7 - São Paulo

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Quem poderia imaginar que ela estaria ali no mesmo apartamento que ele após todos os meses que atormentavam Ernesto? Deixar a fazenda Ouro Verde havia sido difícil, principalmente pelo estado de saúde da mãe. Porém, deixar Ema naquela manhã meses atrás havia sido ainda mais difícil. Quando ele tomou a decisão de partir para a cidade de São Paulo, ficar com Ema e ter um gostinho do que eles poderiam ser não estava em seus planos. Definitivamente! Todavia, ela estava tão linda e tão leve naquele casamento que ele não resistiu aos encantos da sua baronesinha. Ernesto riu com os pensamentos... Ah, como ela era linda e havia ficado ainda mais ao se tornar adulta.

As incontáveis noites que passou no apartamento foram agridoces quando ele se lembrava dos beijos e carícias trocadas na pista de dança. Banhos frios não ajudaram; os encontros foram um fiasco, pois ele só pensava nela. Ficou tentado em retornar diversas vezes. Chegou a discar o número dela somente para ouvir o som da voz de Ema, porém desistia antes de efetuar a ligação. Covarde, pensou. Bem sabia ele que permanecer no Vale não seria seguro, então, decidiu que ir para São Paulo seria melhor para todos, inclusive para a família Cavalcante.

Voltando a situação atual, como ele poderia imaginar que a mulher na qual estava pensando momentos antes no longo frio banho que tomou, poderia se materializar na sua frente? Ao vê-lo, Ema se virou e saiu rapidamente do quarto. Ele reparou no olhar, primeiramente surpreso, e depois extremamente magoado.

Deitado em sua cama, às 3h da manhã, com a porta trancada, Ernesto se recorda...

Horas atrás

"- Ernesto?!?!"

"- Ema!!!"

Ernesto cobre as vergonhas, desesperado e sem entender o que se passava. Ema sai do quarto em direção à sala. Ele veste uma bermuda e vai atrás dela. Em pé, andando de um lado para o outro, Ema tenta falar com alguém pelo celular.

- Atende logo! Saco! Merda, merda, merda.

- Para quem você está ligando? Ema... me escute, eu...

- CALA BOCA, ERNESTO! NÃO QUERO OUVIR A SUA VOZ!

- Dá para falar baixo? Porra! Tá tarde já e os vizinhos podem ouvir.

Captando a mensagem e sem vontade de fazer um escândalo no primeiro dia em São Paulo, Ema baixa o tom de voz.

- Está bem! Agora me deixa.

- Tá ligando pra quem?

- Não é da sua conta!

- É sim! – Em vão, Ernesto tenta tirar o celular da mão dela, porém Ema é mais ágil e consegue escapar – Ninguém no Vale pode saber que estou aqui.

- Grande merda, Ernesto. Nesse momento tô pouco me lixando para você e seus problemas. Só quero sair daqui. Anda Camilo, me atende, porra!

O telefone de Camilo está na caixa-postal e Ema para de insistir. Ernesto se senta na poltrona na esperança de ela se acalmar.

- Merda! Merda! Merda! E agora? – A voz e os gestos apressados demonstravam que Ema estava esgotada. - O porteiro pode me chamar um táxi! Sim!

Ernesto, ainda sem conseguir raciocinar, levanta-se e se coloca na frente dela, impedindo-a de se dirigir até a porta.

- Ema, me escuta!

- Saia da minha frente, Ernesto.

O olhar e o tom eram ameaçadores, ele notava. Ema não estava brincando.

Amoris et FideiOnde histórias criam vida. Descubra agora