12 - Um

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Qual seria a sensação de morrer? Ela abriu os olhos bem devagar, e viu uma forte luz branca iluminar o cômodo. Cada pedacinho do corpo doía. A sensação era de ter sido atropelada por uma manada sem misericórdia.

Por um momento questionou-se onde estava, pois não se lembrava de nada. Um lençol fino cobria-lhe o corpo, então percebeu a nudez.

Não havia porta no quarto, notou. De longe podia ouvir o som das ondas do mar se quebrando. Lembrou-se então de estar em um barco, lembrou-se de fortes ondas atingindo a embarcação. Lembrou-se do rosto de Ernesto sorrindo para ela.

A cabeça começou a latejar por conta das memórias. No post mortem também se podia sentir dor? Considerou que não, assim, só havia uma resposta para tudo aquilo: estava viva.

De onde estava ouviu passos apressados. Instintivamente quis se esconder. Engoliu seco pela expectativa até que Ernesto cruzou o limite entre os cômodos e veio o encontro dela, ajoelhando-se ao lado da cama.

- Finalmente você acordou, baronesinha. - disse com a voz doce acariciando uma das mãos dela. - Tive tanto medo.

- Então, não estou sonhando? É você mesmo, Ernesto?

O italiano se inclinou mais para perto dela e beijou-a na têmpora.

- Sou eu mesmo, baronesinha. Não estamos sonhando. - percebendo que ela queria se levantar, ordenou - Fique deitadinha. Você ficou quase dois dias desacordada. Tem sede?

- Tenho. Muita!

Ernesto saiu do quarto por alguns minutos e voltou com as mãos ocupadas com um coco verde e um canudo.

- Beba. Vai se sentir melhor.

Ema se ergueu a fim de sentar na cama. Sem se importar, o lençol caiu revelando a nudez dos seios. Por um momento o olhar de Ernesto vagou pela beleza que era Ema, mas voltou a focar na situação. Não queria que ela se sentisse assediada estando em recuperação.

- Bom, eu vou lá fora pegar os peixes que pesquei e...

- Ernesto - interrompeu-o segurando-lhe uma das mãos - Não há nada aqui que você já não tenha visto. Relaxe.

Surpreso pela reação dela, perguntou cuidosamente:

- Você não está aborrecida porque tirei as suas roupas? Entenda que era preciso...

- Eu sei. Não é necessária qualquer justificativa sobre me desnudar.

Encabulado com o rumo da conversa, Ernesto deixou-a tomando a água de coco e foi cuidar dos peixes.

Ema terminou de se hidratar e tentou se levantar da cama. Colocou as pernas para forma, uma de cada vez, e foi persistente para ficar em pé. Quando conseguiu, deu alguns passos para frente e se apoiou na parede. Observou uma outra porta que julgou ser um banheiro. Ao entrar nele, viu-se no reflexo do espelho acima da pia. Estava extremamente pálida. Fechou a porta para usar o banheiro, depois ligou o chuveiro para tomar banho. Graças aos céus tinha água quente. Ensaboou-se e lavou os cabelos. Deixou a água correr  para massagear o corpo.

Quando saiu, notou em cima da cama uma roupão felpudo. Ah, Ernesto... Vestiu-o e foi procurar o seu salvador. A casa onde estavam era pequena, mas bem mobiliada. O singelo relógio na parede marcava um pouco mais de quatorze horas. A porta da pequena sala era a principal, e quando Ema a cruzou,  ficou embasbacada com a vista da praia de águas cristalinas.

Será mesmo que não havia morrido e ali era o paraíso dela e de Ernesto? Riu com a conjectura.

- Do que está rindo? - perguntou Ernesto, curioso, saindo da mata com vários pedaços de lenha nos braços. Estava sem camisa e com uma simples bermuda cor bege.

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