10 - Verdades

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[...]

Num espasmo de lucidez ele se afasta repentinamente. O que estava fazendo, afinal? A queria com cada célula do corpo, mas não daquele jeito. Não sem dizer toda a história.

- Ernesto? - pergunta confusa.

- Não posso fazer isso, Ema. Não seria justo com você - Ele se levanta da cama e a mira nos olhos. - Não sem antes lhe contar toda a verdade.

[...]

O clima antes recheado de paixão e de luxúria se quebra. Ema está confusa. De que verdade ele está a falar?

- Eu não entendo, Ernesto. - Levantando-se da cama, vai até ele, coloca as mãos em seu rosto e tenta beijá-lo, mas ele se afasta. - O que está acontecendo? Fala comigo, merda!

Ernesto se senta na beirada da cama e coloca as mãos no rosto, tampando-o, como se quisesse se esconder de tudo e de todos; se esconder do passado doloroso. A aflição por não entender nada toma conta de Ema. Estava a ponto de se entregar a ele, e agora temia que o amado tivesse mais uma crise como a de noites atrás. Resolvendo agir em vez de pensar, pegou a blusa amassada e a vestiu. Os pudores, antes deixados de lado, retornaram para sufocá-la.

Ela fica em pé próximo à porta a espera de respostas. Droga, droga, droga! Será que ele tinha se arrependido de tudo? Será que ao beijá-la, ao prová-la com a boca, ele se deu conta do quanto ela poderia ser inadequada para ele? Afinal, era uma Cavalcante pobre, sem classe, sem experiência, em busca de qualificação tardia.... Não! Não se permitiria pensar daquela forma! Não iria se comparar a ninguém. Ernesto nunca agiu como se tivesse vergonha dela.

Respirando fundo, e decidindo tentar mais uma vez, Ema vai até ele e se abaixa até que ficassem na mesma altura. Faz carinhos nos cabelos dele a espera de respostas.

- Ernesto, o quê não seria justo comigo? O que você quis dizer com isso?

- Em alguns dias irei deixá-la, Ema. E será para sempre.

Ela o mira confusa. As palavras ditas por Ernesto parecem outro idioma que desconhece.

- Como assim, Ernesto? Do que você está falando?

O rapaz se levanta abruptamente. Os ombros estão caídos. A vergonha está estampada em seu rosto. E o medo também.

- Estou sendo ameaçado de morte pelo meu pai. Preciso sair de São Paulo e desaparecer. Não posso permitir que minha mãe enterre outro filho, entende?

Ema sentiu uma pontada no coração com as palavras do amado. Iria perdê-lo novamente? Mas que merda de vida era aquela? Há alguns minutos se julgou estar no céu, e agora via um buraco se abrir sob si.

- Por que o seu pai quer que você morra? Isso não tem cabimento, Ernesto! - Ema se levanta também e caminha até a janela. - Eu sei que ele nunca te tratou bem. Mas matar você? A troco de quê?

- Baronesinha, se eu te confidenciar isso, você teria que desaparecer comigo. Teria que deixar tudo e todos que ama. Isso por acaso é vida?

- Não. - responde ela por fim. - Mas Ernesto...

- Não há "mas", Ema. Já está tudo preparado. Irei partir em cinco dias. - tomando coragem, ele se aproxima dela e lhe pega as mãos, mirando-a diretamente nos olhos. - Você poderá permanecer aqui. Não haverá problemas futuros, eu garanto.

Ema se desvencilha de Ernesto. Quanta insanidade!!!! A jovem sorri devido ao desespero. Ele estava falando sério?

- Então é isso? Você vai embora e fim? - Ema abre os braços mostrando indignação. - Iria me contar caso não estivéssemos a ponto de fazer amor? Ou na quinta iria deixar um bilhete de despedida? Mas você é avesso à despedidas! Como eu fui tola. - Ema bate com a mão na testa.

Amoris et FideiOnde histórias criam vida. Descubra agora