4 - Janela

457 31 86
                                    

"Onde estava, maldito?"

Ernesto acordou pela segunda vez naquela noite. O último encontro com o pai o atormentava. Desejava do fundo do coração que o casamento de Fani fosse adiado, mas de que adiantaria? Estava feito.

Doze dias atrás

- Papà, o que faz aqui?

- Por acaso agora tenho que pedir permissão para vir a minha própria casa?

- Não esperávamos o senhor. Onde está Mamma?

- Sente-se, Ernesto. – Gaetano indicou uma cadeira. – Nicoletta está a descansar. Disse a Maria para não chama-la.

Sem saber como reagir, Ernesto se sentou. Xavier, cujo olhar demonstrava desprezo, permanecia em pé e calado. Ernesto podia jurar que via um sorriso debochado no rosto do amigo de Virgílio.

- Você bem sabe que nunca pensei em ti para tomar o meu lugar na Pricelli Tranding. Graças a inveja que tinhas de Virgílio, o meu filho se foi e hoje não me resta outra alternativa a não ser nomeá-lo para a presidência. Estou velho e cansado. Portanto, após o casamento de Fani você se mudará para São Paulo e comandará a empresa.

O moreno não podia ouvir tudo aquilo calado. Sabia que essa hora chegaria, mas esperava, primeiramente, tomar conta da mãe. Além do mais, havia um bom grupo de acionistas caso Gaetano decidisse se afastar por um período. Estava fora de cogitação assumir, de imediato, algo que nunca almejou na vida.

- Não posso. – disse finalmente.

- O quê?

- Não posso, Papà.

- Vais me desobedecer novamente, Ernesto?

- Conforme conversamos em São Paulo, neste momento quero estar perto da Mamma. – Ernesto escolhia as palavras com cuidado. – Assim que ela terminar as sessões de quimioterapia, prometo que irei assumir o meu lugar na Pricelli Tranding.

Gaetano caminhou em direção ao bar e serviu-se de uma boa dose de uísque.

- Parece que você não entendeu, Ernesto. Não estou lhe dando opção. Ou faz o que estou mandando ou irá sofrer com as consequências. E, preste bem atenção, Ernesto, dessa vez você não conseguirá fugir como fez anos atrás.

- Achas que pode me forçar a fazer algo? Não sou mais um moleque. Sou homem e dono de mim.

- Então esta é a tua última palavra? – Gaetano falava calmamente, causando estranheza em todos os presentes.

- Sim, Papà. Assumirei a empresa após o tratamento de Mamma finalizar.

- Ótimo.

- Ótimo?

Nesse momento Ernesto percebeu Xavier a rir, vangloriando-se de algo.

- Sim, maldito. Como insistes em me desobedecer, informo-lhe que a partir de hoje você foi deserdado. Não terás mais o direito de viver em qualquer propriedade Pricelli, não receberá mais mesada e as contas bancárias, bem como todos os cartões estão bloqueados. Além disso, após a festa do casamento de Fani, deverá deixar a fazenda.

Num impulso, Ernesto avança em direção ao pai, na tentativa de agredi-lo. Xavier o impede de seguir em frente. Estava fora de si.

- Não podes fazer isso. Não tens esse direito! Mamma não permitirá.

- Realmente não és digno de usar o meu nome, Ernesto. Vou dizer-lhe algo importante, portanto, ouças com bastante atenção: se quiser continuar a ver a sua Mamma, cumprirá o que determino. Xavier – após comando, o homem se aproxima dos dois, trazendo consigo uma pasta e retirando de lá alguns papéis e entregando-os a Gaetano.

Amoris et FideiOnde histórias criam vida. Descubra agora