso? -Não era essa a pergunta que ele queria fazer de fato, mas ele precisava ouvir dela.

-Eu não fiz de propósito...

-Diz pra mim Agatha... fala pra mim...

-Eu estou grávida... eu estou esperando um bebê seu... -Ela disse rápido, ela melhor que fosse assim.

-Grávida... porra eu vou ser pai... -Ele já reunia todos os testes em suas mãos, e apreciava cada positivo como se fosse um tesouro, ele seria pai.

-Eu sei que é cedo demais e que a gente tinha tanta coisa pra viver mas...

-Shhhhh eu vou explodir de felicidade aqui, amor, você acabou de me fazer o homem mais feliz de todos os mundos... -Ele riu e a abraçou apertado.

-Mas você disse que... que não queria ser pai agora...

-Olha pra mim... -Ele segurou o rosto entre suas mãos. -Eu disse porque você queria assim, e nós somos assim... livres. Mas amor, ser pai de um filho seu, é o maior tesouro que eu poderia ter na vida...

Ela tinha certeza que agora as lágrimas que caíam de seus olhos eram de felicidade, alívio, alegria e amor. Ela tinha tirado um peso de suas costas naquele instante, e o universo havia lhe dado um dos momentos mais preciosos que poderia viver.

-Deixa eu falar com ele, ou ela... o que você acha que é? -Ele riu e levantou a blusa que ela usava, colando seu ouvido na barriga dela.

-Um neném?

-Ai amor... -Rodrigo rolou os olhos e deixou um beijo ali. -Eu já te amo tanto coisinha... o papai tá que não se aguenta viu, se eu pudesse explodir já teria explodido.

-Fala pra ele que eu não quero mais vomitar amor...

-Ouviu a mamãe? Sua mamãe, se você for só metade parecida com ela, eu tô ferrado.

-Parecida?

-É... eu acho que vai ser uma menina. -Ele sorriu e a puxou para seu colo a abraçando.

-E você vai saber lidar com ela? Quer dizer, você sabe que elas crescem e arrumam namoradinhos né? E assim como eu arrumei um Simas, ela pode arrumar também...

-Shhh, ela nem nasceu. Para com isso. -Ele riu e segurou o rosto dela a fazendo fitá-lo. -Promete que não vai esconder mais nada de mim?

-Prometo... eu tive tanto medo...

-Eu odeio ver você angustiada... eu passei uma das piores semanas da minha vida vendo essa insegurança nos teu olhos. Eu te amo Agatha, só coloca isso na sua cabeça de uma vez por todas. Estamos juntos, pra sempre!

-Eu não vou esconder nada... nunca mais. Nem de você e nem do nosso neném...

-Nosso... -Ele sorriu e passou a distribuir beijos pelo rosto dela. -Obrigado por me fazer o homem mais feliz do universo. Primeiro por ter você, e segundo por me dar um filho.

-Sou sua Simas... como nunca fui de ninguém. E tudo o que vier de mim, você pode ter certeza que vai ser pra você, ou por você!

-Podemos comprar um par de sapatinhos para contar pra minha mãe? -Ele riu

-Claro que sim... mas vamos contar com calma que vai ser duro pra ela receber a notícia que ela só estava esperando daqui a dez anos...

-Parece que eu quebrei mais uma vez uma das suas metas ein...

-Se não, não seria você... -Ela riu. -Eu te amo tanto... Obrigada por ser tudo o que eu preciso.