Capítulo 02

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Um bip-bip-bip incômodo foi a primeira coisa que Valentina percebeu quando recobrou a consciência. Ela estava deitada, aparentemente em um hospital, mas não se recordava muito bem de como havia parado ali. Ao abrir os olhos e se acostumar com a claridade, se deparou com Juliana sentada numa cadeira ao lado de sua cama. Ela havia encostado a cabeça no colchão, próximo ao braço de Valentina, e ressonava suavemente, indicando seu estado adormecido. Para a surpresa da mais velha, a morena também estava segurando firmemente a sua mão esquerda.

A visão fez algo se aquecer dentro dela, a sensação de ser cuidada depois de tudo o que aconteceu acalentou seu coração e instintivamente ela apertou a mão que segurava a sua. Foi então que caiu a ficha. Tudo o que aconteceu. O homem que surgira do nada quando estava indo até o seu carro. Que a arrastara até aquela parede, tampando sua boca, e tratara de rasgar suas roupas. O momento que a mão dele escorregara e ela gritara por ajuda. A pancada na sua cabeça quando ele a empurrara fortemente contra a parede para que se calasse. Juliana dando um murro nele. Ele derrubando Juliana. Elas chutando o homem até que ele fugisse.

Cada lembrança fazia com que se agitasse novamente. O bip-bip-bip da máquina conectada ao seu corpo aumentou gradativamente, bem como o aperto no único ponto que era sua conexão com a sanidade naquele momento: a mão de Juliana. Logo a morena despertou com a pressão e se virou para Valentina, encontrando seu rosto banhado em lágrimas.

- Hey, não fica assim. Tá tudo bem agora, não precisa se preocupar mais. - Ela se levantou rapidamente e levou a mão livre ao rosto de Valentina, secando suas lágrimas delicadamente. Aquela podia ser uma das pessoas que lhe menosprezava diariamente, mas Juliana não conseguia vê-la chorar daquele jeito sem que seu coração se partisse.

Valentina respirou fundo, tentando se acalmar. A delicadeza com que Juliana secava suas lágrimas, assim como o carinho que fazia em sua mão, fizeram despertar novamente a sensação de estar sendo cuidada que lhe acalentava.

- Desculpa, eu tô a maior bagunça...

- Não precisa se desculpar. Eu sei que o que você está passando não é fácil, mas está segura agora.

- Eu sei. Obrigada. Por tudo. Não sei o que teria acontecido se... - uma nova onda de lágrimas desceu, sendo mais uma vez aparadas pelos dedos de Juliana.

- Shhh, não pensa mais nisso. Tenta descansar agora. Eu vou chamar a médica, ela disse que queria te ver quando acordasse. - Juliana tentou se afastar, mas Valentina a puxou pela mão.

- Espera. E você, como está? - perguntou, fixando os olhos azuis nos cor de chocolate da morena. Mais uma vez, Juliana ficou surpresa com o quão expressivos eles haviam se tornado. Era um pouco estranho se deparar com esses olhos azul-piscina de repente, depois de anos sendo quase que invisível para eles.

- Eu estou bem. Não me machuquei seriamente, só precisaram fazer um curativo no lábio e desinfetar um corte na mão. - Respondeu, dando um meio sorriso para tranquilizar a outra.

- Que bom. Não queria você machucada.

- Pode ficar tranquila, tá tudo bem - deu mais um aperto de leve na mão de Valentina antes de finalmente soltá-la. - Eu já volto.

Minutos depois Juliana adentrou o quarto acompanhada de uma médica e uma enfermeira. Enquanto a segunda tratou logo de ir checar a conexão de Valetina com as máquinas e a dosagem do medicamento sendo administrado por via intravenosa, a médica se dirigiu à paciente com uma expressão amigável.

- Boa noite, Valentina! Sou a Dra. Callie Torres. Fui a primeira a prestar socorro assim que você chegou e devo dizer, você tem muita sorte. Não é toda amiga que faz por alguém o que Juliana fez por você. - Nessa hora Valentina e Juliana trocaram um olhar. Amigas não era bem o termo certo para definir as duas, nem conhecidas seria adequado. Ainda assim, não seriam elas que iriam corrigir a médica.

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