6 - Recomeçar

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"O coração de uma mulher é como um oceano profundo cheio de segredos."

A frase do filme Titanic não poderia ser mais adequada para tudo o que Ema estava vivendo desde a segunda partida de Ernesto. Após deixar a Fazenda Ouro Verde, na manhã seguinte ao casamento de Fani e Edmundo, Ema correu em direção à cachoeira e por lá ficou até anoitecer na esperança de ele aparecer. Não teve fome nem sede. Ao retornar para casa, não teve sono nem vontade de viver.

Sentia-se tão vazia quanto se sentiu depois do enterro da mãe. Nada mais fazia sentido.

Passaram-se horas; as horas se converteram em dias; os dias em semanas; semanas em meses. Ninguém sabia sobre o paradeiro de Ernesto e quem sabia não iria lhe dizer. O aniversário de vinte e cinco anos não poderia ter sido pior, pois na tentativa de animá-la, Aurélio organizou uma festa. Ele sabia que Ema, desde a morte da mãe, odiava comemorar o aniversário. Aurélio tentava em vão entender o que se passava com a filha.

No dia seguinte ao casamento ele a viu sair de casa perto do meio dia e só a viu retornar depois das vinte horas. Estavam todos desesperados, a ponto de chamar a polícia. Ema chegou em casa molhada, fria, com um olhar inconsolável, mas sem dizer uma mísera palavra.

E meses depois mal se ouvia a voz da jovem em casa. Ema não conversava, não demonstrava o menor interesse por nada nem ninguém. Devido ao desânimo, foi despedida por dona Eugênia. Além do mais, somente deixava a casa para o imprescindível. Até mesmo o bebê de Camilo e Jane não foi capaz de animá-la. Parecia que Ema somente existia.

Luccino tentou, em vão, visita-la inúmeras vezes, mas sempre ouvia de Julieta que a amiga não podia recebe-lo.

- Julieta, esta é a décima vez que Luccino vem aqui e Ema se recusa a recebe-lo. – Diz Aurélio fechando a porta de casa. – Estou cogitando leva-la ao médico. Minha filha parece que morreu. O que aconteceu naquele casamento, Julieta? Ela lhe disse algo?

- Marido, sabes muito bem que Ema não me confidenciou nada. Mas tenho uma leve suspeita.

- Ernesto? - ele pronuncia o nome com desprezo - Ouvi comentários na Fazenda Ouro Verde que os dois ficaram de namorico durante a festa.

- Não dê ouvidos a fofocas, Aurélio. Quantas vezes terei que avisá-lo?

- Apenas não desejo ver o nome da minha filha na boca desse povo fofoqueiro.

- Meu amor, o que podemos fazer a respeito? Nada. Também fico triste ao ver o estado de Ema.

- Deve haver uma solução! Maldição!

- Sim, e há! Irei intervir, Aurélio, mas tens que me prometer que acatarás e me apoiarás em tudo.

Desconfiado, Aurélio demora em responder.

- Anda Aurélio, prometa-me!

- Prometo.

- Ótimo! Passe o telefone para mim, por gentileza.

Três dias após o telefonema, Julieta decidiu que mudaria sua atitude para com Ema. A enteada era uma pessoa maravilhosa, mas ela, como madrasta e amiga, jamais se permitiria a jovem naquele estado de letargia. Alguém precisava salvar Ema de si mesma.

- Ema, acorde! – Julieta adentra ao quarto, acende a luz e abre as janelas. – São nove horas e está na hora de acordar.

- Não me enche, Julieta. Hoje não. – Responde cobrindo à cabeça com o edredom.

- Anda, anda, anda logo! Olha a bagunça que está este quarto! Misericórdia!

- QUE SACO! ME DEIXA, INFERNO!

Amoris et FideiOnde histórias criam vida. Descubra agora