Vale do Café, 2019
Ernesto não imaginou que retornaria tão cedo ao Vale do Café. Há oito anos deixou o Brasil sem pensar muito nas consequências de suas atitudes. O pai, Gaetano Pricelli, importante empresário ítalo-brasileiro, não admitia que o filho, seu herdeiro, não assumisse os negócios da família e ainda o culpava pela morte precoce de Virgílio. Desde a morte do filho mais velho de Gaetano e Nicoletta, cabia a Ernesto assumir a presidência da Pricelli Trading, a maior empresa de exportação/importação da América Latina e a oitava maior do mundo.
Os Pricelli, uma das famílias mais ricas do Brasil, nunca esconderam sua preferência pelo Vale do Café, pequena cidade do interior paulista. Ali o nonno Ernesto Pricelli, no início do século XX, construiu um império exportando café para o mundo e, desde então, a família mantém uma grande fazenda, a Fazenda Ouro Verde, que agora seria novamente o seu lar por tempo indeterminado devido à doença da mãe.
Pensando em tudo que aquele retorno lhe reservava, Ernesto desembarca do carro que o buscou no aeroporto de Guarulhos/SP. Preferiu vir de carro a pegar o helicóptero da família, uma vez que queria adiar ao máximo aquele reencontro.
- Ernesto, que bom vê-lo. - grita Luccino, o caçula dos Pricelli.
- Luccino, me dê um abraço, meu fratello querido.
Os dois se abraçam forte após anos sem se verem pessoalmente. Ernesto evitava qualquer contato com a família desde a terrível briga que teve com o pai.
- A Mamma ficará eufórica em revê-lo. Não sabes o quanto sentimos saudades tuas.
- Não vamos falar disso, Luccino. Tive meus motivos.
- Motivos bobos, fratello. Papà é daquele jeito. Ele não mudará, tens consciência disso, não?
- Sim, eu tenho. Mas desde a morte de Virgílio...
- Ele nunca superará. Era o filho preferido dele, pois eram iguais.
- Você sabe que ele me culpa, não sabe, Luccino?
- Fratello, você tentou impedi-lo, não tentou? Virgílio nunca ouvia ninguém, era como o Papà. Ele colheu o que plantou e somente ele é culpado pelo que aconteceu.
- E ainda por cima machucou o seu Afrânio e tirou a vida da mãe de Ema. Jamais esquecerei a dor que vi nos olhos da baronesinha.
- Ema está melhor, te garanto. Mas não a chame de baronesinha, pois sabes muito bem que ela odeia esse apelido maldoso que você colocou nela.
Ambos riem enquanto caminham para dentro do casarão. Ernesto se lembrava da época em que eram crianças e ele apelidou a filha arrogante do tratador de cavalos de "baronesinha", devido à peça da escola em que ela interpretou a esposa do Barão de Mauá, este que foi interpretado por Luccino.
Já reinstalado em seu antigo quarto, Ernesto se recorda do dia que foi acordado pelo pai aos gritos e insultos, o dia mais terrível de sua vida.
"Maldito! Acorda, seu maldito!"
"Papà, o que foi?"
"Você não é mais meu filho, maldito! Você matou o meu bambino. Virgílio está morto e a culpa é toda sua."
Ele jamais poderá esquecer a dor que viu nos olhos do pai aquele dia. Gaetano, conhecido pelo jeito implacável nos negócios e pela falta de tato e carinho com a família, era um homem sem chão no fatídico dia da morte de Virgílio, que também foi o dia da partida de Ernesto.
- Figlio mio, você está de volta!
- Mamma! Ernesto a abraça forte, buscando naquele abraço apagar a distância de oito anos.
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Amoris et Fidei
FanficJá imaginaram como seria a história do casal Ema e Ernesto nos dias atuais? Então venham imaginar comigo. Contém conteúdo adulto. Os personagens pertencem à Rede Globo de Televisão e ao autor Marcos Beirnstein.